Dama de Fogo

Fernando jogou a toalha sobre o ombro ao entrar no apart-hotel, o suor escorrendo pelo peito desnudo, cada músculo ainda pulsando de adrenalina. Fechou a porta com um pé, passou pela sala e foi direto à cozinha, pegando uma garrafa d’água na geladeira. Abriu, bebeu metade num gole só e apoiou o frasco na pia.

Mas não era sede o que o consumia.

Era ela.

Ela com o olhar feroz, o punho certeiro, a boca levemente aberta entre uma esquiva e outra. Dayana. A mulher mais teimosa, explosiva e indomável que já tinha cruzado seu caminho.

— Que luta foi aquela, chefe? — perguntou Paçoca, seu braço direito, saindo do quarto com uma camisa do Vasco e um saco de salgadinhos na mão. — A mulher chegou junto mesmo...

Fernando riu baixo, passando a mão pelos cabelos molhados de suor.

— É... ela chegou junto — repetiu, com os olhos distantes. — E ganhou mais do que a luta, Paçoca.

— Como assim?

Fernando virou de frente, com um sorriso torto nos lábios, o olhar firme.

— Ganhou meu coração.

Paçoca engasgou com o salgadinho e tossiu, surpreso.

— Oxente, chefe! Tá falando sério?

— Mais do que nunca.

— Mas... ela é a irmã do chefe da LME! Se o senhor encostar um dedo nela, eles descem em peso pra cima da gente. Só se o senhor quiser morrer mesmo...

Fernando deu de ombros, ainda com aquele sorriso malandro no rosto.

— Eu gosto do perigo, tu sabe disso. E se a esquentadinha me quiser... aí ninguém me segura.

— Chefe, olha a treta...

— Se fosse no Rio — disse Fernando, andando pelo ambiente — eu jogava ela nos ombros, trancava em casa e só deixava sair quando admitisse que me queria também. Mas aqui... aqui é diferente. Aqui eu tenho que conquistar. Jogar o jogo dela. E eu vou.

Ele parou de andar, os olhos encarando a noite através da varanda aberta.

— Pode ter certeza, Paçoca... aquela mulher vai ser minha. Porque eu já sou dela desde o momento em que ela apontou uma arma na minha cara.

Paçoca se jogou no sofá, ainda sem acreditar no que ouvia.

— Chefe, tu tá lascado...

Fernando soltou uma gargalhada.

— Tô mesmo.

Mas não parecia nem um pouco preocupado.

---

Horas depois

Fernando tomou um banho gelado, vestiu um moletom e sentou-se à beira da cama. Pegou o celular e abriu a única foto que tinha dela — de longe, num treino, capturada discretamente. Dayana, com os cabelos presos num coque alto, a pele marcada de esforço e os olhos brilhando de fúria.

Linda.

Selvagem.

Inalcançável.

Mas ele era o tipo de homem que não conhecia limites. Nem regras. Nem recuos. Se queria, ele tomava. Se desejava, lutava até o fim.

E por ela, ele lutaria.

Não com armas. Não com socos. Mas com paciência, presença e provocação.

Pegou o celular e escreveu uma mensagem que apagou duas vezes antes de decidir:

"Se quiser revanche, tô pronto. Mas dessa vez, perdedor paga o jantar."

Enviou.

Ficou olhando a tela, esperando o visto azul.

Nada.

— Aposto que vai me ignorar — disse, jogando o aparelho na cama. — Mas não tem problema. Ela ainda vai me responder. Nem que seja com outro soco.

Sorriu, deitou-se e fechou os olhos, deixando o rosto dela tomar conta dos seus sonhos.

---

Enquanto isso, na casa da família Castellazzo

Dayana também não conseguia dormir.

Sentada na cama, com o celular na mão, viu a mensagem dele. Leu. Releu. Suspirou.

"Se quiser revanche, tô pronto. Mas dessa vez, perdedor paga o jantar."

— Cínico — murmurou, mas mordeu o canto da boca.

Pensou em apagar. Em ignorar. Em bloquear.

Mas não fez nada disso.

Jogou o celular de lado e deitou, virando de costas. Ainda não sabia o que sentia. Ainda não sabia o que fazer. Mas uma coisa era certa:

Aquela não foi só uma luta.

Foi o começo de algo maior.

Algo perigoso.

Algo que nem a LME seria capaz de impedir.

O celular ainda brilhava na escrivaninha do quarto de Dayana. A tela piscava, acesa, mostrando a mensagem que a deixara paralisada havia mais de meia hora.

“Se quiser revanche, tô pronto. Mas dessa vez, perdedor paga o jantar.”

Dayana não conseguia tirar os olhos daquela frase. Não pela ousadia. Nem pela provocação embutida no convite. Mas por uma dúvida que martelava sua mente sem parar:

Como ele conseguiu seu número?

Ela não lembrava de ter falado com ele por mensagem. Nem de ter deixado rastros. A ficha dela era protegida pela própria LME, e raríssimas pessoas tinham acesso direto.

— Aquele abusado... — resmungou, puxando o celular como se ele fosse o culpado pela própria inquietação.

O polegar deslizou pela tela, abrindo a conversa. Nenhuma foto no perfil. Nenhum nome salvo. Só o número e aquele convite insolente.

Pensou em responder.

Depois pensou em xingar.

Depois pensou em rastrear quem passou o contato — e bater nele também.

Mas não fez nada.

Se jogou de novo na cama, batendo o travesseiro com força. Estava irritada. Confusa. E pior: balançada.

— Como ele conseguiu me deixar assim? — murmurou, de olhos fechados.

Flashs da luta voltavam à sua mente como um filme: os olhos intensos dele, a forma como bloqueava seus golpes, a precisão dos movimentos, o jeito provocador, o sorriso torto no canto da boca... e aquele corpo. Aquele maldito corpo suado.

— Tira isso da cabeça, Dayana! — disse em voz alta, se sentando de novo.

A dúvida voltava.

Como ele conseguiu o número?

E, pior, por que isso a intrigava tanto?

Ela não era mulher de perder o sono por homem nenhum. Cresceu entre mafiosos, conhecia o jogo, os tipos, os truques. Mas Fernando era diferente. Ele não recuava. E ela... não sabia se queria que ele recuasse.

---

No outro lado da cidade, no apart-hotel, Fernando observava a tela do próprio celular, a mensagem ainda sem resposta. Mas seu sorriso permanecia ali, tranquilo.

Paçoca entrou na sala com um pote de açaí.

— Ainda nada?

— Ela viu. Só não sabe o que fazer — respondeu Fernando, confiante.

— Ela vai querer te matar quando descobrir que fui eu que consegui o número.

— Ela não vai saber. E mesmo se souber... já me enfrentou no ringue, o que mais ela vai fazer?

— Atirar.

Fernando riu alto.

— Que atire. Eu morro sorrindo.

---

Dayana, por fim, se levantou. Caminhou de um lado ao outro do quarto, ainda com o celular na mão. Abriu a gaveta, pegou a arma e a guardou na cintura do shorts.

— Só pra garantir, né — murmurou.

Abriu a conversa. Seus dedos pairaram sobre o teclado.

“Quem te passou meu número?”

Apagou.

“Nem pensa que vou sair contigo, abusado.”

Apagou também.

Fechou a conversa. Respirou fundo. E disse a si mesma:

— Eu não vou cair no jogo dele.

Mas na hora que foi guardar o celular... a tela acendeu de novo.

Nova mensagem.

Fernando: “Curiosa sobre o número? Eu tenho meus contatos... Mas prefiro te contar pessoalmente. Que tal amanhã, às 20h?”

Ela riu, balançando a cabeça.

Que homem abusado.

E, ainda assim... o coração dela acelerou.

Pela primeira vez em muito tempo, ela estava em dúvida.

O que pesaria mais: o orgulho ou o desejo?

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Comments

Helena Barbosa

Helena Barbosa

Pior q os dois se parece na personalidade #Super apoio a dama de fogo com o Fernando laranjinha k

2025-05-17

1

Tatiana Fonseca Naffah Bertoni de Melo

Tatiana Fonseca Naffah Bertoni de Melo

Casal lindo os dois. Ela é bonita e ele também.

2025-05-19

0

Marli Batista

Marli Batista

Eita que o cupido flechou alguém 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣

2025-05-25

0

Ver todos
Capítulos
1 Doce Perigo em Terra Estrangeira
2 Laranjinha na Toca do Leão
3 Quando a Tempestade Encontra o Fogo
4 Ferida Sem Corte
5 Dama de Fogo
6 Mais que um Duelo...
7 O Jogo do Gelo e a Guerra que Queima
8 um início de algo avassalador
9 Sob o Céu e o Sol da Madrugada
10 Um Amor a Prova de Trovões
11 A Voz que calou o trovão
12 Aceito… Mas Nem Tanto!
13 Um Beijo Liberado e Três Meninas no Caminho
14 Um Abraço de Família
15 Linha Tênue entre o Controle e o Desejo
16 Entre o Amor e o Desejo
17 Segredos, Confissões e Preparativos
18 "O Peso da Promessa"
19 Sob as Estrelas, um Pedido de Coração
20 Missão cumprida...
21 Entre Famílias e Novos Começos
22 O Pedido de Fernando
23 Encontros e Reencontros
24 Senhor Marrento e a Esquentadinha
25 A Escolha de um Dom
26 ciúmes e promessas
27 Dez dias para o grande dia
28 O Último Abraço Antes do Sim
29 O maior ato de amor
30 Promessas Inesquecíveis
31 A fulga para o amor
32 Conversas de um pai em meio à festa
33 A Noite da Diaba
34 Amanhecer em Angra
35 Último Dia no Paraíso
36 A Volta do Dono do Morro
37 A Nova Patroa Não Anda, Ela Impõe
38 A Noite em Que a Favela Ganhou uma Rainha
39 A Rainha da Maré
40 A Rainha do Baile
41 Marcas da Madrugada
42 Clube dos Enlouquecidos por uma Diaba
43 Samba, Amor e Greve
44 Tomada do Alemão
45 A Reunião Decisiva
46 Novos Começos
47 Baile Funk, o Papa e o Quadradinho
48 Quadradinhos, Risos e Areia
Capítulos

Atualizado até capítulo 48

1
Doce Perigo em Terra Estrangeira
2
Laranjinha na Toca do Leão
3
Quando a Tempestade Encontra o Fogo
4
Ferida Sem Corte
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Dama de Fogo
6
Mais que um Duelo...
7
O Jogo do Gelo e a Guerra que Queima
8
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9
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