Aylin caminhou até a sala de reuniões com as mãos trêmulas, mas ninguém percebia. Tinha aprendido desde cedo a manter a pose — principalmente diante dele.
Lysander.
Era estranho pensar naquele nome como algo real. Ele não parecia pertencer ao mundo comum. Havia uma aura de distanciamento nele, quase mágica — e não era pelas asas. Era pelo olhar. Pela maneira como andava. Pela forma como parecia carregar o tempo nas costas.
Na sala, os outros líderes se posicionavam em torno da longa mesa de vidro. As cadeiras eram acolchoadas, o ar-condicionado era cruel, e os sorrisos, todos profissionais demais.
Ela posicionou seu material na mesa. Respirou fundo.
— Senhor Lysander, senhor Luciano, senhores — cumprimentou, mantendo a voz firme.
Luciano Couto, o presidente da empresa, estava ali também. O pai. O homem que nunca usava seu nome ao falar com ela. Para todos, era apenas Aylin Mendes. Para ele, uma funcionária eficiente. Fria como ele. Fruto de um erro que agora servia com competência.
Ele não respondeu ao cumprimento. Apenas assentiu com um movimento quase imperceptível de queixo. Os olhos escuros varreram os slides sem emoção.
Lysander, por outro lado, puxou uma das cadeiras e se sentou com postura reta, asas recolhidas com delicadeza, quase como se não quisesse machucar o terno.
Aylin deu início à apresentação.
Falou sobre as campanhas, os resultados, o alcance das mensagens internas, as interações entre setores. Era boa no que fazia — muito boa. E mesmo que isso não garantisse reconhecimento familiar, ao menos lhe dava segurança.
— Seu trabalho é competente, senhorita Mendes — comentou Lysander, ao final. Sua voz era neutra, mas seus olhos pareciam... curiosos. — Mas posso perguntar uma coisa?
Ela assentiu.
— Por que isso importa pra você?
A pergunta caiu como uma pedra no vidro.
Luciano não reagiu. Os outros líderes fingiram ler papéis.
— Porque é a única forma de ser ouvida — respondeu ela, com simplicidade. — Quando ninguém te escuta, você precisa achar outros meios de falar.
Lysander encostou-se à cadeira, analisando a resposta. Seus olhos tocaram os dela por tempo demais. Era como se buscasse algo ali — talvez o porquê que ainda não entendia.
Alice apareceu pouco depois da reunião, animada como sempre, equilibrando dois copos de café e uma pasta enorme sob o braço.
— Eu trouxe café de verdade, porque aquele da máquina é um crime contra a humanidade e todas as raças mágicas — disse, entregando um para Aylin. — E você foi incrível. Até o Lysander prestou atenção. Isso é tipo... um eclipse.
— Obrigada, Alice — Aylin respondeu, aceitando o café e um sorriso genuíno pela primeira vez naquela manhã.
— Ah, e outra coisa... — Alice falou mais baixo, se inclinando. — Você sabia que o Lysander nunca elogia apresentações? Nunca. Nem quando a diretora do marketing veio com holograma. Mas ele elogiou a sua. Isso diz muito.
Aylin não respondeu. Apenas tomou um gole do café quente. Ainda não sabia o que pensar. Ainda não queria pensar.
Na saída, enquanto organizava seus papéis e se preparava para voltar à sua sala, sentiu a presença dele novamente.
Lysander parou na porta.
— Senhorita Mendes.
Ela virou-se.
— Sim?
— Sobre o que você disse... sobre ser ouvida. — Ele hesitou. — Se quiser, posso te escutar mais vezes.
E saiu.
Deixando para trás não um elogio. Mas um convite.
Aylin encarou a porta por alguns segundos. Seu coração batia um pouco mais rápido, mas ela não sabia exatamente o motivo.
Talvez... fosse o começo. Do porquê.
E, do lado de fora, a rosa branca no hall central havia se endireitado ligeiramente.
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Atualizado até capítulo 24
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