Elijah é Elijah. E isso resume muita coisa.

Assim que chegaram, Ana praticamente se jogou nos braços do Dylan como se não o visse há seis anos e meio (spoiler: fazia dois dias). Ela era assim. Um furacão com gloss, riso fácil e zero filtro emocional. Dylan, claro, a recebeu com aquele jeitinho de alfa tranquilo que só ele tinha — tipo um Golden Retriever gigante e zen.

Enquanto os dois viravam um enrosco de abraços, carinhos e “eu tava com saudade”, Noah parou na calçada com um pensamento muito claro:

> “Essa é minha deixa pra fugir.”

Mas não fugiu. Porque ele tinha educação. E curiosidade. E um leve problema com a ideia de parecer covarde — ainda mais diante do tal amigo do Dylan, que agora se levantava devagar como se tivesse saído direto de um clipe alternativo.

Elijah.

Alto. Bronzeado. Cara de problema com pernas longas. E com um sorriso... largo. Calmo. Preguiçoso. O tipo de sorriso que diz “não ligo pra nada” e, ao mesmo tempo, “sei exatamente o que tô fazendo”.

— Oi. Elijah — ele disse com aquela voz grave, baixa, arrastada e perigosamente rouca. — Você deve ser o Noah.

Você deve ser o motivo do meu próximo colapso, pensou Noah, mas sorriu com polidez.

Sem cerimônia, Elijah puxou uma cadeira.

— Quer se sentar? — ele perguntou, já ajeitando a cadeira de um jeito absurdamente cavalheiro. — Acho que os dois ali vão demorar uns... três meses pra parar de se abraçar.

Noah aceitou, ainda desconfiado. Quando sentou, ouviu:

— Você tá muito bem. Essa camisa é da coleção da Lemaire, né? E esse cinto... Gucci. Boa escolha. Equilibrou o look com os sapatos mais clássicos.

A frase veio com naturalidade, como se Elijah fosse um consultor da GQ e não um alfa com cara de quem vive de energético e cigarros.

Noah arqueou uma sobrancelha.

> “Tá. Isso foi estranho.”

Ou Elijah tinha dado um Google básico em “como não ser um macho cafona na frente de um ômega exigente”, ou Ana tinha feito uma maratona de instruções com ele. Talvez Dylan tenha dado umas dicas também. Os dois sabiam muito bem o tipo de atitude que fazia Noah levantar da mesa em menos de dois minutos — e Elijah, até agora, não tinha feito nenhuma delas.

Mas ainda assim...

Tinha algo suspeito.

Era o olhar meloso demais. O jeito arrastado de falar. A postura de quem parece sempre entediado, mas na verdade tá analisando tudo. E aquele sorriso. Sempre aquele sorriso. Calmo. Preguiçoso. Bonito o suficiente pra confundir e irritar ao mesmo tempo.

Elijah tinha a cara de quem vive na base do improviso, mas de alguma forma sabia exatamente o que dizer pra não ser dispensado de cara.

E Noah?

Noah já estava montando um dossiê mental. Porque, claramente, esse alfa tinha um talento raro: o de esconder astúcia por trás da cara de vagabundo estiloso.

O que, pra ele... era uma ameaça. E, pior ainda, uma leve tentação.

---

"Testes, tretas e um alfa surpreendentemente preparado."

Todos finalmente estavam sentados. A mesa estava linda. As bebidas servidas. O clima... leve. Exceto por Noah, que já estava afiando o sarcasmo mentalmente como quem afia facas antes de um banquete.

Ana e Dylan falavam pelos cotovelos, claramente no modo casal sincronizado. “A gente devia viajar no próximo feriado”, “você viu aquele restaurante novo?”, “acho que nosso sofá tá ficando pequeno”. O típico papo de casal funcional e feliz que dava em Noah uma leve urticária — ou inveja. Ou ambos.

Enquanto isso, Elijah, ao lado dele, estava relaxado. Braço jogado na cadeira, expressão neutra, sorriso de canto. Ele ouvia, comentava aqui e ali, ria com um grave baixo no peito que dava nos nervos de Noah por algum motivo que ele recusava admitir.

Noah então fez o que sabia fazer de melhor: começou a cutucar.

— Então, Elijah — começou, com aquele tom educado que sempre precedia um ataque verbal de luva de pelica. — Você sempre foi tão... atento a detalhes? Ou é só uma fase nova?

Elijah ergueu os olhos devagar, como se sequer tivesse se incomodado com a cutucada disfarçada. Sorriu. Preguiçoso. Quase carinhoso.

— Acho que sempre fui assim. Só não costumo ficar explicando isso pra todo mundo.

Noah sorriu também. Doce como arsênico.

— Hum. Que reservado. Tem gente que se faz de misterioso quando não tem muito o que dizer, né?

Ana interrompeu com um “Noah!” disfarçado de riso, e Dylan trocou um olhar cúmplice com Elijah. Mas o alfa não pareceu nem um pouco abalado.

— Pode ser — Elijah respondeu, ainda no mesmo tom arrastado. — Mas também tem gente que fala demais pra tentar parecer mais interessante do que realmente é.

O silêncio que se seguiu foi lindo. Quase artístico.

Noah piscou. Tiro dado, tiro levado.

Gostou. Mas ficou irritado com isso. O que era irritante.

A conversa continuou. E, para surpresa geral da nação (ou pelo menos de Noah), Elijah participava dela com naturalidade. Ana comentou de um desfile que ia acontecer na cidade, e ele comentou sobre uma estilista emergente como se tivesse lido sobre ela num blog de moda... o que não seria tão estranho, se ele não tivesse acertado a pronúncia do nome francês dela.

— Desde que ela saiu da Balmain, os cortes ficaram mais ousados, né? — comentou Elijah, tomando um gole de chá com um tédio estudado, como se estivesse falando do clima.

Noah arregalou um pouco os olhos, mas disfarçou.

— Como você sabe disso?

— Quatro irmãs — respondeu ele com aquele tom de “isso explica tudo”. — E uma mãe que faz valer por duas. Cresci rodeado de revista de moda, briga por rímel e discussão de qual salto combina com qual evento. Só sobrevivi porque aprendi rápido a diferença entre nude e bege.

Ana riu, confirmando.

— É verdade. A mãe dele é uma lenda. E as irmãs... bom, o Elijah cresceu no meio de tutorial de maquiagem e drama por causa de franja mal cortada.

— E hoje eu sei mais de skincare do que meu barbeador — Elijah concluiu, levantando uma sobrancelha como se isso fosse só mais uma terça-feira.

Noah ficou em silêncio por dois segundos. O tempo exato pra processar que aquele alfa com cara de desleixado e voz de “dormi três horas” sabia mais sobre moda e beleza do que muito stylist profissional.

E pior: ele falava com naturalidade. Não parecia que tinha decorado falas. Não era artificial. Ele sabia mesmo. E falava com quem cresceu vendo isso, e não com quem “quis impressionar um ômega exigente”.

Isso irritou Noah num nível que ele não conseguiu explicar.

— Então você sabe de tudo um pouco? — perguntou, tentando mais uma provocação. — Ou é só bom de improviso mesmo?

— Um pouco dos dois — Elijah respondeu, olhando direto nos olhos dele. — Mas só improviso quando vale a pena.

E foi aí que Noah perdeu dois segundos de ar.

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Atualizado até capítulo 26

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