Há 950 anos...
— O que você está fazendo aqui de novo? — Aline cruzou os braços, tentando esconder a inquietação no peito. — Eu disse que não queria te ver.
— Sou um ser celestial. Não aceito ordens de uma humana. — Belial respondeu, indiferente, observando-a com olhos impassíveis. — Mas você me intriga.
— Intriga? Você é um Rei, sabia? Continua vindo até aqui como se não tivesse deveres. Vai acabar sendo traído pelos seus próprios subordinados.
Belial soltou um leve sorriso.
— Dragões não têm reis. Somos seres incompreensíveis, guiados pela força, não por tronos.
— E se encontrar outro dragão? Vai matar?
— Não preciso. — Ele deu de ombros. — Mesmo sem uma coroa, todos conhecem seus lugares. Me respeitam... por causa da minha força.
— Então é assim que ganha esse título de “Rei Dragão”, hein?
Ela tentou parecer irônica, mas no fundo... havia admiração.
— Já que está sempre me incomodando... por que não se torna meu subordinado?
— Recuso. — ele disse de imediato. — Mas você pode ser a minha.
— Hahaha, nem posso. — Aline desviou o olhar, rindo de leve. — Estou casada.
O silêncio caiu pesado.
— Por que... com aquele homem ridículo?
— Por política. — respondeu Aline, sem hesitar. — Não é amor, é necessidade. Para manter o reino estável, esse casamento é fundamental.
— Vocês humanos são estranhos... Casada com outro, mas continua vindo a mim.
— E você continua me recebendo.
— Não me importo em realizar seus desejos, mas... ainda não entendo.
Belial virou-se para partir.
— Se precisar de mim... me chame.
— Sou uma Rainha. — disse ela, com orgulho. — Tenho muitos subordinados.
Meses depois...
— Huh? Que lugar é esse? — Belial observava as pedras antigas e as árvores secas ao redor. — Por que queria me encontrar aqui?
— Belial... — Aline disse, sua voz mais suave que o normal. — Estou grávida.
Belial parou. — O quê?!
— Mas não é seu filho. — completou ela, baixando os olhos.
Ele deu um passo para trás, a expressão se fechando.
— Então não me interessa.
Virou as costas para ir embora.
— Quem disse que te permiti sair? — A voz dela ecoou como uma ordem.
Ele suspirou, parando.
— Fala logo.
— Essa criança será minha filha. Ela crescerá... e se tornará a Rainha do Reino Stark.
— E o que isso tem a ver comigo?
— Ela vai crescer sem mim. E quando chegar à maioridade... o pai dela vai morrer. O Reino será atacado. Ela será forçada a fugir. E fugirá justamente por estas montanhas... onde você estará.
Belial a encarou, sério.
— Está prevendo o futuro, é isso?
— Não é previsão. É certeza. Um fato... Porque este lugar será sua casa.
Ela se aproximou lentamente, colocando a mão no peito dele.
— Você é temido por todos. As montanhas afastam qualquer um. Mas ela virá até aqui... e te encontrará. E quando isso acontecer... quero que prometa que vai ajudá-la. Cuide dela por mim.
— E o que eu ganho com isso?
— Meu último chamado.
Belial começou a andar.
— Que seja. — murmurou. — Mas... não posso negar um pedido seu... minha Lorde.
Aline sorriu entre lágrimas.
— Obrigada... Eu conto com você.
Anos depois...
Quando a filha de Aline completou 8 anos, uma guerra eclodiu entre os Reinos Stark e Skull. Aline, já prevendo o fim, liderou pessoalmente as tropas. Sabia que o verdadeiro alvo... era ela.
Mesmo cercada, lutou com a força de mil soldados. E, em seus últimos momentos, caiu de joelhos em meio ao campo de batalha.
— Rei... Dragão... Imperador...! — gritou com as últimas forças.
Nada aconteceu.
As lágrimas escorreram.
Mas então...
A terra tremeu.
O céu, antes claro, se cobriu de nuvens negras. Um rugido ensurdecedor cortou o céu — um som que atravessava a alma. Um dragão colossal desceu dos céus, pousando atrás de Aline.
Todos congelaram.
Belial abaixou a cabeça. Aline, trêmula, estendeu as mãos e tocou o rosto escamoso da criatura, dando-lhe um último beijo.
— Você... veio... Obrigada... meu Rei.
Essas foram suas últimas palavras.
Ela tombou.
E naquele instante, a fúria de Belial foi libertada.
Seu rugido explodiu os soldados inimigos de dentro pra fora. A terra se partiu. Um buraco colossal se abriu sob os exércitos. Nada escapou. Nenhuma alma sobreviveu.
Mas sua fúria durou anos.
Com o tempo, os humanos imploraram por paz. Fizeram um juramento: nunca mais atacar o Reino Stark.
Belial aceitou, mas deixou claro:
— Se tocarem nesse Reino de novo... eu voltarei. E o mundo inteiro conhecerá o fim.
Desde então, a história foi passada de geração em geração.
Mas como toda verdade... ela foi distorcida.
Belial deixou de ser lembrado como guardião. Passou a ser temido como destruidor. As nações espalharam histórias de horror, retratando-o como um monstro. Criaram mitos para que um dia alguém surgisse para enfrentá-lo — e destruí-lo.
Mas no Reino Stark, a verdade ainda vive.
Lá, o Imperador Dragão é lembrado não como vilão... mas como o salvador. O lorde silencioso que honrou o pedido de uma rainha.
Uma história esquecida pelos homens...
Mas gravada a fogo nos céus pelas asas de um dragão.
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Atualizado até capítulo 55
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