Alice e Davi imediatamente contaram ao restante do grupo a descoberta que fizeram. O amigo oculto deles provavelmente era um tal de Luca Vergane. No entanto, a emoção da descoberta não durou muito tempo, pois nenhum deles conseguia se lembrar desse nome ou de qualquer coisa relacionada. Mesmo com essa nova informação, suas memórias continuavam em branco.
Ainda assim, tinham agora algo mais concreto, pois isso provava que realmente existia outra pessoa com eles no passado — e que era um garoto que estudava na mesma escola.
Os dias passaram, e eles não conseguiram encontrar mais pistas nem resgatar novas lembranças. No entanto, uma fofoca começou a se espalhar pela cidade. Seten foi tomada por cochichos em todos os lugares e a cada esquina.
Naquela cidade, rumores eram sempre muito propagados e impactantes. Eram capazes de fazer alguém crescer ou destruir uma reputação. Houve casos em que famílias inteiras se mudaram por conta de fofocas.
Dessa vez, o alvo era um membro do grupo de amigos. Diziam que a mãe de Ester fora uma criminosa e que havia sido presa várias vezes por cometer roubos antes de se mudar para Seten. Além disso, alegavam que Ester tinha nascido na prisão.
De fato, tudo isso era verdade. Ester sabia dessa história, mas o problema era que ela só havia compartilhado essa informação com os amigos. Agora, a cidade inteira comentava sobre isso. Inconformada, ela confrontou os amigos:
— Quem de vocês foi o responsável por espalhar essa fofoca?
— Não fui eu. — Max foi o primeiro a responder.
Os outros negaram com gestos.
— Eu só contei isso para vocês.
— Talvez sua mãe tenha compartilhado com mais alguém, e a fofoca se espalhou. — sugeriu Alice.
— Minha mãe não teria razão para falar sobre algo do passado que ela queria deixar enterrado.
— Alguém que queria se vingar ou prejudicar sua mãe pode ter procurado informações sobre ela e encontrado esse registro. — opinou Claude.
— Minha mãe não tem inimigos que poderiam ir tão fundo para descobrir isso.
— De qualquer forma, não ligue para isso. Logo as pessoas esquecem. Você sempre foi do tipo que não se importa com essas coisas…
— Mas isso pode prejudicar minha mãe! Agora até o emprego dela está em risco!
Os amigos tentaram apaziguar a situação, mas Ester estava realmente chateada. Claude sugeriu que fossem ao Bar do Brejo para esquecer os problemas, e assim fizeram. No entanto, a tentativa de distração teve o efeito contrário: no bar, todos comentavam sobre a fofoca, e olhares indiscretos se voltaram para Ester. Furiosa, ela saiu do local, deixando os amigos consternados.
Ester ficou em casa durante toda a semana e se recusou a sair com os amigos. Mas logo outra fofoca veio à tona, pegando todos de surpresa. Dessa vez, era algo ainda mais comentado, pois envolvia a família de Davi. Seu pai era um grande empresário e filantropo que patrocinava eventos na cidade, fazia grandes investimentos e era dono de boa parte dos terrenos de Seten. Sua influência era enorme, e ele sempre conseguia eleger os prefeitos que apoiava. Todos na cidade conheciam seu poder.
A fofoca que se espalhou como fogo dizia que o pai de Davi traía a esposa há muitos anos. Por conta da grande influência da família, rapidamente a história se espalhou, e logo ninguém mais falava sobre Ester e sua mãe. Agora, toda Seten comentava sobre a traição.
Davi ficou revoltado ao saber disso. Ele não quis conversar com os pais, pois aquilo não era surpresa para ele. O que realmente o chocava era a maneira como a fofoca surgiu. Ele alegou aos amigos que somente ele sabia da traição do pai, porque apenas ele havia presenciado a cena.
Anos antes, ainda na adolescência, Davi flagrou o pai com outra mulher. Na ocasião, o pai implorou para que ele não contasse à mãe, pois isso arruinaria o casamento deles. Davi guardou esse segredo consigo, mas, em um momento de fragilidade, acabou se abrindo com os amigos.
Tudo aconteceu em uma noite chuvosa. Os amigos haviam se reunido para tentar animá-lo, depois de perceberem que ele andava triste. Davi se sentiu confortável e desabafou. Os amigos demonstraram solidariedade e prometeram não contar para ninguém.
Agora, porém, ele estava chocado com a possibilidade de que um deles tivesse traído sua confiança:
— Por que vocês fofocariam sobre isso, sabendo o quanto foi difícil para mim?
— Não acredito que tenha sido um de nós. — Alice tentou apaziguar.
— Eu já disse que só eu sabia do caso do meu pai e só contei para vocês.
— Isso só pode significar uma coisa… — disse Claude, confiante.
Os amigos o olharam com expectativa e preocupação.
— Quem está espalhando essas fofocas é o Luca.
O grupo ficou em silêncio, chocado. Mas Claude fazia sentido: se esse antigo amigo estava com eles no passado, provavelmente sabia das mesmas histórias que eles.
— Isso significa que não acaba aqui. Outras fofocas podem surgir e mais pessoas do nosso grupo podem ser expostas. — constatou Max.
Os dias passaram, e o pai de Davi mexeu seus pauzinhos. Com sua influência, conseguiu abafar a fofoca da traição. Mas, quando parecia que tudo estava sob controle, outra fofoca surgiu. Dessa vez, porém, o pai de Davi não se preocupou, pois não o afetava diretamente. O alvo agora era Davi.
Espalharam por toda Seten que Davi e Alice haviam namorado no ensino médio, mas foram obrigados a terminar porque a família de Davi não aceitava que ele namorasse alguém de classe social inferior. Alegavam que o pai de Alice vivia em um bar decadente e que a mãe dela quase nunca era vista nos eventos da cidade.
Davi era o desejo de todas as garotas da alta sociedade da cidade. Nos eventos, era sempre cortejado por jovens ricas, mas, apesar da motivação da família, costumava ser frio e sério. Mesmo quando tentou conversar com o pai sobre seu interesse por Alice, não surtiu efeito. A garota era muito bonita, mas a beleza sem status não era suficiente para a família de Davi.
Constrangido por fofocas que voltaram com histórias do passado, Davi tentou conversar com Alice:
— Vou pedir que meu pai apazigue essa fofoca boba. Não faz sentido…
— Tudo bem, eu nem ligo.
— Como assim?
— Eu já superei isso. Uma fofoca besta não me afeta. A não ser que esteja te afetando. Está?
— Bem… N-não… Só acho desnecessário…
Davi se ressentiu. O que mais o incomodava era perceber o quanto sempre foi manipulado pelo pai. Essa fofoca o afetou mais do que a traição, pois essa era apenas um rumor perante a cidade, sem provas, enquanto seu namoro com Alice no passado era um fato que ele nunca escondeu.
Mas, quando acreditavam que os boatos haviam terminado, surgiu mais um. Agora, o alvo era Claude.
Começaram a espalhar que, na adolescência, ele passou um tempo em um reformatório juvenil para menores infratores. Esse boato prejudicou a clientela da hamburgueria e o deixou furioso:
— Nós precisamos dar um jeito nisso… Esse Luca precisa ser encontrado. Quem é esse garoto? Agora estou tendo prejuízo! Ele não vai se safar dessa vez.
— Mas eu nem lembrava disso. Qual foi o crime que você cometeu mesmo? — perguntou Max.
— Esqueça. Não é hora para isso. — Claude desviou, irritado.
— Ele tentou roubar um carro, pelo que me lembro. — comentou Ester.
— Já chega! — Claude gritou.
— Calma!
— Precisamos continuar procurando sobre Luca. Agora que temos um nome, podemos conseguir algo mais.
Antes, a busca pelo amigo esquecido era uma simples curiosidade. Agora, tornou-se uma necessidade urgente.
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Atualizado até capítulo 25
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