O dia seguinte amanheceu com o céu encoberto e uma leve garoa. Eduarda subiu no escolar enrolada no moletom de novo, mas dessa vez, ao invés de sentar no fundo, escolheu o banco mais à frente.
Ela tinha notado o jeito como Arthur a olhava. Não com aquele olhar de quem está acostumado a ser admirado, mas com um interesse genuíno. E aquilo a deixava um pouco... desconcertada.
O ônibus parou e, como em uma repetição calculada, Arthur subiu. Os olhos dele varreram o veículo até pousarem nela. Sorriu, como se já soubesse que ela estaria ali.
Sem pedir licença, sentou-se ao lado.
— Cedo demais pra dar bom dia? — perguntou, jogando a mochila nos pés.
Eduarda deu um meio sorriso.
— Nunca é cedo pra educação.
— Boa resposta... — ele respondeu, apoiando o cotovelo no encosto. — Tá evitando o fundo hoje?
— Tô evitando barulho — mentiu.
Na verdade, ela só não queria dar chance para o coração bater mais rápido do que devia com ele tão perto. Mas Arthur tinha esse talento natural de invadir espaços sem parecer forçado.
— Você sempre responde com uma camada por cima das verdadeiras intenções? — ele perguntou, encarando-a de lado.
Eduarda virou o rosto e olhou pela janela.
— E você sempre tenta decifrar as pessoas como se elas fossem enigmas?
Arthur sorriu.
— Só quando o enigma me intriga.
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No pátio
A movimentação estava mais calma por causa da garoa. Catarina e Leo dividiam um guarda-chuva enquanto discutiam sobre o clube de debates da escola. Ela era incisiva, ele provocador.
— Você só quer participar do debate porque sabe que minha equipe sempre vence — ela disse, rindo.
— Errado. Eu quero participar porque sei que você vai se inscrever. E eu adoro te contrariar — Leo respondeu com um brilho no olhar.
Do outro lado, Gabriel se aproximou de Sofia, que estava sentada na arquibancada, como de costume, lendo um mangá.
— Você já leu esse? — ele perguntou, estendendo outro volume da mesma coleção.
Sofia levantou os olhos, surpresa.
— Você lê mangá?
— Só os bons. E só quando quero ter assunto com alguém interessante.
Ela pegou o mangá e sorriu, surpresa com a iniciativa.
— Hm… interessante.
Gabriel se sentou ao lado dela, como se já pertencesse àquele lugar.
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Durante o recreio
Eduarda, Catarina e Sofia estavam sentadas perto do refeitório, comendo biscoitos e tomando refrigerante.
— Então, você vai responder o Arthur? — Catarina cutucou, curiosa.
— Ele não mandou nada hoje — Eduarda respondeu, encarando a latinha nas mãos.
— O ônibus já tá sendo um evento à parte. — Sofia disse, rindo.
— Meninas, vou no banheiro rapidinho — Eduarda se levantou, ajeitando a blusa.
— Quer que vá junto? — perguntou Catarina.
— Relaxa. Já volto.
Ela caminhou pelos corredores laterais até chegar ao banheiro feminino, ainda vazio por causa da chuva. Quando empurrou a porta, deu de cara com uma figura que não esperava.
Uma garota mais alta, de cabelos longos e escuros, estava encostada na parede com os braços cruzados. Os olhos dela a atravessavam como lâminas.
— Você que anda achando que tem chance com o Arthur?
Eduarda franziu o cenho.
— Quem é você?
— Eloá. Segundo ano. E ex-namorada dele. Considera isso um aviso: se continuar se aproximando, vai se arrepender.
Eduarda travou o olhar com ela. Internamente, algo gelado despertou — não era medo. Era o instinto de quem sabia se defender.
— Você acha mesmo que pode me assustar com essa pose? — respondeu, calma. — Olha... se eu quiser me aproximar dele, você não vai conseguir impedir.
— Eu posso mais do que você imagina — Eloá disse, se afastando da parede. — E se você não se afastar, eu juro que não penso duas vezes antes de te bater.
Eduarda deu um passo à frente. O olhar dela mudou — escuro, firme, ameaçador. Um sinal do segredinho que ela carregava no peito e nunca contava a ninguém.
— Me bate, então. Mas se encostar em mim, se prepara. Porque eu não sou tão calma quanto pareço. E sei me defender melhor do que muita gente grande.
Eloá, surpreendida com a ousadia, mordeu o canto da boca com raiva.
— Você vai se arrepender disso, calourinha.
— Não mais do que você vai se arrepender de me subestimar.
Sem dizer mais uma palavra, Eloá passou por Eduarda e saiu do banheiro, empurrando a porta com força.
Eduarda respirou fundo, se olhou no espelho, e disse baixinho:
— Eles sempre acham que eu sou frágil... até eu mostrar o contrário.
E o que ela escondia, um dia viria à tona.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Ana Patrícia de Lima Neves
/Angry/
2025-05-30
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