Quando o Passado bateu à porta e o presente está na sala ao lado

O aroma de café fresco invadia o apartamento pequeno, mas aconchegante. Elena, de moletom e cabelos presos num coque bagunçado, tentava manter a expressão neutra enquanto espalhava geleia na torrada — sem sucesso.

Lívia, de frente pra ela, estava quase subindo na mesa de tanta ansiedade.

— Vai, conta! Foi só uma noite ou você se apaixonou?

Elena bufou, sorrindo sem querer.

— Foi... surreal. Ele é diferente. Não só bonito, sabe? Ele me olhava como se enxergasse além da pele.

— E vocês...? — Lívia ergueu as sobrancelhas como quem queria todos os detalhes sórdidos.

Elena desviou o olhar, corando.

— Lívia... foi a melhor noite da minha vida. Eu me senti... viva. Desejada. Tipo, de verdade mesmo. Ele me fez sentir coisas que... eu nem sabia que era possível sentir. Mas eu nem sei o nome dele. E tudo bem. Foi só uma noite.

— Uma noite que você nunca vai esquecer.

— Exato. E agora, foco total. Primeiro dia no trabalho novo. Hora de virar a página.

---

Elena vestiu um conjunto elegante em tons de caramelo, cabelos soltos e maquiagem leve. No espelho, enxergou uma mulher decidida. Uma mulher que estava recomeçando — mesmo com o coração ainda sensível.

No hall do prédio da empresa, o logo da Valent Capital brilhava em dourado. Era uma das maiores holdings do país. O ambiente exalava poder e sofisticação.

Ela seguia para a recepção quando escutou uma voz que gelou sua espinha.

— Elena?

Era Thomas.

O ex-noivo estava encostado em uma das colunas de mármore, como se estivesse esperando por ela. Vestia terno, mas parecia menor do que ela lembrava. Menor não em estatura — em importância.

— O que você tá fazendo aqui?

— Eu precisava te ver. Te explicar...

— Não tem o que explicar. Eu vi. Eu senti. E eu já tô indo trabalhar, então, por favor...

— *Você ainda me ama, eu sei disso. Não apaga tudo o que a gente viveu por um erro. Ela... ela me provocou. Foi uma armadilha.

Elena riu — não de deboche, mas de incredulidade.

— Você não caiu numa armadilha, Thomas. Você se jogou nela. Agora aguenta as consequências.

Ela virou as costas antes que ele pudesse responder.

---

Na recepção, uma moça sorridente chamada Beatriz a recebeu.

— Você é a nova assistente executiva? Seja bem-vinda! Vou te apresentar o pessoal do setor.

Elena conheceu outros funcionários simpáticos — André, analista de investimentos, Letícia, do jurídico, e Rafael, da área comercial. O ambiente era moderno, profissional, e apesar da tensão do primeiro dia, Elena sentia que poderia se adaptar.

— Agora, vou te levar até o seu chefe. Você vai trabalhar direto com ele, viu? Um homem exigente, mas justo. Só não se atrase nunca!

Elena riu nervosa e seguiu Beatriz pelo corredor elegante de paredes escuras e vidros fumê.

A porta da sala se abriu.

E ali estava ele.

O homem da noite anterior.

De terno cinza-chumbo, gravata impecável, expressão sóbria — mas os olhos... os olhos se acenderam assim que pousaram sobre ela.

Elena congelou.

— Essa é Elena Cupertini, sua nova assistente executiva. — disse Beatriz, sem imaginar o terremoto que acabava de causar.

Os olhos dele viajaram pelo corpo dela, agora em um contexto totalmente diferente. Mas o brilho era o mesmo. Surpreso. Encantado.

— Seja bem-vinda, Elena. — ele disse, com uma suavidade que poucos homens de poder têm.

Ela apenas assentiu. O estômago embrulhado. Mil pensamentos ao mesmo tempo.

O que ele vai dizer? Vai fingir? Vai usar isso contra mim?

— Obrigada, senhor...

— Valentin. Dante Valentin.

O nome ecoou como uma sentença.

Ela engoliu seco.

---

Horas depois, com o expediente correndo normalmente — ou quase —, a assistente de Dante passou por sua mesa.

— O Sr. Valentin pediu que você vá à sala dele para alinharem os próximos dias. Pode ir agora.

Elena respirou fundo. Caminhou com o coração acelerado.

Na sala dele, ele estava de pé, olhando pela janela. Quando ela entrou, virou-se devagar.

— Feche a porta, por favor.

Ela obedeceu.

— Elena... — ele começou, mas ela ergueu a mão, decidida.

— Antes de qualquer coisa... eu preciso dizer: eu não sou esse tipo de mulher.

— Que tipo?

— A que dorme com um estranho e no dia seguinte é a funcionária do cara. Eu tô vivendo um caos pessoal, fui traída, tô me reconstruindo. Aquela noite... foi um impulso. Incrível, sim. Mas eu não sou a marmita do chefe, nem quero que você pense isso.

Ele sorriu, um sorriso contido, mas sincero.

— Eu não pensei isso nem por um segundo. E... se serve de consolo, aquela noite também não foi comum pra mim.

Ela cruzou os braços, desconfiada.

— Você é meu chefe agora. Então... seria melhor mantermos distância. Profissional. Segura. Discreta.

Ele se aproximou, devagar, sem invadir.

— Tudo bem. Vamos ser profissionais. Mas só pra constar... você tem cheiro de encrenca da melhor qualidade. E eu gosto de problemas assim.

Ela tentou não sorrir. Mas falhou.

E enquanto saía da sala, Elena sabia: aquilo estava longe de acabar.

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Rosana Alves

Rosana Alves

adoro história assim show

2025-06-05

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