O espelho devolvia um reflexo que Elena mal reconhecia — e, de certo modo, era exatamente isso que ela queria.
Horas antes, havia prometido a Lívia que tentaria. Só tentaria. Mas, à medida que passava os dedos pelo rosto, sentia uma faísca reacender sob a pele. O sofrimento da traição ainda estava ali, mas como uma cicatriz recém-formada — dolorida, mas curando.
Seu corpo, que até então carregava o peso de mágoas, parecia ganhar nova postura conforme o vestido colava nas curvas. Era preto, justo, com decote suave nas costas e tecido aveludado que refletia a luz como um sussurro. Realçava sua cintura, abraçava os quadris e mostrava mais do que ela costumava permitir — e era esse o ponto. Queria ousar. Queria ser vista.
O salto fino, de um vermelho escuro quase vinho, foi um presente antigo de Lívia que ela nunca tinha tido coragem de usar. Mas naquela noite, tudo nela gritava transformação.
O toque final veio com o perfume. Um frasco pequeno, âmbar, com uma fragrância envolvente que misturava jasmim, baunilha e pimenta rosa. Sedutor, elegante, inesquecível. Ela borrifou uma névoa no ar e passou por ela como num ritual, deixando-se banhar por um cheiro que era quase uma promessa: nunca mais serei esquecida.
Lívia surgiu na porta do quarto com um sorriso orgulhoso. — Se Thomas te visse agora... se jogava da varanda.
Elena riu, a primeira risada sincera em dias. — Tomara que ele esteja vendo novela com a traíra dele.
— E você vai estar num dos bares mais exclusivos da cidade, sendo admirada de longe e desejada de perto. Bora?
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O bar se chamava Orion. Não era apenas um bar — era uma experiência.
Localizado no topo de um prédio moderno no centro financeiro da cidade, o Orion misturava arquitetura industrial com luxo moderno. Ao entrar, Elena sentiu o impacto da ambientação: luzes baixas, música eletrônica suave, sofás de couro cinza, lustres que pareciam flutuar, e um perfume caro no ar que se misturava ao cheiro de drinques exóticos.
O ambiente era um desfile de poder e beleza. Homens de terno sem gravata, mulheres de vestido justo, conversas em tom baixo, olhares cruzando o salão. Tudo parecia acontecer em câmera lenta.
Elena se sentiu, por um instante, deslocada. Mas Lívia segurou sua mão e a guiou como se tivessem nascido naquele cenário.
— Duas taças de vinho do Porto. E depois, um martíni. Você precisa provar — disse, com um brilho animado nos olhos.
Elena sentou-se de frente para a janela de vidro que mostrava a cidade inteira. As luzes lá fora piscavam como se celebrassem algo. E talvez estivessem celebrando mesmo: o nascimento de uma nova Elena Cupertini.
— Já me sinto outra pessoa — confessou, observando seu reflexo no vidro. — Ou talvez só esteja lembrando de quem eu era antes de amar errado.
— Você é luz, amiga. Só precisava sair da sombra errada.
Os drinques chegaram, e junto com eles, os primeiros olhares. Elena percebeu que estava chamando atenção — não só pela beleza, mas pela aura de quem tem algo diferente. Era o magnetismo de quem se reconstrói com elegância.
Elena se levantou para ir ao banheiro. O corredor era estreito, iluminado apenas por luzes âmbar embutidas na parede. E foi ali que aconteceu.
O esbarrão.
Ela virou a esquina do corredor e deu de frente com um corpo masculino firme, alto, que ocupava o espaço com uma presença quase tangível.
— Perdão — disse ela, ofegante, recuando meio passo.
— Não se desculpe. Me sentir assim deveria ser proibido mesmo — ele disse, com um meio sorriso e os olhos presos nos dela, sem pressa.
Ela tentou desviar, mas ele não saiu do caminho. Só a observava. A tensão era elétrica. Os olhos dele faziam um escaneamento elegante — rosto, pescoço, o contorno do vestido. Mas não havia vulgaridade. Havia desejo. Claro, firme, descarado.
— Você é... perigosa assim — ele continuou, a voz rouca, grave. — Essa combinação de pele quente e olhos desafiadores. Quase me faz esquecer para onde eu estava indo.
Elena sentiu o calor subir pelas pernas. Era como se o sangue corresse diferente. Ela tentou manter o controle.
— Talvez você devesse continuar seu caminho, então.
Ele se aproximou, inclinando-se levemente até que a respiração dele tocasse o pescoço dela.
— Talvez eu prefira perder o caminho... se for pra te encontrar de novo.
Ela deu um meio sorriso, tentando manter a compostura. O perfume dele — algo amadeirado, com notas quentes e perigosas — se misturava ao dela, criando um campo magnético entre os corpos. Então, ele se afastou um passo, como se soubesse exatamente o momento certo de recuar.
— Até breve — disse, sem olhar para trás, enquanto sumia no corredor.
Elena precisou de alguns segundos para respirar de novo.
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De volta à mesa, Lívia tagarelava animadamente sobre alguém do trabalho quando Elena o viu novamente. Ele entrava no salão como se o mundo parasse por um segundo.
Não era exagero. Havia algo nele que fazia a energia do ambiente mudar. Ele a viu. Um segundo apenas. Ergueu o copo em sua direção, sem sorrir, mas com um olhar que dizia tudo: Eu vi você. E gostei do que vi.
Lívia percebeu.
— Gostou do CEO do bar? — sussurrou, provocando. — Dizem que ele é tipo uma lenda urbana. Vem, encanta e some. Ninguém sabe o nome. Mas todo mundo quer descobrir.
— Acho que já tive problemas suficientes com homens misteriosos.
— E por que não transformar esse mistério em uma noite inesquecível? Você merece ser desejada, Elena. Desejada por alguém que não hesite entre você e o resto do mundo.
Ela olhou de novo. Ele ainda a observava, agora mais perto, próximo ao bar. E então, ele caminhou. Cada passo dele parecia calculado, sem pressa, como se soubesse que chegaria até ela — cedo ou tarde.
E chegou.
— Boa noite — disse ele, a voz firme e grave, carregada de charme.
— Boa noite — ela respondeu, tentando parecer natural, mesmo com o sangue pulsando forte.
— Posso me sentar? — perguntou, como se a conhecesse há anos.
Ela hesitou. Mas então sorriu.
— Pode.
Ele se sentou com uma calma felina, ocupando o espaço como se o mundo fosse o habitat natural dele.
— Não costumo repetir elogios — ele disse, os olhos nos dela — mas você está... irrecusável.
Elena arqueou uma sobrancelha.
— E você costuma repetir outras coisas?
— Só os beijos que me marcam. — E o olhar dele desceu lentamente pelos lábios dela.
Ela quase riu, mas segurou. O jogo estava apenas começando. E, pela primeira vez em muito tempo, ela queria jogar.
Foi assim que tudo começou.
Uma troca de olhares. Duas taças. Um esbarrão intencional. E uma noite que mudaria tudo.
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Mara Lessa
ESTA FICANDO BOM DI MAIS 👏👏👏👏👏👏😍😍😍😍😍
2025-05-24
1
Maria Aparecida
INTERESSANTE...
2025-05-25
0