Na tarde seguinte, às quatro e doze, Hanna já esperava na frente da biblioteca municipal com sua bicicleta encostada no parapeito.
O calor do verão tornava o ar pesado, mas havia algo em seu peito que a fazia flutuar. Ela havia passado o dia tentando não imaginar como seria aquele passeio mas falhou miseravelmente.
Quando viu Jared se aproximando pela rua principal, com os cabelos bagunçados, uma mochila pendurada no ombro e os tênis surrados batendo no asfalto quente, ela sentiu o estômago revirar.
Jared: "Lady Cooper , está pronta para guiar um forasteiro?"
Hanna:" Só se prometer que não vai me culpar se se perder na floresta" Ela sorriu.
Jared: "Já estou perdido, Hanna. Mas em um bom sentido."
Ela fingiu ignorar o comentário, mas o rubor foi impossível de esconder. Os dois caminharam lado a lado pela rua de paralelepípedo que levava ao limite da cidade, onde a floresta de pinheiros antigos começava a tomar conta da paisagem.
Hanna: " Essa trilha aqui leva até um lago escondido. Quase ninguém da escola vem, então é meio como um lugar secreto."
Jared: " Um lago secreto? Uma garota misteriosa? Isso tá começando a parecer um daqueles filmes que passam à meia-noite."
Hanna: "Só falta a trilha sonora." brincou ela.
Jared tirou um walkman da mochila e mostrou uma fita K7 com um adesivo rabiscado: Dark Mixtape Vol. I.
Jared: " Cure, Echo & the Bunnymen, Siouxsie… A trilha sonora está garantida."
Hanna: " Tá brincando? Essa é literalmente a minha mixtape favorita da vida. Tenho a mesma."
Jared: " Então somos almas gêmeas musicais. O universo está tentando me dizer alguma coisa, Hanna Cooper."
Ela apenas riu, um pouco envergonhada, e continuaram andando.
A trilha era estreita e levemente coberta por folhas secas. Raios de sol filtravam entre os galhos altos, pintando o chão com sombras oscilantes. O cheiro de terra, madeira e coisa antiga preenchia o ar. Havia algo naquela parte da floresta que parecia... parada no tempo.
Hanna: " Tem uma lenda sobre essa floresta (disse Hanna, enquanto eles seguiam) Dizem que uma mulher foi enterrada viva aqui, no século XIX. Dizem que ela ainda vaga por entre as árvores procurando o amante que a traiu."
Jared:" Uau. Isso é bem... poético. Você acredita nessas coisas?"
Hanna:" Acho que quero acreditar. Não sei. Às vezes é mais fácil imaginar que o mundo é mágico do que aceitar que tudo é só... o que é."
Jared assentiu, sério.
Jared: " Eu entendo. Eu sempre tive essa sensação de que algo... maior... me observa. Como se houvesse uma camada secreta no mundo, que só os que estão machucados conseguem ver."
Eles chegaram ao lago, finalmente. A água era escura, quase espelhada, cercada por pedras cobertas de musgo. Um velho tronco caído servia de banco natural. Eles se sentaram ali, e por um tempo ficaram apenas ouvindo o som dos pássaros e do vento entre as folhas.
Jared: Você é diferente, Hanna Não finge ser algo que não é. E eu acho isso raro."
Hanna: " Eu sou só... estranha."
Jared: " Não. Você é verdadeira.( Ele a olhou com intensidade, e então completou)...E é bonita também."
Hanna desviou os olhos, sentindo o coração bater mais rápido.
Hanna: " Você também é diferente. Não tem medo de falar as coisas. A maioria dos garotos que eu conheço só falam sobre carros, esportes ou... sei lá, coisas idiotas."
Jared: " Talvez eu só tenha aprendido a fingir menos depois que perdi algumas coisas importantes."
Ela olhou para ele, curiosa.
Hanna: " Como o quê? "
Jared hesitou, olhando para a água.
Jared: " Meu pai morreu no ano passado. Câncer. Foi rápido... e cruel. Desde então, nada parece certo. Como se o mundo tivesse quebrado por dentro."
Hanna tocou levemente o braço dele.
Hanna: " Sinto muito."
Jared: " Valeu. ( Ele sorriu triste) Mas talvez agora, com essa cidade velha, essa floresta bizarra... e você... as coisas comecem a fazer sentido de novo."
O silêncio voltou, confortável dessa vez.
Então, ele tirou os fones do walkman e colocou um lado nos ouvidos dela. A música começou , “The Killing Moon” do Echo & the Bunnymen. Eles ficaram ali, lado a lado, ouvindo, sem precisar dizer mais nada.
Naquele instante, Hanna teve a sensação estranha de que aquele momento estava sendo gravado em algum lugar além da memória , como se o universo sussurrasse que aquilo era apenas o começo… e que nem todos os amores precisam durar para sempre para serem eternos.
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Atualizado até capítulo 32
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