Lara Croft armada

O terror da minha vida começava agora. E eu ainda nem sabia o nome dela.

Sentei no sofá da sala, com o controle remoto na mão, apertando os botões como se aquilo fosse me dar respostas. Canal por canal, passando rápido, voltando, indo de novo. Estava inquieto. O Sr. Lee tinha me avisado que hoje chegava o novo reforço. Segurança particular. Pessoal.

— Ótimo — murmurei, bufando.

Mais um brutamontes de dois metros andando pela casa como um armário ambulante. Já estava acostumado. Todo mundo que contratavam era igual. Corpo de armário de aço, voz grossa, e o carisma de uma porta fechada. Me seguiam até no banheiro se deixasse. Eu só queria paz. Queria música. Queria treinar, compor, dormir. Só.

O som da porta se abrindo ecoou. Meus dedos apertaram o botão do controle com mais força. Senti o suor nas palmas das mãos. Vai ver era o jet lag da turnê, ou só meu corpo tentando me avisar que alguma coisa ia dar errado.

— Jungkook, chegamos — disse a voz familiar do Sr. Lee, alto, tranquilo como sempre.

Virei o rosto. E vi o inferno pessoal entrando na minha casa.

Ela. Uma mulher. Não. A mulher. Pele bronzeada, cabelo escuro e ondulado, olhos verdes que cortavam o ar. O tipo de olhar que te deixa nu sem tocar em nada. Corpo forte, malhado, cintura fina, e um salto que colocava ela exatamente na minha altura. Quase cara a cara. Mulher Maravilha misturada com lutadora de MMA. E com uma cara de quem atira primeiro e pergunta depois.

— Você é o segurança novo? — soltei, antes que meu cérebro pudesse filtrar a frase. — Não sabia que mandavam modelos agora.

Ela me lançou um sorriso. Sério. Frio. Quase debochado. Meu estômago revirou.

— Não sabia que protegiam bebês com babá agora — ela respondeu, a voz firme, sem hesitação.

Engoli em seco.

Sr. Lee entrou no meio dos dois, como sempre fazendo papel de pai e bombeiro.

— Sentem. Tenho algumas coisas pra explicar.

Sentei. Ela sentou. Cruzou as pernas como se fosse dona da sala. Ou talvez fosse da minha alma agora. Sei lá.

— Seguinte — começou o Sr. Lee. — A mídia não pode saber que você está sob proteção. Já é complicado o bastante depois do último incidente. A desculpa é que uma amiga de infância veio visitar você por uns tempos. Amiga antiga. De colégio. Vocês têm fotos juntos, montadas, claro. E ela vai morar aqui.

— O quê? — soltei. — Morar aqui?

— Exatamente. Vai ficar com você 24 horas por dia. Casa, agenda, treino, estúdio. Tudo.

— Você só pode estar brincando comigo.

— Jungkook, não é brincadeira. Você sabe o nível da ameaça que está rondando. Isso não é mais só coisa de stalker. E ela... — ele olhou pra ela — ...é a melhor que temos.

A mulher cruzou os braços. Braço com veia, ombro trincado, aquele tipo de físico que não era só bonito. Era funcional. Letal.

— Ela vai dormir onde? — perguntei, ainda tentando entender o absurdo.

— Quarto de hóspedes. Porta ao lado da sua.

— Perfeito — murmurei. — Agora tenho Lara Croft versão guarda-costas morando comigo.

Ela nem piscou.

O Sr. Lee levantou, deu dois tapinhas nas minhas costas e falou bem baixo no meu ouvido:

— Não esquece que você só tá nessa confusão porque se apaixonou pela pessoa errada. Agora, por favor, não se apaixone pela sua segurança pessoal.

Revirei os olhos.

— Eu vou tentar.

Mentira. Eu já sabia que não ia conseguir. Já tava perdido e a mulher só tinha dito três palavras.

Ela se levantou, pegou a mala que o motorista tinha deixado e começou a subir.

— O quarto é o da direita, segunda porta — Sr. Lee indicou.

Ela nem olhou pra trás.

Fiquei olhando ela subir a escada com passos precisos, postura firme, como se cada passo fosse uma ameaça.

Quando ela sumiu no corredor, eu respirei fundo. O ar parecia mais denso. Meu próprio corpo parecia querer correr atrás dela e mandar ele calar a boca.

Voltei a sentar no sofá. Encostei a cabeça. Droga.

— Bonita demais. Forte demais. E vai morar comigo — falei sozinho, passando a mão no rosto. — Eu tô fudido.

Os dias iam ser longos.

E eu já sabia que ia tentar beijar ela antes da primeira semana acabar.

Fim do capítulo.

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