A Roda Gigante

Andréa teria que reviver um pesadelo. Voltaria ao lugar que mais odiava, acompanhada de um homem perigoso. Ao final da sessão, Dante pediu que a doutora o levasse até o parque, prometendo mostrar o local exato onde estariam os restos mortais das vítimas. Dada a situação, parecia um pedido razoável. Após uma conversa com o tribunal, ela recebeu apoio total e autorização para visitar a cena do crime, desde que sob escolta policial.

Dois dias depois, com tudo planejado, Dante foi escoltado para fora da prisão em uma van blindada. Do lado de fora, os repórteres estavam alvoroçados, mas o rosto dele foi ocultado, e a retirada foi feita o mais rápido possível para evitar tumulto ou um desastre iminente. Dentro da van, Dante reencontrou quem mais desejava: Andréa. Dessa vez, ela não usava saia, mas uma calça social, salto discreto e uma blusa azul. Por cima, o jaleco branco com seu nome estampado no peito.

— Doutora — disse Dante, sorrindo e acenando com a mão direita. Parecia satisfeito, até mesmo feliz com a situação.

Andréa respirou fundo. Estava tensa. Dois policiais estavam sentados ao lado de Dante, mas ele ignorava completamente a presença deles. Seus olhos estavam fixos na mulher, principalmente em seus lábios carnudos. Não conseguia deixar de imaginar o sabor deles. Entregue a seus pensamentos mais obscenos, Dante riu de forma maliciosa, passando os dedos pelos próprios lábios.

— Está com um semblante mais descansado... Conseguiu dormir melhor? Sonhou comigo? — Ele havia feito a barba, arrumado o cabelo. Parecia mais jovem, como se tivesse se preparado para um encontro.

— Eu não sou do tipo de pessoa que tem sonhos — respondeu ela, fria.

— Cale a boca — disse um dos policiais, dirigindo-se a Dante com desprezo. — Já está me irritando.

Depois de alguns quilômetros, chegaram ao destino: o antigo Parque do Diabo. Quinze anos antes, fora um local famoso por proporcionar diversão a jovens e famílias. Agora, estava velho e abandonado. Os brinquedos estavam emperrados, enferrujados. O lugar exalava um ar sombrio — e para Andréa, sempre fora assim. Ali começara seu pesadelo. O parque despertava lembranças ruins. Já para Dante, parecia um retorno ao lar. Assim que desceu da van, vestindo uniforme laranja e colete à prova de balas, respirou fundo e gargalhou alto.

— Lar, doce lar! — disse em bom tom. — É tão bom finalmente voltar aqui.

Um policial o empurrou em resposta, como punição, mas isso não afetou seu humor.

Andréa analisava um mapa do parque com os policiais, discutindo os objetivos da missão e como alcançá-los. Iniciaram a caminhada, conduzindo Dante, que parou em frente à roda-gigante.

— Eu vou mostrar onde estão os corpos — disse com um sorriso torto. — Mas apenas para ela.

Apontou para Andréa, que estava a alguns metros de distância.

Ela suspirou, mas acabou concordando. Entraram juntos na roda-gigante, sozinhos. Dante havia alegado que só do alto conseguiria ver melhor o parque e indicar o local exato. Assim que a cabine alcançou o topo, Andréa fez um sinal para os policiais pararem o movimento. O silêncio entre os dois era denso. Cruzaram olhares, e a tensão psicológica cresceu.

— Foi aqui, não foi? — Dante agora estava sério. Havia finalmente tocado na ferida aberta de Andréa. — Foi aqui que ele te tocou pela primeira vez.

A psiquiatra começou a suar frio. Estremeceu. Por alguns instantes, Dante parecia ter vencido. Seu silêncio confirmava que ele estava certo.

— Seu pai não era tão perfeito assim, né? — ele disse, com uma ponta de decepção. — Só não entendo por que guardou isso com você por tanto tempo...

— Como... Como você sabe disso? — Foi um choque. Ela tinha certeza de que esse segredo estava guardado a sete chaves. Pretendia levá-lo para o túmulo.

— Você não é a única boa em deduzir.

— E você... por que aqui? — tentou mudar de assunto, recompondo-se. — Já sei. Foi sua primeira vítima, não foi?

— Exatamente. Minha irmã mais nova. Eu a joguei daqui de cima — ele engoliu seco e tossiu. — Quando minhas irmãs faziam 17 anos, minha mãe as forçava a trabalhar como ela trabalhava. Hanna era diferente. Tinha sonhos, era brilhante, inteligente... como você. O que fiz por ela foi um ato de piedade.

Pela primeira vez, Navarro parecia triste.

— Mas não pense que vou entregar as cabeças assim tão fácil...

— O que você quer agora? — perguntou Andréa, furiosa, mas ainda tentando manter o controle.

— Você está em uma situação complicada, doutora... — ele apontou para baixo. — Pediu uma equipe ao tribunal. Se sair daqui de mãos vazias, isso pode custar sua carreira.

— Fale logo o que quer — a voz aveludada de Andréa agora soava firme, agressiva.

— Sentir o seu cheiro...

A profissional se viu diante de um dilema ético. Analisou a situação e percebeu que havia sido fisgada. Balançou a cabeça, consentindo. O homem de maxilar definido trocou de lugar, sentando-se ao lado dela. Tocou seus cabelos longos e cacheados, hoje soltos, e os afastou com cuidado, expondo o pescoço fino. Com delicadeza — como se reconhecesse seu ponto fraco —, encostou o nariz avermelhado na pele macia e a cheirou. Não satisfeito, beijou o local... e então o lambeu.

Andréa estava de olhos fechados. Por mais que detestasse admitir, um arrepio percorreu sua espinha.

— Olhe pra baixo, princesa — murmurou Dante, tocando o rosto dela e fazendo-a olhar na direção do carrossel. — Atrás daquele carrossel, umas cinco árvores adentro na mata. Mande eles cavarem. Vão encontrar um baú. Nele está a sua recompensa.

Ele sussurrou em seu ouvido, o hálito quente ainda exalando em sua pele.

— Agora saia de perto de mim — disse ela, finalmente, com desprezo.

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Comments

juan carlos vasquez paredes

juan carlos vasquez paredes

Segue esse jeito! 🤗

2025-05-20

1

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