Eu vou buscá-la

    O cheiro de sangue fresco nunca me incomodou. Já vi cabeças rolarem, já dei ordens que mudaram mapas. Mas ouvir o nome dela… a merda daquele riso nojento dizendo "Arábia Saudita"... isso me fez perder o controle por alguns segundos.

Os gritos de Colen ecoavam pelo galpão. Patético. Tentava se soltar como um rato preso na ratoeira — e conseguiu só o que ratos merecem.

Eu o agarrei com força, torcendo o braço até ele gritar e o joguei contra a cadeira. Suado, arfando, cuspindo sangue e raiva.

— Você vai pagar por tudo — cuspi com desprezo, meus olhos queimando.

E quando ele me encarou, finalmente entendeu.

— Onde ela está? — perguntei, cada palavra afiada como lâmina.

Ele arregalou os olhos. Não por medo. Por reconhecimento.

— Você é um… você é um Mansur. — engasgou.

— Acertou, verme. E agora fala. Onde. Ela. Está?

A risada dele foi seca, doentia.

— Ela já foi, idiota. Já foi levada. Arábia Saudita. Um duque pagou bem. Você não vai vê-la de novo. TIC TAC… sexta-feira é o leilão.

Duque Haran.

Tic. Tac.

Eu ouvi o relógio invisível martelar no fundo da mente.

Mas ele riu. Riu como se não estivesse na mira de um inferno.

Pum.

O estampido foi limpo.

O corpo dele tombou. Sem gritos. Sem drama. Só morte.

Virei o rosto devagar. Marcus estava ali, tenso, trincado como pedra, os olhos em fúria.

— Eu não acredito que deixei levarem ela. — ele falou, se amaldiçoando.

— Eu vou buscá-la. — disse firme.

Vi o desespero contido no rosto dele. Ele tinha que ser pai. Mas o instinto dele gritava que falhou.

Eu estendi a mão, firme, no ombro dele.

— Marcus… respira. Você fez tudo o que podia até aqui.

Ele não quis aceitar. O maxilar dele tremia.

— Ela é como minha filha. Eu devia ter previsto isso. Colen sabia… ele sabia.

— Eu vou trazê-la de volta. — falei.

Simples. Sem promessas vazias. Só um fato.

Ele me encarou com força.

— Você fala com tanta certeza…

— Porque é verdade. — encostei, baixando o tom. — Eu sou um Mansur. Quando digo que alguém vai voltar para casa, essa pessoa volta.

Não havia espaço para dúvida.

Marcus assentiu, com os olhos ainda pesados.

— Tá certo. Eu volto para casa. Evelyn e Isla precisam de mim. Lívia fica aqui para coordenar tudo. Me avise assim que tiver algo.

— Vai tranquilo, delegado. A partir de agora… essa caçada é minha.

Mais tarde, já na estrada para o hotel onde montei base temporária, abri o celular.

O céu estava escuro, e as estrelas acima nem ousavam piscar.

Toquei para meu pai.

— Pai. Preciso de uma chamada com todos. Primos, tios… agora.

Houve um silêncio, depois a voz grave do patriarca:

— O que aconteceu, Théo?

— Levaram uma garota. Jenna. Ligada a Marcus. Está na Arábia Saudita. Foi vendida. Sexta é o leilão. Eu vou tirá-la de lá antes disso. Mas não vou entrar sem cobertura. Quero os nomes, os braços, os canais. Tudo.

— Entendido. — ele disse com um tom seco. — Dou a ordem.

Minutos depois, o vídeo abriu. Primos de rosto fechado. Tios sérios. O sangue Mansur reunido.

Eu encarei a tela com o tipo de frieza que só os predadores de verdade têm.

— Senhores… alguém tocou numa mulher sob minha proteção. Uma que foi arrancada do lugar onde deveria estar segura. — fiz uma pausa. — sexta-feira é o prazo. Mas não vamos esperar. Eu quero o nome de todos os associados do duque Haran, quero cada centavo dele congelado. Vamos caçar com calma e com precisão.

— É pessoal? — perguntou Noah, meu primo e Don.

— Agora é.

Silêncio.

Meu pai somente assentiu.

— A guerra silenciosa está liberada.

Desliguei.

Voltei para o banco do carro. Encostei a cabeça, os olhos para o céu escuro.

Jenna. Eu estou indo. E se alguém encostar em você antes disso… vai implorar por um fim rápido.

O rugido dos motores do jato era quase um sussurro para mim. Viajei como sempre: terno impecável, relógio caro, e uma pistola escondida no coldre da cintura. Um copo de whisky envelhecido na mão, os olhos fixos no escuro da janela.

Enquanto cruzávamos o céu em direção à Arábia Saudita, cada segundo me fazia pensar nela. Jenna. A garota com olhos doces, que dizia pouco, mas sorria como quem já sabia demais do mundo. A garota que nunca deveria ter sido arrastada para esse inferno.

Estiquei os braços, recostado, mas minha mente estava acesa como uma guerra.

O piloto me avisou no comunicador:

— Senhor Mansur, pousaremos em vinte minutos. O Duque Haran enviou seus homens. Estão esperando na pista.

— Ótimo. Sorriso no rosto, olhar de cobra. — respondi, seco.

Desci do jato como sempre: impecável, com uma pasta de couro nas mãos. Dois homens vestidos com túnicas brancas e óculos escuros me esperavam com reverência. O carro preto de luxo nos levou direto para o palácio do desgraçado.

E lá estava ele. O Duque Haran.

Baixo, arrogante, com um sorriso gorduroso colado na cara. Vestia ouro como quem veste escudo. Mas vi. Vi nos olhos dele: ele não sabia quem eu era. Não ainda.

— Senhor Théo Mansur! Uma honra tê-lo em meu país. — ele disse, abrindo os braços como um anfitrião de novela.

Apertei sua mão com calma.

— A honra é minha, Excelência. Seu nome corre pelo mundo com… reputação notável. — joguei o veneno com o tom certo.

Ele riu, convencido, guiando-me para dentro do palácio de mármore, ouro e pecados.

— Espero que se sinta em casa. Aqui, nossos convidados têm tudo do bom e do melhor. E, claro… — ele abaixou o tom, cúmplice — terão acesso aos melhores sabores da terra. Inclusive… sabores mais… raros.

Eu sorri.

Por dentro, me enojava. Por fora? Perfeita atuação.

— Curioso… que tipo de raridades o senhor está guardando?

— Ah, meu caro… — ele suspirou, empolgado. — Estamos preparando uma festa, em dois dias. Uma celebração para… amigos. Haverá bufê, danças, e… meninas. Muito bem escolhidas. De vários lugares do mundo. Algumas… resgatadas de lugares muito precários. Um verdadeiro serviço humanitário, se pensar bem.

— Claro. — respondi, entornando o whisky que ele me ofereceu. — Um verdadeiro herói da humanidade.

Filho da…

Ele me guiou até uma suíte. Luxuosa. Vista para as dunas, banheira de mármore, vinho caro no gelo.

— Fique à vontade. Amanhã quero lhe mostrar minha coleção. E no dia seguinte… ah, o banquete será inesquecível.

— Mal posso esperar. — falei com um sorriso torto.

Quando ele saiu, larguei o paletó na poltrona e fui até a janela.

A noite do deserto era silenciosa. E quente. Como o sangue que subia pelas veias.

Coleção. Bufê. Meninas.

Eu ia acabar com tudo. Mas precisava ser cirúrgico.

Puxei o celular criptografado e enviei uma única mensagem para Noah:

Entrando no ninho. Em dois dias, o inferno começa. Se preparem para a retaliação. Se algo acontecer comigo… tragam o deserto abaixo.

Deitei na cama. Armas sob o travesseiro. Veneno na alma.

Eles não fazem ideia do que trouxeram para dentro de casa.

Eu sou um Mansur.

E amanhã, o inferno começa a sussurrar no ouvido do diabo.

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Comments

Simone Nunes

Simone Nunes

mais capítulo tô amando a história tá maravilhosa

2025-05-17

3

Irene Saez Lage

Irene Saez Lage

Suspense , mistério o que será que vai acontecer?

2025-05-18

1

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