Capítulo 4 - O Retorno Que Nunca Esqueci

Como Leon Bellucci

Dizem que quando alguém parte, algo dentro da gente também vai junto. No meu caso, foi a minha mãe.

A mansão continuou de pé. O nome Bellucci ainda fazia tremer secretários de Estado e presidentes de bancos. Mas eu… eu fiquei com o silêncio. Com o som do salto dela ecoando nos corredores — e depois, o eco de mais nada.

Minha mãe era tudo o que meu pai nunca conseguiu ser: inteligente, sutil e estrategista. Quando ela morreu, eu herdei o império e as máscaras. Mas a verdade? A verdade é que o mundo se tornou bem mais frio.

Foi depois disso que Matheus apareceu.

Primo de sangue, mas o mais próximo que tive de um irmão. Chegou de surpresa, com aquele jeito espalhafatoso, sorriso largo e piadas ruins. Parecia fora de lugar no Solar Bellucci — e talvez por isso mesmo eu confiei nele.

Matheus não queria o meu dinheiro. Nem o meu cargo. Só queria rir, comer bem e, segundo ele, “ensinar o poderoso Leon a viver um pouco”.

Ele foi o único que ficou quando todos os outros se afastaram. Inclusive ela.

Aria.

O nome dela ainda tem gosto de vinho tinto e madrugada mal dormida. Ela foi a única mulher que me desafiou. Que me olhou sem medo. Que soube ver o que existia além do terno caro e do sobrenome pesado.

E depois... sumiu. Sem explicações. Sem chance de resposta.

Até agora.

Quando recebi a informação de que Aria Duarte estava de volta a Sierra, achei que fosse brincadeira de mau gosto. Mas então vi os registros no cartório, o endereço novo, o nome dela de volta nos papéis.

E tudo dentro de mim despertou de novo.

O orgulho, o ressentimento. Mas também a curiosidade. A lembrança. E algo mais perigoso: o desejo.

Não hesitei.

— Envie um convite — ordenei, entregando o envelope preto ao motoboy de confiança. — Hoje. O Solar precisa vê-la outra vez. E eu também.

Matheus apareceu na porta do meu escritório, com uma maçã na mão e o mesmo olhar de sempre: debochado, mas atento.

— Então é real? Ela voltou?

— Sim.

— E você vai encarar?

— Eu não fujo de fantasmas — respondi.

Ele mordeu a maçã.

— Só espero que dessa vez não seja você quem desapareça.

Ignorei a provocação e olhei para o relógio.

Faltavam poucas horas para as 20h.

Com Aria Duarte

O relógio marcava 19h52 quando o carro parou em frente ao Solar Bellucci.

Durante todo o caminho, minhas mãos suaram. Isabelle dormia sob os cuidados de Dona Iolanda, e eu repeti mentalmente que isso era apenas um encontro. Um convite. Nada mais.

Mas a verdade é que meu coração sabia: não era só isso.

A mansão continuava imponente. Colunas de mármore, janelas amplas, luzes douradas acesas como se esperassem algo grandioso. Ou alguém.

Eu.

O segurança na entrada apenas assentiu com a cabeça quando anunciei meu nome. Me guiou até o corredor principal sem uma palavra. Cada passo meu ecoava alto demais.

Era como andar dentro de um passado que eu tinha feito de tudo para enterrar.

Quando a porta do salão se abriu, ele estava lá.

De costas, observando a lareira acesa.

O mesmo corte de cabelo preciso. O mesmo porte imponente. Terno escuro. Ombros rígidos.

— Achei que você não viria — disse, sem sequer olhar para mim.

— Achei que isso era uma armadilha — respondi. Minha voz soou mais firme do que eu me sentia.

Ele se virou devagar.

E quando nossos olhos se encontraram… o tempo não diminuiu o impacto.

Leon Bellucci.

Ainda mais bonito. Mais frio. E com aquele mesmo olhar que atravessava minha pele e via tudo o que eu queria esconder.

— Você mudou — ele disse.

— Você não.

Um silêncio denso caiu entre nós. Um silêncio com memórias demais.

Ele se aproximou. Devagar. Cada passo dele parecia calculado, perigoso.

— Por que voltou, Aria?

— Eu não devo explicações pra você.

—Não? — ele parou a poucos centímetros de mim, a voz baixa, controlada. — Então por que você veio?

Engoli em seco. Meu coração batia alto demais. Meus pés queriam correr, mas meus olhos não conseguiam se desviar dos dele.

— Porque você mandou o convite. E eu… — respirei fundo — precisava olhar nos seus olhos e entender se você ainda era o mesmo homem que me deixou sangrando em silêncio.

Ele piscou devagar. O maxilar travado. Algo nos olhos dele vacilou por um instante, mas então...

— E você, Aria? É a mesma mulher que desapareceu sem me deixar sequer perguntar por quê?

Minha garganta se fechou.

Estávamos frente a frente, e ao mesmo tempo, tão longe.

O passado entre nós era uma corda esticada prestes a arrebentar.

Antes que eu pudesse responder, uma voz surgiu atrás da porta.

— Leon, chegou uma ligação urgente.

Era Matheus.

Leon desviou o olhar, tenso.

— Isso vai ter que esperar — ele disse, já virando de costas.

— Como tudo entre nós — sussurrei.

Ele parou. Mas não se virou.

E eu fui embora dali.

Sem olhar pra trás.

^^^Continua...^^^

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Comments

Rita DE Cassia Gomes

Rita DE Cassia Gomes

oxe que encontro meia 👄

2025-06-09

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