Entre um Adeus e um Recomeço
Anny
Eles saíram e eu continuei sentada no bar. Peguei o celular e retoquei meu batom usando a câmera frontal, já que havia uma fila enorme para o banheiro. Nada como a praticidade. Estava pronta para me recompor quando ouvi uma voz ao lado:
— Combina com você.
Olhei de relance, sem acreditar que fosse comigo.
— Posso te pagar uma bebida? — ele insistiu.
Virei o rosto e encarei.
Um verdadeiro deus grego surreal estava ali, parado, me olhando. Daqueles que a gente só vê em novela, filme... ou nos sonhos. Mas, naquela noite, ele estava real, bem na minha frente.
Ele abriu um sorriso leve e estendeu a mão:
— Gustavo Marione, ao seu dispor.
Engoli seco.
Segurei sua mão e me apresentei. Ele então a beijou, com elegância e naturalidade. Senti minhas bochechas esquentarem, mas segurei a pose.
— Estava te observando desde que você passou pela porta — ele disse, com aquele tom calmo e profundo. — Achei que estivesse acompanhada. Só percebi que não, quando vi o Lucas... bom, falando com você. E depois... beijando sua amiga.
Dei um meio sorriso, sem graça. Senti o coração apertar de novo, mas me mantive firme.
A conversa fluiu de forma surpreendente. Gustavo era direto, mas educado. Falava com clareza e atenção. Eu continuei com minha água, e ele, com seu drink discreto.
No meio do papo, ele me surpreendeu de novo:
— Posso te ver no fim de semana?
Impossível recusar esse homem. Marcamos de nos encontrar. Sem pressão, sem promessas. Apenas... deixei acontecer.
As meninas logo apareceram, querendo ficar mais um pouco, mas lembrei a todas que tinham trabalho no dia seguinte — e eu, uma entrevista de emprego pela manhã.
Samara, mais bêbada do que o normal, insistia em ir embora com o Lucas.
— Não mesmo — falei, firme.
Ela pode ser maior de idade, mas naquela noite estava sob minha responsabilidade. Ia dormir lá em casa e, por volta de meia-noite, a tia dela ligaria para confirmar se estávamos bem. Como eu ia explicar aquilo? Podem me chamar de empata foda, mas prefiro carregar esse “título” do que deixar uma amiga vulnerável em mãos desconhecidas.
“Quando ela estiver sóbria, pode sair com quem quiser. Mas assim? Não.”
No fim, convencemos todas a ir embora juntas. Cada uma seguiu para casa, e eu e Samara pegamos o ônibus. Às 00h em ponto, já estávamos entrando.
Ela se jogou na cama, nem conseguia ficar em pé. Eu nunca tinha visto a Sam daquele jeito.
Fui direto para o banho e, ao sair, vi uma mensagem no celular. Era do Gustavo:
“Vocês chegaram bem? Fiquei chateado por não ter deixado vocês em casa.”
Respondi com cuidado. Agradeci pela preocupação e expliquei que não precisava. Seria contramão para ele. Encerramos ali, numa troca leve.
(Mas entre nós: nunca que na primeira vez que conheço alguém, entro no carro ou deixo me levarem até a porta de casa. Não sei das intenções de ninguém. De boa intenção, o inferno tá cheio.)
Fui dormir.
Acordei às 06:00h da manhã. Tomei banho, me arrumei, fiz uma maquiagem leve e vesti uma blusa social com uma saia lápis.
Estava pronta para concorrer a uma vaga de auxiliar administrativa ou gerente de marketing. Duas áreas diferentes, mas tenho formação para ambas. A esperança era conseguir qualquer uma delas. Estabilidade. Independência.
Antes de sair, dei uma olhada em Sam, ainda desmaiada na cama. Ela conseguiu trocar o turno no trabalho e só entraria à tarde.
Peguei o ônibus antes das 08:00h. A entrevista estava marcada para esse horário. O destino? Uma empresa nova na cidade, do ramo de cosméticos.
Fui atendida por uma recepcionista simpática, que me indicou o elevador e pediu para subir ao terceiro andar.
Respirei fundo. Era agora. A Anny de ontem à noite fica pra trás.
A de hoje… está pronta para recomeçar.
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Atualizado até capítulo 99
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