Como Leon Bellucci
Dizem que quando alguém parte, algo dentro da gente também vai junto. No meu caso, foi a minha mãe.
A mansão continuou de pé. O nome Bellucci ainda fazia tremer secretários de Estado e presidentes de bancos. Mas eu… eu fiquei com o silêncio. Com o som do salto dela ecoando nos corredores — e depois, o eco de mais nada.
Minha mãe era tudo o que meu pai nunca conseguiu ser: inteligente, sutil e estrategista. Quando ela morreu, eu herdei o império e as máscaras. Mas a verdade? A verdade é que o mundo se tornou bem mais frio.
Foi depois disso que Matheus apareceu.
Primo de sangue, mas o mais próximo que tive de um irmão. Chegou de surpresa, com aquele jeito espalhafatoso, sorriso largo e piadas ruins. Parecia fora de lugar no Solar Bellucci — e talvez por isso mesmo eu confiei nele.
Matheus não queria o meu dinheiro. Nem o meu cargo. Só queria rir, comer bem e, segundo ele, “ensinar o poderoso Leon a viver um pouco”.
Ele foi o único que ficou quando todos os outros se afastaram. Inclusive ela.
Aria.
O nome dela ainda tem gosto de vinho tinto e madrugada mal dormida. Ela foi a única mulher que me desafiou. Que me olhou sem medo. Que soube ver o que existia além do terno caro e do sobrenome pesado.
E depois... sumiu. Sem explicações. Sem chance de resposta.
Até agora.
Quando recebi a informação de que Aria Duarte estava de volta a Sierra, achei que fosse brincadeira de mau gosto. Mas então vi os registros no cartório, o endereço novo, o nome dela de volta nos papéis.
E tudo dentro de mim despertou de novo.
O orgulho, o ressentimento. Mas também a curiosidade. A lembrança. E algo mais perigoso: o desejo.
Não hesitei.
— Envie um convite — ordenei, entregando o envelope preto ao motoboy de confiança. — Hoje. O Solar precisa vê-la outra vez. E eu também.
Matheus apareceu na porta do meu escritório, com uma maçã na mão e o mesmo olhar de sempre: debochado, mas atento.
— Então é real? Ela voltou?
— Sim.
— E você vai encarar?
— Eu não fujo de fantasmas — respondi.
Ele mordeu a maçã.
— Só espero que dessa vez não seja você quem desapareça.
Ignorei a provocação e olhei para o relógio.
Faltavam poucas horas para as 20h.
Com Aria Duarte
O relógio marcava 19h52 quando o carro parou em frente ao Solar Bellucci.
Durante todo o caminho, minhas mãos suaram. Isabelle dormia sob os cuidados de Dona Iolanda, e eu repeti mentalmente que isso era apenas um encontro. Um convite. Nada mais.
Mas a verdade é que meu coração sabia: não era só isso.
A mansão continuava imponente. Colunas de mármore, janelas amplas, luzes douradas acesas como se esperassem algo grandioso. Ou alguém.
Eu.
O segurança na entrada apenas assentiu com a cabeça quando anunciei meu nome. Me guiou até o corredor principal sem uma palavra. Cada passo meu ecoava alto demais.
Era como andar dentro de um passado que eu tinha feito de tudo para enterrar.
Quando a porta do salão se abriu, ele estava lá.
De costas, observando a lareira acesa.
O mesmo corte de cabelo preciso. O mesmo porte imponente. Terno escuro. Ombros rígidos.
— Achei que você não viria — disse, sem sequer olhar para mim.
— Achei que isso era uma armadilha — respondi. Minha voz soou mais firme do que eu me sentia.
Ele se virou devagar.
E quando nossos olhos se encontraram… o tempo não diminuiu o impacto.
Leon Bellucci.
Ainda mais bonito. Mais frio. E com aquele mesmo olhar que atravessava minha pele e via tudo o que eu queria esconder.
— Você mudou — ele disse.
— Você não.
Um silêncio denso caiu entre nós. Um silêncio com memórias demais.
Ele se aproximou. Devagar. Cada passo dele parecia calculado, perigoso.
— Por que voltou, Aria?
— Eu não devo explicações pra você.
—Não? — ele parou a poucos centímetros de mim, a voz baixa, controlada. — Então por que você veio?
Engoli em seco. Meu coração batia alto demais. Meus pés queriam correr, mas meus olhos não conseguiam se desviar dos dele.
— Porque você mandou o convite. E eu… — respirei fundo — precisava olhar nos seus olhos e entender se você ainda era o mesmo homem que me deixou sangrando em silêncio.
Ele piscou devagar. O maxilar travado. Algo nos olhos dele vacilou por um instante, mas então...
— E você, Aria? É a mesma mulher que desapareceu sem me deixar sequer perguntar por quê?
Minha garganta se fechou.
Estávamos frente a frente, e ao mesmo tempo, tão longe.
O passado entre nós era uma corda esticada prestes a arrebentar.
Antes que eu pudesse responder, uma voz surgiu atrás da porta.
— Leon, chegou uma ligação urgente.
Era Matheus.
Leon desviou o olhar, tenso.
— Isso vai ter que esperar — ele disse, já virando de costas.
— Como tudo entre nós — sussurrei.
Ele parou. Mas não se virou.
E eu fui embora dali.
Sem olhar pra trás.
^^^Continua...^^^
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Rita DE Cassia Gomes
oxe que encontro meia 👄
2025-06-09
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