Ecos do Passado

Ecos do Passado

Capítulo 1

A amizade figurava entre as prioridades na vida desses jovens. Eram tão unidos que pareciam uma família. Desde os tempos de escola, fizeram um juramento de amizade eterna e nunca se desgrudaram.

A cidade em que viviam era pequena, daquelas cidadezinhas do interior onde muitas pessoas se conheciam ou, quando não, ao menos já tinham se visto. Apesar de ser uma cidade interiorana, era bem movimentada e estruturada, com uma infraestrutura que poderia causar inveja a algumas capitais. Lá havia tudo o que era necessário, e o desenvolvimento não parava.

Os jovens amigos contrastavam em suas personalidades, mas suas diferenças os complementavam. Max era engraçado, divertido, festeiro, animado e, por vezes, inconveniente. Davi era o cérebro do grupo — ao menos na visão deles mesmos —, tímido, sério e calado; era também o único rico do grupo. Claude era bonito, charmoso, gentil e educado. Alice era uma jovem carinhosa, amigável, prestativa, positiva e sempre disponível para os amigos. Ester, por sua vez, era aventureira, rebelde, desafiadora do sistema e ranzinza.

Desde a adolescência, eles tinham um local favorito para se reunir: o Bar do Brejo, como era chamado. Lá, passavam o tempo se divertindo e jogando conversa fora. Eram conhecidos dos funcionários e do dono do bar e sempre escutavam as fofocas dos habitantes de Seten, a cidade onde moravam.

Era comum que passassem bastante tempo também na hamburgueria da qual Claude era um dos sócios. Enquanto isso, Davi trabalhava nos negócios do pai, no escritório regional da cidade. Já Max morava na cidade vizinha por conta da faculdade, mas todo fim de semana voltava para Seten, para a casa dos pais.

Quanto às garotas, Alice trabalhava na floricultura da cidade e, por isso, estava sempre perfumada pelas flores — como diziam os amigos, principalmente Davi, que sempre tentava identificar de qual flor vinha o aroma todas as vezes que se encontravam. Ester, por outro lado, estava sem estudar e sem trabalhar. Dizia-se cansada de tudo. Como ainda eram jovens, com vinte e um anos, os pais dela pegavam no pé para que tomasse jeito e se ajeitasse na vida. Até mesmo os amigos a criticavam de vez em quando, mas ela parecia não se importar com nada.

Em um fim de semana, os amigos estavam bebendo no Bar do Brejo enquanto conversavam. Então, Alice começou a se lembrar dos tempos de escola, e todos tinham uma história para contar daquela época. Mas a história de Claude foi a mais intensa. Ele se lembrou de uma festa de Halloween em que haviam combinado suas fantasias: todos vestiam uma capa preta com capuz bastante sombrio.

A conversa, que até então era divertida, tomou outro rumo. O relato tornou-se pesado e horripilante. Talvez tivesse sido melhor não ter lembrado disso. Até mesmo a atmosfera alegre e agitada do bar pareceu se silenciar, e uma penumbra veio à tona enquanto Claude gaguejava ao se lembrar do fato:

— Estávamos andando juntos, perto da floresta, e, quando olhamos à nossa frente, vimos uma figura vestindo a mesma capa preta com capuz que usávamos. A pessoa se virou na nossa direção e mostrou uma faca ensanguentada. Lembro que não consegui ver o rosto, porque o capuz era grande e tampava a face até a boca, deixando tudo escuro. Não me lembro de quem era.

O grupo ficou em silêncio. Um arrepio percorreu o corpo daqueles que escutaram o relato. Então, Max quebrou o silêncio:

— Eu me lembrei disso. Parece que minha mente tentou deletar essa memória. Se você não tivesse falado, eu nunca mais teria me lembrado.

— Isso é muito estranho. O que aconteceu depois? — questionou Alice.

— Parece algo ruim. Mas quem era essa pessoa? Estava vestindo a nossa fantasia. Era alguém do nosso grupo? — Ester queria esclarecimentos.

— A capa era idêntica às nossas, que compramos juntas e no mesmo lugar. É estranho que nenhum de nós se lembre de quem era ou do que aconteceu depois. — afirmou Davi.

— Me lembrei de mais uma coisa… Depois que vimos aquela faca pingando sangue, nós saímos correndo. Lembro de só parar depois de não aguentar mais, sem fôlego. Depois disso, não sei mais o que aconteceu. É como se houvesse um bloqueio. — completou Claude.

Depois disso, o clima não era mais o mesmo. A diversão chegou ao fim, e o grupo de amigos decidiu encerrar a noite e ir embora. Mas, claro, aquele acontecimento ficou na mente de todos.

Alice perdeu o sono tentando lembrar o que havia acontecido naquele Halloween. Passou horas revivendo o relato de Claude e tentando identificar quem era a pessoa que vestia a mesma fantasia do grupo. Quando percebeu que não chegaria a lugar nenhum, checou as horas e viu que já eram duas da manhã.

Ela se revirou na cama, inquieta. Esticou o braço, alcançou o celular na mesinha ao lado e começou a digitar no grupo de amigos:

"Sinto que precisamos lembrar do que aconteceu naquele dia e descobrir quem era aquela pessoa."

Só assim conseguiu dormir, confiando que, no dia seguinte, algum dos amigos apareceria com uma explicação e com a lembrança de tudo claramente.

Por outro lado, Claude pegou um caderno velho e começou a escrever tudo o que se lembrava, como se tentasse elaborar um dossiê. Não queria que mais memórias ou detalhes fossem esquecidos ou ignorados. Registrar tudo seria a forma de preservar os acontecimentos e se atentar a novas descobertas.

Davi, por sua vez, foi quem ficou mais tranquilo com a história. Ele simplesmente ignorou, acreditando que, se depois de anos nada ruim tivesse acontecido, aquilo não valia a pena ser revivido, nem havia motivo para preocupação. Ele chegou em casa e logo adormeceu tranquilamente. Talvez estivessem apenas bêbados demais.

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