Capítulo 5
A semana seguinte passou em uma sequência de olhares roubados, encontros "acidentais" forçados e diálogos tensos e carregados. Billy Hargrove não desistia. Uma vez que sua curiosidade (misturada com aquela atração confusa e irritante) era despertada, ele se tornava implacável. Alex, por sua vez, encontrava Billy em todos os lugares: escorado em seu armário, aparecendo no estacionamento depois da aula, ou apenas cruzando seu caminho pelos corredores com aquele olhar intenso.
Alex manteve a compostura, retrucando os comentários de Billy com sarcasmo afiado ou simplesmente ignorando-o de forma estudada, o que parecia irritar Billy ainda mais. Mas, por baixo da fachada, Alex estava começando a entender que a persistência de Billy não era apenas bullying; era algo mais complicado. Ele estava sendo observado, estudado. E, por mais estranho que parecesse, a presença constante de Billy, embora irritante, adicionava uma camada bizarra à sua própria investigação. Era como ter uma sombra barulhenta.
Enquanto isso, Hawkins estava ficando... doente. Boatos na escola e na cidade falavam sobre campos apodrecendo, colheitas morrendo da noite para o dia. Animais estavam agindo estranhamente, cães latindo para o vazio na escuridão. E Will Byers, que voltou no ano passado, parecia... diferente. Alex notou tudo isso, arquivando as informações em sua mente como peças de um quebra-cabeça perturbador que ele ainda não conseguia montar.
Uma tarde, alguns dias depois da conversa na quadra, Alex estava pedalando sua bicicleta perto da borda da cidade, onde os subúrbios começavam a dar lugar a campos e pequenas florestas. Ele havia ouvido falar sobre os campos de abóboras que estavam morrendo de forma inexplicável. Era o tipo de anomalia que se encaixava perfeitamente em sua teoria de que algo fundamentalmente errado estava acontecendo em Hawkins.
Ele parou a bicicleta onde a estrada de asfalto terminava e a terra começava, descendo e apoiando-a em uma cerca de arame farpado.
Olhou para o campo adiante, onde fileiras e mais fileiras de abóboras estavam marrons, murchas e apodrecendo de uma forma nojenta, como se uma doença agressiva tivesse passado por ali. O ar estava estranhamente frio, apesar do sol pálido.
Alex pegou seu pequeno caderno e caneta, anotando o que via, a data, o quão extenso era o estrago. Era anti-natural. Assustador.
Foi então que o familiar barulho alto de um Camaro se aproximando quebrou o silêncio relativo do campo. O carro parou bruscamente na beira da estrada de terra, levantando poeira. Billy Hargrove saiu do carro, batendo a porta com força. Ele usava uma camiseta regata que mostrava os músculos dos braços, jeans e óculos escuros, apesar do sol fraco. Ele o observava, o olhar intenso.
"O que você tá fazendo aqui?", Billy perguntou, a voz ligeiramente áspera pelo cigarro que estava entre os dedos. Ele se aproximou da cerca, parando a poucos metros de Alex.
Alex fechou o caderno, sem parecer surpreso com a aparição de Billy. "Poderia perguntar a mesma coisa, Hargrove. Tirando uma soneca no meio do nada?"
Billy ignorou a alfinetada. Seus olhos percorreram o campo apodrecendo, depois voltaram para Alex, que, mesmo ali no meio do campo, ainda se destacava com seu estilo escuro e os piercings. "Por que você tá aqui? O que tá olhando?"
Alex hesitou por um momento. A curiosidade nos olhos de Billy era genuína agora. Não era apenas sobre Alex; era sobre o que Alex estava interessado. Ele decidiu testar as águas.
"Isso", Alex disse, gesticulando para o campo arruinado com a cabeça. "Você viu isso antes? Campos de abóboras apodrecendo assim, da noite para o dia?"
Billy seguiu o olhar de Alex para as abóboras mortas. Ele franziu a testa. "Vi por aí. Achei que fosse alguma praga." Ele deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas havia uma ponta de desconforto em sua voz. Aquele tipo de coisa não acontecia.
"Não é uma praga", Alex retrucou, categórico. "É rápido demais. É... doentio. Como se a terra estivesse morrendo." Ele olhou para Billy, um olhar penetrante. "Assim como aqueles caras que morreram na escola. E o garoto que voltou estranho."
Billy encarou Alex. A associação forçada entre o campo apodrecendo e os mistérios do ano passado o pegou de surpresa. Ele não tinha ligado os pontos. Mas agora que Alex falou, uma sensação incômoda começou a crescer em seu estômago.
"Você acha que... tá tudo ligado?", Billy perguntou, a voz mais baixa, a bravata diminuindo. A ideia era absurda, mas a calma e a seriedade no rosto de Alex o impediam de descartá-la completamente.
Alex assentiu lentamente, olhando para o horizonte sombrio. "Eu acho que há uma escuridão por baixo dessa cidade, Hargrove. Algo que não devia estar aqui. E está começando a se espalhar." Ele olhou para Billy. "As abóboras são só mais um sintoma."
Billy ficou em silêncio por um longo momento, olhando para o campo apodrecendo, depois para a borda escura da floresta, sentindo um arrepio que não tinha nada a ver com o frio. Ele odiava a sensação de não estar no controle, de não entender. E Alex, aquele cara irritante e intrigante, parecia entender alguma coisa que ele não entendia.
"Por que você se importa?", Billy perguntou, voltando a atenção para Alex, tentando encontrar uma razão lógica para a obsessão de Alex com aqueles mistérios.
Alex deu de ombros, fechando o caderno. "Talvez porque eu não goste de viver em uma mentira.
Ou talvez porque eu já tive que lutar contra coisas que ninguém mais via. Não sei." Ele olhou para Billy, um vislumbre de seu passado transparecendo por um segundo. "Sei que quando as coisas não fazem sentido, geralmente é porque alguém está escondendo a verdade."
A menção a "lutar contra coisas que ninguém mais via" tocou em algo em Billy. Ele não entendia completamente, mas soava... familiar. A ideia de lutar batalhas invisíveis.
Billy ainda estava processando tudo isso – o campo morto, as palavras de Alex, a sensação crescente de que havia algo real e perigoso por trás das teorias. E, claro, a presença de Alex, que o desestabilizava de maneiras que ele não conseguia articular.
"Então...", Billy começou, a voz hesitando, incerto sobre como continuar essa conversa estranha. "O que você vai fazer sobre isso?"
Alex guardou a caneta. Ele olhou para o campo, depois para Billy. Um pequeno sorriso enigmático brincou em seus lábios.
"Ainda não sei", Alex respondeu, a calma voltando. "Mas vou descobrir. E você, Hargrove? Vai continuar me seguindo ou vai encarar o fato de que talvez eu esteja certo?"
A pergunta era um desafio, não agressivo, mas direto. Colocava Billy em uma posição onde ele tinha que escolher entre sua negação e sua crescente curiosidade. Ele odiou ser manipulado assim, mas odiou ainda mais a ideia de ficar de fora, sem entender.
Billy olhou para Alex, a fúria lutando com a intriga em seus olhos. A tensão entre eles ainda era palpável, mas agora estava tingida com uma nova, estranha, cumplicidade relutante. Ambos estavam à beira de um mistério que ia muito além das paredes da Hawkins High.
Ele não respondeu imediatamente. Apenas ficou ali, observando Alex, o campo apodrecendo às suas costas como um lembrete sombrio de que o mundo que eles conheciam estava começando a se desintegrar.
[Continua no próximo capítulo...]
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Atualizado até capítulo 66
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