Mariá
Enquanto meu pai e minha mãe conversam com o pastor Paulo e sua esposa, meus olhos, que deveriam estar voltados para o chão — como fui ensinada —, se voltam discretamente para os dois.
Os irmãos.
Kael e Dylan.
Eles estão a poucos metros daqui, discutindo em voz baixa. Mas mesmo sem escutar, eu sinto... a tensão. O magnetismo entre eles e — por algum motivo inexplicável — comigo também.
Um frio me percorre o estômago. A forma como ambos me olharam há pouco... foi intensa demais. Como se eu fosse algo precioso, ou perigoso. Ou os dois. E agora, mesmo sem trocarmos uma palavra, algo pulsa dentro de mim. Algo que me assusta.
Por que eu sinto isso? Por que com eles?
Me odeio por isso. Por sentir coisas que não entendo. Me dá raiva. Me dá vergonha.
Neste momento, noto que a discussão entre eles se intensifica, ainda que contida. Dylan parece tentar segurar Kael, e Kael... Kael é um fogo prestes a incendiar tudo ao redor. Meus olhos querem fugir dessa visão, mas não conseguem.
PLOFT!
— Ai! Me desculpa! Eu devia ajustar melhor esses meus óculos...
A voz nervosa me puxa de volta à realidade. Um garoto magro, de óculos tortos e um balde de pipoca meio virado pra frente está parado diante de mim, o rosto completamente vermelho. Algumas pipocas ainda caem de sua camisa.
— Olha só... eu sou mesmo um Palermo! — diz ele, com um sorriso meio desajeitado, enquanto tenta limpar as pipocas do próprio peito.
E, contra todas as expectativas, pela primeira vez em muito, muito tempo...
...eu sorrio.
Não um sorriso treinado, disfarçado, daqueles que uso para acalmar meu pai ou agradar convidados. Mas um sorriso verdadeiro. Simples. Espontâneo. Por causa da forma estranhamente divertida e gentil desse garoto. Pela leveza com que ele existe.
É como se, por um instante, o mundo deixasse de ser uma prisão.
— Ah! Eu me chamo Léo — diz ele, ainda sorrindo, como se não soubesse que o mundo pode ser cruel.
Vou responder. Sinto minha voz querendo sair, pela primeira vez sem medo.
— Eu sou...
— Mariá! — a voz da minha mãe me corta como um chicote. Sua mão aperta meu braço com firmeza. — Vamos! Precisamos cumprimentar a senhora Matilde, garota!
Ela me puxa antes que eu consiga dizer mais uma palavra. Me viro para trás, e vejo Léo parado no meio do salão, ainda segurando o balde de pipoca, com um sorriso confuso no rosto.
Mas então percebo outra coisa.
Os olhos dos irmãos Moraes estão cravados nele. Fuzilando-o.
Não com ódio, mas com algo que parece... tensão. Instinto. Como se ele tivesse invadido algum espaço que eles consideram deles.
Meus olhos vão dos irmãos para Léo. E então de volta para os irmãos.
Uma confusão silenciosa toma conta do meu peito. Uma troca de olhares muda, mas densa. Como se estivéssemos todos conectados por algo invisível, estranho, que nenhum de nós entende completamente.
O que está acontecendo esta noite? Por que tudo parece estar mudando?
A única certeza que tenho é que depois disso... nada será como antes.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Maria Helena De Siqueira Siqueira
parabéns autora linda história
2025-06-11
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