O Teste Abismal
As palavras do Patriarca ainda ecoavam na mente de Kael quando os portões do Salão dos Ancestrais se abriram, revelando uma escadaria íngreme mergulhada em sombras e chamas azuladas. Os olhos dourados do jovem brilhavam com intensidade, embora em seu íntimo um nó de incerteza começasse a se formar. O Teste dos Ancestrais não era apenas uma tradição—era um julgamento cruel, reservado aos filhos da linhagem Noctharion.
Acompanhado por dois guardas silenciosos e encapuzados, Kael desceu os degraus. A temperatura caía a cada passo, como se o próprio mundo rejeitasse sua presença ali. No final da escadaria, uma câmara circular se revelava. No centro, um altar de pedra negra pulsava com uma energia estranha, e atrás dele, uma fenda no tecido da realidade vibrava como uma ferida aberta no tempo.
Um ancião surgiu das sombras. Sua pele era marcada por cicatrizes e símbolos arcanos.
— Kael Noctharion, sétimo herdeiro. Diante do sangue dos seus, você enfrentará a Fenda do Abismo. Se sobreviver, será reconhecido. Se falhar... será esquecido.
Kael assentiu. Respirou fundo, sentindo a pressão em seus pulmões. Em seguida, deu o primeiro passo em direção à fenda.
Assim que atravessou o portal, tudo mudou. O mundo virou caos. Céu e terra deixaram de existir. Um redemoinho de trevas e relâmpagos púrpuras girava ao redor, e no centro, pairando com uma imponência aterradora, uma criatura colossal o observava.
Era o demônio abismal.
Com chifres que se curvavam como espirais negras, olhos vermelhos como brasas e um corpo feito de fumaça e ossos, a criatura soltou um rugido que fez o espaço tremer. Kael mal teve tempo de reagir. O monstro avançou.
A batalha foi brutal.
Kael rolou para o lado, desviando de uma garra monstruosa. Evocou as chamas negras herdadas da linhagem, mas elas foram dissipadas pelo hálito pútrido da criatura. O chão rachava a cada golpe, e Kael sentia suas forças se esvaindo. Sangue escorria de sua boca, de seus braços, de um ferimento profundo na coxa.
Por minutos que pareceram eternidades, Kael lutou com tudo o que tinha. Mas era claro—ele estava em desvantagem. O demônio parecia brincar com ele, testá-lo.
Então, em meio à luta, Kael gritou. Não de dor, mas de fúria. Algo dentro dele se rompeu.
Um pulso sombrio emergiu de seu peito. O demônio, que estava prestes a desferir o golpe final, recuou abruptamente. Seus olhos vermelhos se arregalaram por um breve instante. Um silêncio estranho caiu sobre o campo da batalha. O ar ficou denso, quase sagrado.
Kael, cambaleante, olhou para a criatura.
— O que... está esperando? — murmurou.
O demônio soltou um rosnado gutural. Em vez de atacar, voltou para as sombras e desapareceu dentro da própria fenda. A escuridão se dissipou, e Kael foi jogado de volta à realidade, caindo de joelhos no centro da câmara ancestral.
Guardas o rodearam, surpresos. O ancião retornou, franzindo o cenho.
— Ele... sobreviveu? — sussurrou um dos irmãos.
— Sim, mas mal conseguiu arranhar a criatura — respondeu outro.
A notícia se espalhou como fogo em palha seca. Kael Noctharion havia sobrevivido ao Teste dos Ancestrais, mas saído dele quase destruído. Os murmúrios começaram: "O mais fraco da linhagem", diziam. "Um fracasso envergonhado".
Seus irmãos o olhavam com desprezo contido. Suas irmãs, com pena.
Mas Kael, mesmo ferido, ergueu-se. Aquele momento não era de derrota. Era de silêncio. Pois dentro dele, algo havia despertado. Algo que nem ele compreendia totalmente.
Sozinho em seus aposentos naquela noite, Kael se deitou em sua cama. O olhar perdido no teto.
“Ele teve medo de mim...”, murmurou.
E pela primeira vez, Kael sorriu.
Aquele não era o fim.
Era apenas o início.
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Atualizado até capítulo 42
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