Tinha algo no ar naquele dia, quando recebi a mensagem avisando que ela ia embora, minha amiga era como uma irmã, precisava ir até ela e me despedir, eu a amava, mas tinha uma ansiedade boba, sabe?
Daquelas que parecem sem motivo, mas ficam cutucando o peito.
Eu ignorei. Botei a bolsa no ombro, ajeitei o cabelo e entrei na sala tentando sorrir.
Isla tava no sofá com o tablet no colo e Evelyn, como sempre, com aquele olhar que me lia inteira.
— Eu preciso sair um pouquinho, Evelyn. Uma amiga mandou mensagem, vou resolver um negócio rápido e volto logo, tá? É seguro, prometo.
Ela me olhou com um aperto nos olhos. Aquele tipo de olhar que só as mães sabem dar. Mesmo quando não são exatamente mães.
Mesmo quando são anjos disfarçados de gente comum.
— Jenna, por favor, toma cuidado. Não se afasta muito, tá bom? Me mande notícias. — falou e me puxou num abraço apertado.
Suspirei, sentindo o cheiro doce de casa que ela carregava. Sorri, tentando esconder a culpa que já pesava, sabia que todos estavam preocupados, sabia que Marcus estava tentando me proteger e a chegada de Théo deixou tudo mais tenso.
— Eu sei… eu vou ficar atenta, confia em mim, não vou demorar, ela é uma das poucas meninas que me apoiaram aqui antes que o delegado de fato me acolhesse, como ela falou que está indo embora vou lá me despedir.
Isla nem levantou os olhos do tablet.
— Tia Jenna, volta logo! Eu quero te mostrar o nível que eu vou passar!
Soltei uma risada curta e fui até ela. Beijei o topo da sua cabeça com carinho.
— Eu volto, pequena gamer, fica tranquila.
A porta fechou atrás de mim com um estalo que ecoou mais do que deveria. O sol estava morno, as ruas tranquilas.
A mensagem dizia que ela estava me esperando num café afastado, “longe dos olhares de sempre”, como ela escreveu.
Não questionei. Talvez eu devesse.
Entrei no beco lateral, o lugar combinado, mas quando percebi que não havia nenhum café ali… já era tarde demais.
— Oi? — chamei, dando mais um passo hesitante. — Clara?
Então tudo ficou preto. Um braço me agarrou por trás, uma dor aguda explodiu na lateral da cabeça, e meu corpo cedeu.
Fui jogada no chão.
Ouvi vozes. Risos. Risos de homem.
Acordei meio grogue, a cabeça latejando, a garganta seca.
Tentava abrir os olhos, mas tudo girava.
Eu estava dentro de algo… apertado. Frio. Uma caixa? A pele queimava. Tinha sangue escorrendo da minha têmpora.
Meus braços estavam presos. Cada respiração doía. Ouvi vozes fora da caixa.
Um sotaque arrastado. Zombeteiro.
— Já mandei a mensagem, “precisou viajar às pressas”. Essas babás são tão previsíveis.
— Vai dar tempo de sair do país? — outra voz perguntou.
— Até procurarem, ela já vai estar no deserto. Meu estômago virou.
A mensagem. Eles tinham mandado uma mensagem. Para Evelyn.
“Evelyn, precisei viajar às pressas. Não se preocupe, volto logo. Vou te mandar notícias. Beijos.”
Era minha voz... sem ser minha alma.
Meu coração disparou, e mesmo quase apagando, uma parte de mim gritou por dentro.
Não por mim. Por Isla. Por Evelyn. Por Marcus.
E foi nesse escuro, dentro de uma caixa de madeira, cercada pelo cheiro de gasolina, que eu soube: eu tinha sumido do mapa.
E ninguém viria atrás de mim.
Porque... achavam que eu escolhi partir.
Acordei com o gosto metálico do sangue na boca e a sensação de que o tempo tinha passado por cima de mim como um caminhão.
Minhas costas doíam muito. Meus pulsos ardiam. Estavam amarrados — de novo.
Olhei em volta, os olhos ainda turvos, e senti o chão frio sob meu corpo quase nu.
Estava vestida apenas com a roupa íntima. O frio do ar e o calor da vergonha brigavam na minha pele marcada de roxo.
A sala era ampla, mas abafada, feita de paredes claras, sem janelas. Havia tapeçarias no chão e o teto parecia feito de pedra antiga.
Era como estar em outro tempo. Outro mundo. Três mulheres estavam ali. Se moviam em silêncio, com panos molhados nas mãos. Vestiam roupas longas, túnicas que iam até os pés.
As cabeças cobertas com véus.
Nenhuma delas olhou nos meus olhos.
Nenhuma respondeu quando eu tentei falar.
— Por favor... onde eu tô? O que tá acontecendo? — minha voz saiu rouca, fraca, como se fosse de outra pessoa. Elas apenas trocavam olhares entre si e murmuravam em um idioma que eu não conhecia.
Talvez árabe? Ou algo próximo.
Uma delas limpava suavemente os machucados no meu braço, enquanto outra ajeitava meu cabelo molhado de suor.
Era como se... como se estivessem me preparando.
— Não... não, por favor... — murmurei, tentando me soltar, mas mal conseguia mexer os braços.
O pânico já estava crescendo no fundo da minha garganta.
Foi aí que entendi. Eu não era uma hóspede. Eu não era uma visitante. Eu era uma mercadoria. E aquilo era o primeiro passo antes de me colocarem em exposição.
As lágrimas ameaçaram vir, mas eu me forcei a engolir. Marcus me ensinou.
Não mostrar fraqueza.
Não ceder ao pavor. Mas era difícil. Tão difícil.
— Vocês machucaram muito ela, o Duque não vai aceitar assim, teremos que curar ela. — a voz grossa falou em inglês, tentei olhar, mas fui impedida.
— Foi Collen, ele parecia estar com raiva, mas agora já está aqui e vai ficar como o Duque viu na foto. — o outro falou deixando claro que me escolheram ainda lá, não consegui acreditar que Collen teve coragem.
Uma das mulheres me olhou por um segundo — só por um segundo — e seus olhos se suavizaram. Não havia frieza ali. Só... pena.
E isso doeu mais do que tudo. Porque se até ela achava que eu não tinha como escapar... então talvez eu realmente não tivesse.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Irene Saez Lage
Pois é te ensinaram a não confiar em tudo e vc não aprendeu caiu na armadilha e foi rápita como vai ficar a sua vida agora
2025-05-18
2
Simone Nunes
mais capítulo autora história maravilhosa tô amando tô muito anciosa por próximo capítulo
2025-05-16
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Aldeir Rodrigues
sempre se ferrando por conta de amigas affi
2025-05-16
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