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Capítulo 2 — Os Lugares que a Dor Não Mostra
Lívia não voltou para casa direto naquela noite. Ela andou sem rumo pelas ruas molhadas, sentindo a brisa cortando o rosto como lembrança de tudo o que ainda doía.
Era estranho.
Ela não sabia quase nada sobre aquele homem. Mas, de algum modo, havia nele uma dor que espelhava a dela — como se ele também tivesse esquecido como era viver, mas ainda assim estivesse tentando.
Ao chegar em casa, colocou a chave na porta e parou. Por um segundo, hesitou. Entrar significava voltar ao vazio. À rotina. À ausência.
Entrou mesmo assim.
O apartamento era pequeno e silencioso. As paredes ainda guardavam ecos do riso da mãe, dos passos do irmão, das conversas no fim da noite. Tudo havia sumido em uma madrugada de chuva dois anos atrás — exceto ela.
A dor sobreviveu.
Tirou os sapatos, deixou o casaco no sofá e foi direto para o quarto. Não acendeu a luz. Deitou-se devagar, como quem carrega um corpo que ainda se acostuma a existir. E chorou em silêncio. Só o bastante para não desmoronar. Só o suficiente para se lembrar de que ainda sentia.
Na manhã seguinte, ao chegar novamente à cafeteria, lá estava ele.
Noah.
Na mesma cadeira. Uma xícara de café à frente, os olhos baixos, como se também tivesse perdido o sono.
Ela se aproximou devagar.
— Você está me seguindo? — perguntou, com um leve tom de ironia.
Ele ergueu os olhos. Sorriu com canto da boca.
— Só vim devolver um silêncio. Acho que ele te pertencia.
Ela sentou-se. Nenhum dos dois disse mais nada por alguns minutos.
— Teve um tempo... — ele começou, com a voz baixa — ...em que eu escrevia cartas para pessoas que nunca iam receber.
Ela o olhou, curiosa.
— Por quê?
— Porque era a única forma de dizer tudo o que eu não sabia como falar em voz alta.
Lívia respirou fundo. Quis dizer algo, mas não conseguiu. Ele percebeu.
— Não precisa me contar o que aconteceu — disse ele. — Às vezes, contar só faz doer de novo.
Ela assentiu. Os olhos ardiam.
— Mas se um dia quiser escrever... — continuou ele, estendendo um papel amassado com um número rabiscado — ...eu leio. Mesmo que não seja sobre mim.
Lívia pegou o papel. Olhou por alguns segundos. Depois o guardou no bolso, sem promessas.
Levantou-se.
— Por que você está aqui, Noah?
Ele hesitou.
— Porque eu também perdi alguém. E às vezes... a gente precisa sentar ao lado de quem entende o silêncio, mesmo sem saber o nome da dor.
Ela ficou imóvel. Aquilo a atingiu em cheio.
E então, como quem não queria deixar o coração falar mais alto, Lívia se virou e foi embora.
Mas naquela noite, antes de dormir, ela escreveu.
Pela primeira vez em dois anos, ela escreveu algo que não era sobre a morte.
Era sobre um estranho com olhos tristes e voz calma.
E, estranhamente, aquilo parecia um começo.
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Claro! Aqui vai a continuação — ainda no Capítulo 2, com mais tensão emocional e pequenos sinais de que algo profundo se forma entre Lívia e Noah, mesmo que eles ainda não entendam o que é. O ar de mistério continua no olhar dele… e no coração dela.
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Na noite daquele mesmo dia, o céu estava limpo. Pela primeira vez em semanas, as estrelas conseguiram vencer as nuvens. Lívia abriu a janela do quarto e deixou o ar frio entrar. Sentou-se com o caderno no colo, as pernas cruzadas, a caneta entre os dedos.
Olhou para a folha em branco.
“Para alguém que eu ainda não entendo…”
Escreveu.
“Você me encontrou em um lugar onde até o eco havia desistido.
E, mesmo sem saber o caminho, sentou perto.
Não perguntou nada, e ainda assim escutou tudo.
Isso assusta mais do que deveria.
Mas, de algum modo, acalma.”
Fechou o caderno devagar, abraçando-o contra o peito.
Ela ainda não sabia se aquilo era o começo de algo bonito…
Ou o aviso silencioso de mais uma despedida.
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Na cafeteria, no sábado seguinte, Noah já a esperava. Como se o tempo dele estivesse ligado ao dela.
— Você escreveu? — ele perguntou, sem rodeios.
Ela sentou, tirou o caderno da bolsa e empurrou para ele uma folha arrancada com cuidado.
Ele leu em silêncio. Depois olhou para ela.
— Parece que você me conhece.
— Não conheço — corrigiu. — Só vi algo que parecia comigo.
Ele encostou-se na cadeira, os olhos vagos.
— Quando alguém te olha de verdade… dá medo, né?
— Dá — ela sussurrou.
Havia um espaço entre os dois, mas também algo invisível que começava a preencher o vazio.
— Me conta uma verdade sua — ela pediu. — Só uma. Sem mentiras bonitas.
Noah ficou quieto por longos segundos. Parecia procurar coragem.
— Eu… já desejei não acordar mais. Por semanas.
Ela prendeu a respiração. A sinceridade dele a desmontava.
— E por que acorda, então?
— Porque um dia alguém escreveu uma carta pra mim, dizendo: “Fica, mesmo sem saber por quê. Às vezes, a razão aparece depois.”
Ela abaixou o olhar. Não sabia se queria chorar ou agradecer por ele ainda estar ali.
— E você? — ele perguntou. — Por que ficou?
Lívia encarou os próprios dedos sobre a mesa.
— Porque ninguém percebeu que eu queria partir. E, de algum jeito, isso me manteve viva. Ficar doendo em silêncio… era mais fácil do que gritar e ninguém escutar.
Noah esticou a mão devagar. Tocou a dela. Foi um toque leve, quase um pedido de permissão.
Ela não recuou.
Naquele instante, sem beijos, sem promessas, algo aconteceu.
Não havia pressa.
Mas também não havia mais volta.
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Comments
bete 💗
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-05-15
0
Ana Zélia
Tou achando interessante. 🥰🥰
2025-05-14
2