Capítulo 5

No sábado, o grupo de amigos decidiu acampar, assim como costumavam fazer na adolescência. A cidade era cercada por uma floresta com áreas de camping e trilhas muito bonitas. Era comum que os residentes de Seten aproveitassem as folgas acampando, pescando e descansando.

O clima estava agradável e fresco. Montar as barracas não era um problema para eles, que já estavam acostumados. Claude era sempre o mais proativo do grupo, o primeiro a se prontificar quando se tratava de ajuda manual, fosse para armar as barracas, consertar problemas no carro de alguém ou resolver algum defeito no encanamento. Max, por outro lado, estava sempre mais preocupado em animar e fazer piadas. Já Davi não era muito prestativo, pois, tendo crescido em uma família rica, sempre teve tudo pronto em suas mãos.

As garotas se contrastavam: Alice estava sempre disponível para ajudar, enquanto Ester permanecia indiferente, com sua clássica expressão de deboche. Os amigos já estavam acostumados e até achavam graça.

Depois de tudo arrumado, os amigos se sentaram em círculo e começaram a conversar enquanto bebiam e se aqueciam ao redor da pequena fogueira.

— Às vezes, quando tento lembrar daquele dia de Halloween, sinto que minha mente fica completamente em branco. Se me esforço ainda mais, começo a sentir enjoo. — disse Alice.

— Eu também senti algo parecido. Para ser sincero, fiquei com medo. — Max confessou, envergonhado.

— Não se preocupe, eu também sinto medo. Na minha memória, ele estava segurando uma faca com sangue. O que isso quer dizer? Nós nunca fizemos mal a ninguém, certo? — Claude titubeava.

— Claro que não, impossível. — Alice afirmou.

— Tem certeza? — Ester questionou, duvidosa.

— O que quer dizer?

— Eu seria capaz de matar se fosse para salvar minha própria vida, em caso de legítima defesa. E acho que os garotos concordam comigo. Não sei quanto a você, Alice.

Os amigos ficaram em silêncio, como se refletissem sobre a situação ou imaginassem uma circunstância extrema em que precisassem se defender com risco de vida.

— Então… Será que Luca matou alguém para nos salvar? — questionou Alice.

— Eu acho que não. Creio que não foi algo benéfico. De certa forma, minha lembrança é muito sombria. Além disso, ele espalhou segredos nossos. Não deve ser uma boa pessoa. — Claude estava convencido.

A conversa se tornava mais profunda, mas, de repente, o humor de todos mudou drasticamente. Claude acusou Max de não estar se esforçando para ajudar o grupo a fazer novas descobertas. Max se irritou e ambos começaram a discutir.

Quando os outros perceberam que eles não pareciam perto de encerrar a briga, simplesmente se afastaram, deixando-os sozinhos para resolver a situação.

De longe, escutavam Max afirmar que Claude era manipulador e fazia as pessoas agirem de acordo com seus interesses, usando os outros para benefício próprio. A declaração fez a discussão se estender ainda mais.

Alice se sentou perto das árvores, longe do barulho, e Ester e Davi se juntaram a ela. Ester observava o balançar das folhas, distraída e calma, enquanto Alice refletia séria.

— O que está pensando? — Davi quis saber.

— Nem queira saber!

— Por que não? Agora fiquei mais curioso.

— Estava pensando que nossos segredos, que demoramos tanto para enterrar, foram expostos de um dia para o outro… E, me pego lembrando do dia em que seu pai me humilhou durante uma festa, como se eu fosse um ser inferior.

— Você não disse que tinha superado isso? — Davi se surpreendeu.

— E desde quando superar é a mesma coisa que esquecer?

— Agora não é hora para isso. O que adianta discutirmos sobre isso depois de tanto tempo?

— Nada. Não faz diferença, nada vai mudar. Mas eu não posso lembrar? Não estamos tentando trazer de volta nossas lembranças do passado?

— Mas não esse tipo de lembrança. Estamos focando em lembrar de alguém que esquecemos. Se formos relembrar tudo que aconteceu no nosso grupo, vamos acabar entrando em discussões sem fim.

— Não estou falando do grupo. Estou falando de nós dois. Duas pessoas apenas, entende?

— Olha, vocês estão me estressando. Vão começar a brigar também? Já não basta aqueles dois idiotas ali atrás? — Ester interrompeu, fazendo os dois se calarem.

Ester pegou um cigarro e começou a fumar tranquilamente depois de calar os amigos. Ofereceu aos dois, que recusaram.

Davi se levantou e entrou na barraca, visivelmente emburrado. Ester pediu a Alice que o ignorasse.

O encontro, que era para trazer lembranças de Luca, havia se tornado um desastre. A essa altura, eles desistiram de tentar qualquer coisa. Com a noite avançando, apenas foram descansar, enquanto o silêncio tomava conta, substituído pelo sopro do vento e pelo barulho dos animais noturnos.

No meio da madrugada, Claude se levantou com urgência para urinar. Quando terminou e voltava para a barraca, conferiu os amigos. Mas algo estava errado: Ester não estava na barraca.

Imediatamente, ele acordou os outros, perguntando se alguém sabia onde ela estava. Ninguém sabia.

Eles se dividiram em duplas para procurá-la. Claude foi com Alice, enquanto Max e Davi seguiram por outro caminho na tentativa de encontrá-la.

Após cinco minutos de busca, Claude gritou:

— Encontrei!

Todos se juntaram e perceberam que Ester estava atordoada, ofegante e com um olhar distante. Depois de acalmá-la e levá-la de volta ao acampamento, perguntaram o que tinha acontecido.

Ainda respirando fundo, Ester disse que teve um pesadelo.

Ela suspirou, tentando recuperar a calma, e então relatou o que sonhou:

— No sonho, nós estávamos com as capas pretas da fantasia de Halloween e corríamos desesperados de alguém. Enquanto isso, uma voz repetia em desespero: "Ele está se aproximando!".

— De repente, eu tropecei e tentei me esconder atrás de uma árvore, mas alguém me puxou.

— Depois, entramos em um lugar escuro e pavoroso. Lá dentro, vi uma pessoa sentada de costas.

— Então, ela falou: "Não me procurem nunca mais."

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