Capítulo 5— Quando o Passado Bate à Porta
O terraço virou hábito.
Sem combinarem horários, sem trocarem promessas, Lívia e Noah simplesmente apareciam ali.
Ele com seu silêncio que dizia tudo.
Ela com seus olhos que já não escondiam tanto quanto antes.
— A gente está errado — ela disse, uma tarde, os pés descalços sobre o chão de concreto áspero. — Tem alguma coisa em mim que ainda não está pronta. Algo que sangra quando me aproximo demais.
Noah respondeu com o que ela mais precisava: não palavras, mas presença.
— Eu não vim te curar — disse ele. — Só ficar perto enquanto você descobre que ainda está viva.
Ela quase chorou com aquilo.
E pensou: se amar for assim, talvez eu aguente.
**
Naquela noite, Lívia decidiu fazer algo que não fazia há muito tempo.
Abriu a caixa de madeira guardada no fundo do armário. A mesma que havia prometido nunca mais abrir. Fotos, cartas, recortes de jornal. E ali, entre memórias que ainda doíam, encontrou a carta da mãe. A última.
“Se você está lendo isso, é porque eu não pude estar com você do jeito que queria…”
A letra era trêmula. Mas cheia de ternura.
Lívia leu tudo de uma vez. Depois rasgou em pedaços tão pequenos que o vento do quarto quase levou embora.
Ela chorou. E depois dormiu.
Sem sonhar. Mas com um pouco menos de peso no peito.
**
No dia seguinte, Noah não apareceu.
Nem no outro.
Lívia tentou não se preocupar. Mas algo dentro dela latejava.
Quando enfim mandou uma mensagem, não houve resposta.
E então, na terceira noite sem sinal, alguém bateu na porta.
Três toques secos. Rápidos.
Ela hesitou antes de abrir.
— Você é a Lívia? — perguntou a mulher que surgiu à sua frente. Morena, de olhos escuros como os de Noah, mas frios.
— Sou. Quem é você?
— Sou irmã dele. Do Noah. Vim porque achei que você precisava saber de uma coisa.
Lívia sentiu o mundo encolher um pouco.
— Saber… o quê?
A mulher respirou fundo.
— Ele não está bem. Faz semanas que vem piorando. Parou a terapia. Parou com os remédios. E agora… está sumido de novo. Como antes.
O chão pareceu desaparecer sob os pés de Lívia.
— Como assim… sumido?
— Ele tem isso. Some quando acha que vai machucar quem se aproxima. Quando começa a se importar demais. Ele… — ela engoliu em seco. — Ele tem um passado que não contou pra você, não é?
Lívia balançou a cabeça, devagar. Um nó na garganta.
— Ele já tentou. Acabar com tudo.
Silêncio.
A irmã de Noah continuou:
— E toda vez que ele sente que alguém se importa, ele se sabota. Ele foge, Lívia. Pra não levar ninguém junto.
Lívia sentou-se, como se as pernas não aguentassem mais.
— Ele… estava melhor. Comigo, ele parecia...
— Sim. É isso que dói — disse a irmã. — Quando ele melhora, ele acha que não merece. E foge. De novo.
Ela entregou um papel com um endereço.
— Foi o último lugar onde ele foi visto. Se você ainda quiser tentar… vai. Mas prepara o coração. Ele pode não deixar você entrar.
**
Lívia passou a noite inteira sentada com aquele papel nas mãos.
Pensou em desistir. Pensou que talvez aquilo fosse grande demais pra ela. Que talvez amar alguém assim fosse se afogar junto.
Mas então lembrou dos olhos dele.
Do silêncio seguro.
Do jeito como ele a olhou sem invadir.
E do modo como ele a fez sentir viva — mesmo que só por algumas tardes.
Ela pegou a chave, trancou a porta e saiu.
**
O endereço levava a uma cabana antiga, nos arredores da cidade, perto de uma trilha que poucos conheciam.
Quando chegou, o céu já ameaçava chuva.
A madeira rangia sob os pés.
O vento sussurrava segredos nas frestas da porta.
Ela bateu. Uma vez. Duas.
Silêncio.
— Noah… — ela chamou, a voz embargada. — Eu sei que você está aí. E se não estiver, vou esperar mesmo assim.
Nada.
— Eu não vim te salvar. Nem exigir nada. Só queria dizer… que eu fiquei. Mesmo depois de saber.
Uma sombra se moveu dentro da cabana.
Um ruído.
E então… a porta abriu.
Ele estava ali. Cansado. Destruído. Mas vivo.
— Você não devia ter vindo — disse ele, a voz quase um sussurro.
— Mas eu vim — respondeu ela, firme. — Porque você não é um erro. E eu também não sou. E o que a gente tem… ainda não terminou.
Ele tentou dizer algo. Mas desabou.
Literalmente.
Caiu de joelhos diante dela, como quem já não sabe como continuar.
E então ela o segurou.
Não com força.
Com cuidado.
Com a coragem de quem sabe que amar alguém partido… é também uma forma de costurar a própria alma.
**
E assim terminou o capítulo: com dois corpos em silêncio, abraçados na porta de uma cabana esquecida, enquanto o mundo lá fora insistia em ruir.
Mas ali dentro, pela primeira vez,
Havia abrigo.
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Comments
Sandra Regina
Aí caramba vai repetir tudo agora autora por favor
2025-05-15
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Rosangela Pontes chavez
Porque está repetindo o capítulo é horrível
2025-05-22
0