Não sei o que esperava ao aceitar a ligação do Marcus. Talvez um campo de guerra, um rastro de corpos, ou alguma cidadezinha americana cinza e previsível. O que eu não esperava… era ela. Jenna.
Primeira vez que vi, ela estava com uma bandeja na mão, rindo com uma naturalidade que não combinava com o clima tenso da sala.
A luz bateu de lado no rosto dela e, por um instante, pensei que eu tivesse sido premiado com algum tipo de visão divina.
Mas não. Era só ela mesma. De carne, osso… e curvas que Deus fez com calma.
Marcus me lançou aquele olhar de “nem pensa nisso”, o mesmo que meu pai costumava dar quando via um dos Mansur olhando demais para a esposa errada de algum aliado perigoso.
Mas o problema era: eu penso. Sempre penso.
Ela sorriu educadamente para mim, mas Marcus percebeu, claro, a criou desde que sua esposa faleceu, provavelmente a via como uma filha.
— Eu… vou fazer um café e depois vou atender a Evelyn. Antes que a Isla me enlouqueça mostrando os desenhos da Barbie… — ela disse, rindo, ajeitando a bandeja, tentando quebrar o clima denso da sala.
A acompanhei com os olhos, era impossível não olhar, seu sorriso, corpo, perfume, tudo nela era atrativo, um sexo diferente? Ou um lance para toda a vida.
— Se eu soubesse que tinha companhia tão agradável aqui, Marcus, teria vindo antes. Ele nem disfarçou que não gostou, me olhou feio e já cortou o assunto.
— Ela é uma garota séria. Não é para ser uma conquista sua, Théo. Tem só 20 anos e ninguém pode tocar nela. Está passando uns dias aqui, mas tem seu apartamento. Pela raiva que Colen tem e pelo tempo que conviveu comigo sabe que ela é importante, se a pegam… pode virar próxima vítima. Levantei as mãos, fingindo inocência.
— Ei, calma. Eu sei jogar limpo. Só estou dizendo que… sua casa está bem mais interessante do que eu imaginava. É como diz meu tio Antony: um Mansur não resiste a uma mocinha em perigo.
Na sala de jantar, Jenna servia arroz para Isla, que mostrava um desenho feito com lápis de cor no guardanapo.
— Olha, tia Jenna! É a nossa casa. E esse aqui é o Theo! — ela apontou para um boneco de palito alto com um sorriso quadrado.
Jenna riu e olhou discretamente para mim.
— Você foi promovido rápido, hein? Ergui a taça rindo.
— O boneco não condiz com minha beleza, mas o talento às vezes fala mais alto.
Ela riu e Marcus mais uma vez bufou.
Durante o jantar, tentei manter o foco. Falei de Roma, das tretas, de Victor. Dei meu show, como sempre.
Evelyn riu de algumas piadas, Isla me desenhou parecendo um boneco do Minecraft, e Jenna… Jenna ria com um ar de quem tentava não rir demais.
Ela me observava sem querer deixar que eu percebesse.
Mas, ah, pequena… eu percebo tudo.
Mais tarde, a casa dormia. Isla já estava apagada, Evelyn com Marcus em seu quarto, Jenna naquela noite dormiria ali, e já deveria estar dormindo.
E eu… eu estava com insônia.
Nada anormal.
Dormir sempre foi uma tarefa difícil quando se carrega sangue quente e alma marcada.
Desci em silêncio, só de calça e camiseta, e ouvi um barulho suave vindo da varanda. Adivinha quem?
Ela estava ali, sentada no banco de madeira, os pés descalços e uma caneca na mão.
— Você também é do time que não dorme? — perguntei, com aquele tom casual que uso quando estou muito interessado.
Ela sorriu, mas não completamente.
— Suco de maracujá. A lenda diz que ajuda. — levantou a caneca, sem olhar direto para mim.
— E funciona?
— Nem um pouco.
Me aproximei devagar, recostando no batente da porta.
— Posso me juntar? Ou o delegado vai me prender por importunação?
Ela riu, e dessa vez foi mais genuíno.
— Ele provavelmente só vai te interrogar por três horas, verificar seu histórico inteiro e depois dar um sermão sobre boas maneiras.
— Delícia de homem — brinquei, sentando ao lado dela. — E você? Já teve muitos caras para ele interrogar?
Ela balançou a cabeça devagar, olhando o escuro do jardim.
— Não muitos. Marcus… ele me criou. Me acolheu com 16 anos. Isla tinha acabado de nascer. Eu tava no meio do caos, e ele me deu paz. E com essa fama de "filha" do delegado, você acha que algum menino da cidade teve coragem?
— Nenhum?
— Alguns tentaram. Mas depois da terceira abordagem em que Marcus aparecia do nada… — ela sorriu. — Os outros desistiram.
— Então você virou a garota que ninguém toca?
— É… mais ou menos isso. A boazinha, a responsável, a certinha. Ninguém quer lidar com o risco de ser preso só por me levar no cinema.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
O tipo de silêncio confortável, sabe?
Eu a observei de lado. O brilho da luz da varanda refletia no cabelo solto, a pele dourada pela noite morna, os olhos… cheios de histórias não ditas.
— Bom — falei baixo — pelo menos agora você tem alguém por perto que não liga muito para regras.
Ela me olhou, um pouco séria, um pouco curiosa.
— E você ligaria para o Marcus?
— Eu respeito Marcus. Mas não tenho medo de ninguém. Principalmente quando algo — ou alguém — me interessa.
Ela desviou o olhar, mas o rubor subindo no rosto dela entregava tudo.
Fiquei ali por mais alguns minutos.
O clima entre nós estava construindo algo. Lento, mas firme. Como tempestade no horizonte.
Eu podia vê-la se perguntando: "Será que ele é só mais um cafajeste bonito?"
Talvez fosse.
Mas naquele momento, eu queria ser o homem que ela pudesse chamar — quando tudo desse errado.
E do jeito que a vida estava se movendo... ia dar errado muito em breve.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Irene Saez Lage
Há não. pensa assim vai dar tudo certo, porque da errado
2025-05-18
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Andrea Freire
Há já se apaixonou que fofo 😍😍
2025-05-17
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