Forbidden Secrets - Livro 2
[ Cannes Centre, Cannes - França ]
Camila Vasquez | 08:00 AM, 30 De Maio.
Dois anos.
Setecentos e trinta dias — e algumas horas — desde que eu fui embora sem olhar para trás.
Disseram que o tempo cura, mas ninguém avisou que ele também pode endurecer. Não sou mais a mulher que fugiu chorando no meio da madrugada. Eu aprendi a respirar sozinha, a dormir com a dor, a sorrir mesmo sem vontade. Aprendi a esconder a parte de mim que ainda o amava — e ela ainda existe, enterrada sob pilhas de promessas quebradas.
O carro desacelera quando entro na cidade. O céu está nublado, como se o universo entendesse que meu coração também está. Tudo parece igual, mas eu me sinto estrangeira. Os mesmos prédios, as mesmas ruas… até o cheiro da padaria na esquina é o mesmo. Só que eu não sou.
Meu estômago revira quando passo pela praça onde a gente costumava se encontrar. Onde ele me olhava como se eu fosse o mundo dele. Onde ele me prometeu que nunca me machucaria.
Engraçado, não é? Algumas promessas deviam vir com prazo de validade.
Estaciono em frente ao apartamento que aluguei por alguns meses. Não tenho planos de ficar para sempre. Na verdade, ainda não sei nem por que voltei. Talvez seja orgulho. Talvez seja saudade. Ou talvez eu só esteja cansada de fugir.
Yara tentou me convencer de não vir sozinha, mas eu precisava disso. Precisava sentir esse chão de novo, encarar os fantasmas nos olhos. E o maior deles tem nome e sobrenome.
Nicolas.
Só de pensar nele meu peito aperta. Será que ele ainda está aqui? Será que seguiu em frente? Casou? Mudou? Me esqueceu?
Não importa, repito para mim mesma.
Mas a verdade é que importa sim.
Porque por mais que eu tenha reconstruído pedaço por pedaço da minha vida, tem uma parte de mim que ainda sangra quando penso nele.
E o pior? Eu não sei se estou pronta para vê-lo.
Mas eu vim mesmo assim.
Carrego minha mala escada acima. O prédio é antigo, sem elevador, com paredes que guardam histórias demais e vizinhos que parecem desconfiar do mundo. Tudo aqui tem cheiro de mofo e saudade — talvez por isso eu tenha escolhido este lugar. Queria algo que combinasse com meu estado de espírito: usado, discreto e silencioso.
Giro a chave. A porta range ao abrir, como se protestasse contra a minha presença.
O apartamento é pequeno, mobiliado com o básico. Uma cama de casal com lençóis crus, uma mesa quadrada de madeira já desgastada, uma estante vazia. Nada tem personalidade — o que, por ora, me serve bem. Não quero lembranças espalhadas pelas paredes. Já carrego memórias demais dentro de mim.
Deixo a mala no canto e vou até a janela. Daqui, consigo ver parte da rua e a copa das árvores que balançam com o vento frio da tarde. Me apoio no parapeito e fecho os olhos. A cidade pulsa sob meus pés. Uma parte de mim queria estar em qualquer outro lugar.
Mas eu estou aqui. Pela primeira vez, não porque alguém me pediu. Porque eu decidi.
Respiro fundo, pego o celular no bolso e encaro a tela por alguns segundos antes de abrir a agenda. Meus dedos tremem levemente quando clico no nome "Mãe".
O telefone chama três vezes antes de atender.
Elena: Camila? — a voz dela soa surpresa, e eu posso jurar que ela segura o fôlego. — Filha, tá tudo bem?
Sorrio de leve, sentindo uma pontada no peito. Eu devia ter ligado antes.
Camila: Oi, mãe. Tá tudo bem sim… eu só… queria avisar que cheguei.
Elena: Chegou? Como assim?
Camila: Voltei pra cidade… só por um tempo. Preciso resolver algumas coisas.
O silêncio do outro lado dura segundos que parecem minutos.
Elena: Você tem certeza? — ela pergunta com cautela, como se tivesse medo da resposta.
Camila: Não. Mas eu voltei mesmo assim.
Elena: E ele? — a pergunta vem como uma lâmina. Ela não precisa dizer o nome.
Camila: Eu não vim por ele — minto. Ou tento acreditar na mentira. — Eu vim por mim.
Mais um silêncio. Depois, ela solta um suspiro longo.
Elena: Seu pai vai querer falar com você. Ele sente sua falta todos os dias, Camila.
Engulo em seco.
Camila: Eu também sinto. De vocês. De tudo que a gente era antes de tudo isso.
Elena: A gente ainda é, filha. Você não perdeu nada. Só se afastou um pouco.
Fecho os olhos, tentando conter as lágrimas. Queria acreditar nisso.
Elena: Quando puder, vem jantar aqui em casa. A gente faz lasanha… sua favorita.
Camila: Eu vou, prometo. Só preciso de um ou dois dias pra… me organizar aqui.
Desligo com a sensação de ter aberto uma porta que mantive trancada por tempo demais.
Me jogo na cama e fico olhando o teto branco. Não tem barulho, não tem Nicolas, não tem ninguém — só eu e meus pensamentos.
Estou de volta. Mais forte, mais fria, mais calejada.
Mas será que estou pronta para o que essa cidade ainda guarda pra mim?
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[ Lá Californie, Cannes - França ]
Nicolas Stark | 20:00 PM.
Eles dizem que um homem só reconhece o valor de algo quando o perde.
Mentira.
Eu soube exatamente o que ela significava pra mim no momento em que a vi ir embora. O problema é que eu estava quebrado demais pra impedir.
Depois que Camila sumiu da minha vida, eu fiz a única coisa que alguém como eu não costuma fazer: me entreguei. Fui até a delegacia, sentei diante de um delegado e contei tudo. Sem advogado, sem blindagem, sem máscara.
Foi como jogar dinamite sobre o nome da minha família.
A empresa — o império que carrega nosso sobrenome há três gerações — desmoronou junto comigo. Manchetes, processos, sócios pulando do barco. Meu pai quase teve um infarto… não pela minha prisão, mas pela mancha na reputação.
Mas no final… o sangue Stark ainda corre nas veias certas.
Contatos, favores antigos, amizades compradas com décadas de vinhos caros e acordos silenciosos — tudo isso entrou em jogo. E, depois de meses de um inferno gelado, eu saí. Não totalmente limpo, claro. Mas o suficiente pra caminhar de cabeça erguida sem algemas.
Meu pai cuidou de reconstruir o nome da empresa com o mesmo fervor de quem ergue um castelo sobre as ruínas de um massacre.
E eu... bem, eu segui o papel que esperavam de mim.
Discurso ensaiado, imagem pública restaurada, reuniões com gente que finge esquecer quem eu fui. Voltamos ao topo. Mas nada brilha igual quando você sabe quanta sujeira teve que engolir pra chegar lá.
Hoje, olho no espelho e não vejo mais o garoto arrogante de antes. Nem o homem perdido que caiu.
Só vejo alguém funcional. Calculado. Perigoso, até.
E sim — estou namorando.
Ela é bonita, inteligente, articulada. O tipo de mulher que meu pai aprovaria com um aceno discreto.
Mas ela não é a Camila.
Não tem o caos nos olhos, nem o silêncio carregado de significado, nem aquele jeito de sorrir com dor sem que ninguém percebesse.
Não me irrita, não me desafia, não me desmonta.
E talvez seja por isso que funciona.
Ou talvez seja por isso que me sinto morto por dentro quando encaro o teto à noite.
Só que agora tudo mudou.
Hoje recebi uma ligação que congelou meu sangue.
Camila voltou.
Dois anos depois.
E eu não faço ideia do que ela quer… ou do que ainda restou entre nós.
Mas uma coisa é certa: se ela acha que vai passar por mim como se nunca tivesse existido…
Está muito enganada.
O som da chave gira ndo na porta me traz de volta à realidade. Não precisei olhar para saber quem era.
Ela entra como uma tempestade ensolarada — salto alto batendo firme no piso de madeira, perfume doce demais para o fim de tarde, sorriso pintado com perfeição.
Isabelle: Oi, amor. — a voz dela ecoa pelo apartamento antes mesmo de me ver. — Adivinha quem conseguiu fechar o contrato com a Harper & Co?
Ela surge no corredor e vem direto até mim, os braços ao redor do meu pescoço antes que eu possa reagir. O beijo é automático, rápido, eficiente. Como quem cumpre um ritual.
Nicolas: Parabéns — murmuro, tentando soar entusiasmado. Ela sorri mais ainda, como se estivesse esperando esse elogio desde que saiu de casa.
Ela é exatamente o tipo de mulher que impressiona qualquer sala. E talvez isso baste para todo mundo — menos para mim.
Isabelle: Você está estranho hoje. — Ela se afasta só o suficiente para me encarar. — Está tudo bem?
Nicolas: Estou… cansado. Reunião puxada com investidores. — A mentira sai fácil. Me tornei especialista em omitir o que realmente me consome.
Ela me observa por alguns segundos, mas decide não insistir. Em vez disso, caminha até a cozinha, tirando os saltos e abrindo uma garrafa de vinho. Tudo tão ensaiado, tão domesticado, que chega a me dar náusea.
Eu a observo de longe, apoiado no batente da porta. Ela é bonita. Tem presença. Sabe se portar. Mas não é o tipo de presença que me faz esquecer que estou sozinho mesmo quando acompanhado.
Ela nunca seria capaz de me deixar em ruínas com um olhar. Nunca me partiria em dois com o silêncio de uma despedida no meio da chuva.
Ela não é a Camila. E por mais que eu tente — nem eu sou mais o homem que um dia destruiu a única mulher que amou de verdade.
Camila está de volta.
E tudo o que eu construí desde que ela foi embora… está prestes a desmoronar outra vez.
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Atualizado até capítulo 31
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