A NOIVA DO ALFA EXILADO

A NOIVA DO ALFA EXILADO

Capítulo 1 – O Lobo no Estacionamento

Bairro Mangabeiras, Belo Horizonte, às 23h37.

As luzes da clínica piscavam enquanto eu trancava a porta dos fundos. Os latidos dos cães no canil ficaram mais intensos, nervosos, como se sentissem algo que meus olhos ainda não podiam ver.

Provavelmente outro morador de rua... pensei. Até que senti. Não vi — senti. Um arrepio cortando minha nuca.

Quando me virei, havia alguém me observando da sombra do beco.

Seus olhos eram dourados. Brilhavam como brasas.

O homem estava nu, o corpo coberto de sangue seco, cicatrizes e marcas de garras. E mesmo assim... ele parecia calmo. Selvagem. Imponente. Como se não pertencesse a este mundo — ou tivesse deixado a humanidade para trás há muito tempo.

— Você é ela… — a voz dele era rouca, quase um rosnado abafado.

Dei um passo para trás.

— Eu… o quê?

Ele avançou um passo. Seus músculos se tensionaram como os de um predador prestes a saltar.

— A escolhida. A prometida.

— Fica longe de mim! — Girei nos calcanhares e corri, os pés escorregando no asfalto molhado. Mas algo — braços, garras, sombras, não sei — me envolveu.

Um cheiro forte de terra molhada, sangue e pinho preencheu meus sentidos.

Depois, escuridão.

...----------------...

Despertei com um sobressalto.

Minha pele tocava lençóis macios, mas frios. Linho puro. Ao redor, paredes de pedra cobertas por tapeçarias antigas. Um vitral enorme derramava luz vermelha sobre o chão de mármore.

E eu estava nua.

Sentei na cama, o coração disparado.

Um som. Passos. Lentos, firmes.

Um homem surgiu da sombra do arco da porta. Era o mesmo da noite anterior — mas agora limpo, vestindo calças pretas e uma camisa de linho aberta no peito. Seu olhar me queimou antes mesmo de falar.

— Meu nome é Kael — disse ele, com a calma de quem dita uma sentença.

— O que você fez comigo? Onde estou? — exigi, cobrindo o peito com os lençóis.

Ele se aproximou, sem pressa.

— Você é minha noiva, Ana Clara. Por direito de sangue.

Senti o estômago revirar.

— Isso é algum tipo de seita? Você é louco!! Totalmente maluco!

Kael se inclinou, o rosto a centímetros do meu. Seus olhos dourados brilhavam como brasas sob a luz do vitral.

— Não sou louco. Sou o Alfa dos Clãs do Norte. Você foi marcada há muito tempo. E agora… pertence a mim.

— Pertencer? Eu não sou propriedade de ninguém!

— Então prove. Fuja. Ou... — ele deixou o silêncio preencher o quarto — aprenda a me dominar!

Seu sorriso surgiu devagar. Lento. Predador.

E eu deveria ter me encolhido. Deveria ter gritado, ou recuado.

Mas meu corpo ficou onde estava. Talvez por medo. Ou talvez... por algo que nem eu compreendia ainda.

Minha respiração ainda estava presa no peito. O calor que irradiava do corpo dele parecia distorcer o ar entre nós.

— Você está brincando com fogo — murmurei, tentando manter a voz firme.

— Eu sou o fogo, Ana Clara!

Kael estendeu a mão e tocou meu rosto com as costas dos dedos. Sua pele era quente, como se algo dentro dele estivesse sempre prestes a explodir.

— Me deixe ir. Agora... — sibilei.

Ele inclinou a cabeça, como se estudasse uma criatura rara.

— Você acha que pode voltar à sua vida? À clínica, aos livros, às noites solitárias assistindo séries no sofá?

Meu corpo congelou. Ele sabia. Sabia detalhes que nunca deveria saber.

— Você me observava — falei, horrorizada.

— Eu te pressentia. Como o lobo sente o cheiro da fêmea destinada a ele. Como a lua chama a maré. Seu sangue... canta para o meu.

Engoli em seco. O quarto parecia pequeno agora. A luz vermelha tingia minha pele de escarlate. O silêncio entre nós era tenso, denso, carregado de algo primal.

— Isso é loucura.

— Talvez — ele admitiu com um sussurro. — Mas é a nossa loucura.

Kael virou de costas e caminhou até uma porta lateral.

— Vista-se. O Conselho quer vê-la. E não gosto de repetir ordens.

A porta se fechou com um estalo, deixando o som do meu próprio coração como única companhia.

...----------------...

Encontrei roupas sobre uma cadeira: um vestido escuro de tecido pesado, antigo, quase medieval, mas perfeitamente ajustado ao meu corpo. E laces de couro, como os que se usa em montaria. Era como se soubessem minhas medidas. Ou… como se já tivesse usado aquilo antes.

Minhas mãos tremiam. Minha mente gritava. Mas minhas pernas… obedeciam.

Corredores de pedra se estendiam como veias antigas. Tapeçarias com símbolos que eu não entendia. Tochas acesas, mesmo com fios de energia visíveis nas paredes.

No fim de um corredor, duas portas de madeira negra se abriram sozinhas.

Kael me esperava ao centro de um salão circular. Ao redor dele, sete figuras encapuzadas — o tal Conselho. Uma mulher com olhos cor de prata me encarava como se pudesse ver minha alma. Um homem de cabelos brancos rosnou quando me aproximei.

— Isso não pode ser ela. A Marca sumiu há gerações.

— E ainda assim, ela está aqui — Kael respondeu. — Respirando o mesmo ar que nós. Com o sangue certo. O vínculo certo.

— Prove — disse a mulher dos olhos prateados. — Desperte a fera nela.

— Não — falei, dando um passo atrás. — Eu não sou parte disso.

Kael me olhou. Por um segundo, vi um traço de hesitação em seu rosto — ou teria sido piedade?

— Você já é parte disso, Ana Clara. Desde a noite em que nasceu sob a Lua Vermelha. Só falta... aceitar.

Um frio percorreu minha espinha.

E algo — uma faísca, uma lembrança, talvez um instinto — pulsou sob minha pele.

Meu corpo inteiro estremeceu. Algo dentro de mim... rugiu.

Capítulos
1 Capítulo 1 – O Lobo no Estacionamento
2 Capítulo 2 – O Alfa
3 Capítulo 3 – A Marca
4 Capítulo 4 – Ecos de Sangue
5 Capítulo 5 – O Espelho da Terra
6 Capítulo 6 – Sangue e Juramento
7 Capítulo 7 – O Sopro das Cinzas
8 Capítulo 8 – A Casa do Vento
9 Capítulo 9 – O Olhar da Fera
10 Capítulo 10 – Sangue na Névoa
11 Capítulo 11 – Vozes do Subsolo
12 Capítulo 12 – A Fuga das Correntes
13 Capítulo 13 – Vozes Sob a Pedra
14 Capítulo 14 – O Chamado na Pele
15 Capítulo 15 – A Caçada dos Três Luzeiros
16 Capítulo 16 – Sob as Raízes da Pedra
17 Capítulo 17 – Os Que Andam nas Sombras
18 Capítulo 18 – A Voz do Rei Cego
19 Capítulo 19 – Os Sussurros da Noite Lenta
20 Capítulo 20 – Nyn’Sor
21 Capítulo 21 – O Nome Escrito nas Raízes
22 Capítulo 22 – A Última Porta
23 Capítulo 23 – O Peso da Aurora
24 Capítulo 24 – Ecos do Vazio
25 Capítulo 25 – A Marca e o Sussurro
26 Capítulo 26 – A Primeira Fissura
27 Capítulo 27 – Reflexos do Vazio
28 Capítulo 28 – Ecos de Um Nome
29 Capítulo 29 – A Caverna do Sopro Esquecido
30 Capítulo 30 – O Nome Verdadeiro
31 Capítulo 31 – A Fenda e o Espelho
32 Capítulo 32 — As Três Verdades de Sangue: Parte I
33 Capítulo 33 — As Três Verdades de Sangue: Parte II
34 Capítulo 34 — História Bônus I: Estou Sempre Aqui
35 Capítulo 35 — As Três Verdades de Sangue: Parte III
36 Capítulo 36 – As Três Verdades de Sangue: Parte IV
37 Capítulo 37 — As Três Verdades de Sangue: Parte V
38 Capítulo 38 – Depois da Verdade
39 Capítulo 39 — As Palavras que Não Dizemos
40 Capítulo 40 — A Primeira Voz do Sangue
41 Capítulo 41 – Entre o que arde e o que fica
42 Capítulo 42 – A Segunda Voz
43 Capítulo 43 – O Espelho Quebra do Lado de Dentro
44 Capítulo 44 – Onde Até as Sombras Temem Entrar
45 Capítulo 45 – A Mentira Que Eu Chamei de Lar
46 Capítulo 46 — As Vozes Que Não Se Calam
47 Capítulo 47 — Onde o Vazio Respira
48 Capítulo 48 — O Peso Que Carregamos
49 Capítulo 49 – Quando as Cicatrizes Se Tocam
50 Capítulo 50 — As Vozes Que Crescem no Escuro
51 Capítulo 51 — História Bônus II: O Lugar Onde Eu Não Pertencia
52 Capítulo 52 – A Promessa e o Olhar
53 Capítulo 53 – Veneno em Gotas
54 Capítulo 54 — Fissuras na Luz
55 Capítulo 55 – O Guardião de Ossos
56 Capítulo 56 – A Fera Sem Nome
57 Capítulo 57 – Fragmentos de Dúvida
58 Capítulo 58 – O Bardo e o Relicário
59 Capítulo 59 – Rachaduras no Coração Perdido
60 Capítulo 60 – A Cripta da Primeira Verdade
61 Capítulo 61 – Tapeçaria de Fios Soltos
62 Capítulo 62 – Um Sussurro Chama o Outro
63 Capítulo 63 – História Bônus III: A Filha da Cinza
64 Capítulo 64 — Sob a Máscara do Bardo
65 Capítulo 65 — O Chamado para Baixo
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Capítulo 1 – O Lobo no Estacionamento
2
Capítulo 2 – O Alfa
3
Capítulo 3 – A Marca
4
Capítulo 4 – Ecos de Sangue
5
Capítulo 5 – O Espelho da Terra
6
Capítulo 6 – Sangue e Juramento
7
Capítulo 7 – O Sopro das Cinzas
8
Capítulo 8 – A Casa do Vento
9
Capítulo 9 – O Olhar da Fera
10
Capítulo 10 – Sangue na Névoa
11
Capítulo 11 – Vozes do Subsolo
12
Capítulo 12 – A Fuga das Correntes
13
Capítulo 13 – Vozes Sob a Pedra
14
Capítulo 14 – O Chamado na Pele
15
Capítulo 15 – A Caçada dos Três Luzeiros
16
Capítulo 16 – Sob as Raízes da Pedra
17
Capítulo 17 – Os Que Andam nas Sombras
18
Capítulo 18 – A Voz do Rei Cego
19
Capítulo 19 – Os Sussurros da Noite Lenta
20
Capítulo 20 – Nyn’Sor
21
Capítulo 21 – O Nome Escrito nas Raízes
22
Capítulo 22 – A Última Porta
23
Capítulo 23 – O Peso da Aurora
24
Capítulo 24 – Ecos do Vazio
25
Capítulo 25 – A Marca e o Sussurro
26
Capítulo 26 – A Primeira Fissura
27
Capítulo 27 – Reflexos do Vazio
28
Capítulo 28 – Ecos de Um Nome
29
Capítulo 29 – A Caverna do Sopro Esquecido
30
Capítulo 30 – O Nome Verdadeiro
31
Capítulo 31 – A Fenda e o Espelho
32
Capítulo 32 — As Três Verdades de Sangue: Parte I
33
Capítulo 33 — As Três Verdades de Sangue: Parte II
34
Capítulo 34 — História Bônus I: Estou Sempre Aqui
35
Capítulo 35 — As Três Verdades de Sangue: Parte III
36
Capítulo 36 – As Três Verdades de Sangue: Parte IV
37
Capítulo 37 — As Três Verdades de Sangue: Parte V
38
Capítulo 38 – Depois da Verdade
39
Capítulo 39 — As Palavras que Não Dizemos
40
Capítulo 40 — A Primeira Voz do Sangue
41
Capítulo 41 – Entre o que arde e o que fica
42
Capítulo 42 – A Segunda Voz
43
Capítulo 43 – O Espelho Quebra do Lado de Dentro
44
Capítulo 44 – Onde Até as Sombras Temem Entrar
45
Capítulo 45 – A Mentira Que Eu Chamei de Lar
46
Capítulo 46 — As Vozes Que Não Se Calam
47
Capítulo 47 — Onde o Vazio Respira
48
Capítulo 48 — O Peso Que Carregamos
49
Capítulo 49 – Quando as Cicatrizes Se Tocam
50
Capítulo 50 — As Vozes Que Crescem no Escuro
51
Capítulo 51 — História Bônus II: O Lugar Onde Eu Não Pertencia
52
Capítulo 52 – A Promessa e o Olhar
53
Capítulo 53 – Veneno em Gotas
54
Capítulo 54 — Fissuras na Luz
55
Capítulo 55 – O Guardião de Ossos
56
Capítulo 56 – A Fera Sem Nome
57
Capítulo 57 – Fragmentos de Dúvida
58
Capítulo 58 – O Bardo e o Relicário
59
Capítulo 59 – Rachaduras no Coração Perdido
60
Capítulo 60 – A Cripta da Primeira Verdade
61
Capítulo 61 – Tapeçaria de Fios Soltos
62
Capítulo 62 – Um Sussurro Chama o Outro
63
Capítulo 63 – História Bônus III: A Filha da Cinza
64
Capítulo 64 — Sob a Máscara do Bardo
65
Capítulo 65 — O Chamado para Baixo

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