Mariá
Já faz alguns minutos desde que eu e Nena voltamos do mercado. As sacolas ainda repousam sobre a mesa da cozinha, esquecidas, enquanto eu estou aqui, em meu quarto, andando de um lado para o outro como uma prisioneira aguardando sua sentença.
Meu pai ainda não chegou.
Mas a espera... a espera é sempre pior. Porque quando você sabe o que está por vir, cada segundo vira um tormento. É como caminhar em direção ao abismo, ciente de que vai cair.
E então, o som. A porta da sala se escancara com um baque que ecoa pela casa como um trovão. O coração dispara. Os gritos vêm logo depois — a voz dele cortando o silêncio como uma lâmina.
Seus passos... pesados, firmes, determinados. Ele está vindo.
Meus pés recuam instintivamente, tropeçam, e eu caio de costas no chão.
A porta do meu quarto se abre com violência. E lá está ele. Emiliano. Meu pai.
Mas o que mais me assusta não é o olhar injetado de raiva ou os dentes cerrados. É o que ele segura nas mãos: um pedaço de corda dobrado, grosso, manchado. Já usado antes.
— Quem eram aqueles homens, Mariá?! — ele ruge, como uma fera.
— Eu... eu não sei, pai. Eu juro que não sei! — respondo, já em prantos, a voz embargada pela dor e pelo pânico.
Ele avança.
— Então vamos ver se isso te ajuda a lembrar! — rosna, levantando o braço.
Atrás dele, Nena surge apressada, junto com minha mãe, ambas desesperadas.
— Não, senhor! Por favor! Foi só um acidente, um mal entendido! A menina não fez nada! — suplica Nena, com a voz embargada.
Mas ele já não ouve. Ele nunca ouve.
O braço desce.
O primeiro golpe é seco, como um corte no tempo. A dor vem rápida, ardente, a corda estalando contra minha pele como ferro em brasa.
Grito. Coloco os braços na frente do rosto, me encolho como posso.
— SOCORRO! Pai, por favor! Eu não fiz nada! Eu juro!
— Agora você pede socorro?! — ele grita, com os olhos em chamas. — Peça! Peça à vontade! Ninguém vai te ouvir! Eu sou a lei nesta casa! Eu sou a autoridade aqui!
— Emiliano, os vizinhos... por Deus, pare! — minha mãe tenta, em vão.
Ele não para. Só para quando o cansaço ou a fúria se dissipam por um breve instante.
Por fim, ele joga a corda no chão com desdém, o peito arfando. Olha para mim como se eu fosse um pedaço quebrado da mobília.
— Ninguém ajuda ela. Saiam. Agora.
Minha mãe hesita. Nena me lança um último olhar — olhos marejados, impotentes — e ambas deixam o quarto.
Ele se aproxima, abaixa o olhar para mim, caída no chão, e cospe:
— Esteja pronta às sete. Nossa família tem reputação. Não quero vexames na inauguração da oficina.
E então ele se vai, com a mesma fúria com que entrou.
O silêncio volta, mas agora ele pesa ainda mais. Fico aqui, imóvel, encarando o teto do meu quarto como fiz nesta manhã.
Mas agora tudo arde. Cada centímetro do meu corpo queima. Cada batida do meu coração parece um lembrete de que ainda estou viva.
E às vezes, isso dói mais do que qualquer golpe.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Jhujhu
Esse pai dela tem q sofrer da pior forma, como é q faz isso com uma filha, ele é um monstro
2025-05-25
1
Jane Silva
isso não é pai, pior que carrasco
2025-05-22
1
Erica Victoria
autora um capítulo só não está me ajudando tô ficando com muita ansiedade por mais
2025-05-20
3