Capítulo 02

...Mikaela Alencar ...

Dois dias depois, estou aqui plena e feliz e um pouco p*ta da vida fazendo meu trabalho. Não estou p*ta por estar trabalhando, pois amo o que faço. Estou p*ta porque estamos investigando um caso de feminicídio e isso sempre me deixa fora dos eixos. Tenho vontade de resolver com o criminoso na base da tortura.

— Entra. — digo quando batem na porta.

— Mika? — Clarisse, uma das polícias, que também é minha comadre e amiga, me chama e eu olho para ela.

Gosto que eles me chamem de Mika, algumas vezes rola uma chefe ou delegada, mas eu prefiro assim, gosto de ser próxima e íntima dos meus colegas, aqui somos uma família e participamos um da vida do outro. Eu mesma sou madrinha de duas crianças, filhos dos meus colegas.

— Aquele moleque, o loirinho da festa na casa noturna, ele está aí e pediu pra falar com você.

— O que esse moleque quer agora?

— Não sei, disse que você estava ocupada, mas ele falou que vai esperar.

— Manda ele entrar, melhor resolver isso de uma vez pra ele ir embora. — ela assente.

— Certo, vou mandar ele entrar.

— Ok, obrigada Cla, pode deixar a porta aberta pra ele entrar.

— Certo.

— Com licença. — ele diz fechando a porta atrás de si.

Ele entra na sala devagar, os ombros um pouco curvados, diferente do garoto que exigia ser ouvido da última vez.

— O que deseja? — ele me olha meio que de boca aberta, mas está muito sério.

Hoje não estou de social, estou usando a blusa do nosso uniforme, calça jeans preta e botas de cano baixo também preta e com meu distintivo no pescoço.

Ele está com o rosto mais sério do que da última vez em que esteve aqui, os olhos marcados por uma noite mal dormida.

— Miguel. — digo me levantando da cadeira. — Aconteceu alguma coisa? —ele assente, sem levantar os olhos de imediato.

— Eu menti. — ele diz, sem rodeios. — Ou melhor... omiti. — estreito os olhos para ele e tento controlar minha voz.

— Vai ter que ser mais específico que isso. — ele puxou a cadeira, sentando como se carregasse o peso do mundo nas costas.

— A Júlia... ela sabia. Ela tava vendendo também. Não só usando. Eu vi. No início da festa, ela recebeu um pacote de um tal de Zeca, ouvi as pessoas o chamando assim, e ela ficou com esse pacote a noite inteira. Eu vi ela entregando pra duas meninas. E pegando dinheiro.

Fico em silêncio por alguns segundos, analisando suas palavras, mas também o rosto dele, que transborda arrependimento.

O que um moleque não faz por uma b*ceta!

— Por que não contou isso antes? — ele respira fundo, apertando as mãos uma na outra.

— Porque eu estava tentando proteger ela. Porque eu gostava dela. — diz com a voz quase num sussurro. — Mas aí ontem... eu descobri que ela estava rindo da minha cara. Disse pros amigos que eu era um “otário”, que só servia para encobrir. Disse que eu ia pagar de inocente enquanto ela saía de boa.

Controlo minha vontade de sorrir.

Homem sendo homem não importa a idade que tenha.

Meu ex marido que o diga, aquele cretino não guardou o p*u nas calças e comeu minha sobrinha em cima da nossa cama.

Infelizmente amava minha sobrinha, amo todos os meus sobrinhos, mas ela sempre foi especial, acho que por ser a única menina, a verdade é que não posso falar no passado, talvez nunca deixe de amá-la, mas não quero mais proximidade com ela.

Minha irmã ficou desolada, me pediu mil perdões, deu uns esporros nela, mas ela é a mãe e jamais vai virar as costas para filha. E eu não esperava menos da minha irmã, ela é uma ótima mãe para os meus sobrinhos, assim como meu irmão também é um excelente pai para seus filhos.

Não faço ideia do que elevou esses dois a fazerem isso. Meu casamento ia bem, estávamos casados há nove anos, nosso sexo era bom, muito bom na verdade. Então eu não sei o que aconteceu e a verdade é que nem quis ouvir explicações.

No dia liguei pra minha irmã e pro meu cunhado e pedi para eles irem buscar a Natasha lá em casa, porque ela estava chorando muito, mas sem eu ter dito nem um a com ela, não disse nada, não fiz nada, não bati. Era só a culpa corroendo ela, pois sempre fiz tudo por ela, fazia além do que eu podia muitas vezes.

E o cretino, pediu desculpas, disse que tinha errado e que ia sair de casa, pois sabia que depois disso eu não o iria querer mais e simplesmente fez as malas e saiu. Isso foi bom, pois não queria ouvir todo aquele papo de arrependimento.

Olho para o moleque a minha frente e não digo nada, estou perdida em meus pensamentos, coisa que ele fez, me fez voltar ao passado.

Nem tão passado assim, faz apenas cinco meses.

— E o que você quer agora, Miguel? — pergunto.

— Eu quero que ela pague pelo que fez. Igual os outros. — ele diz, firme. — Eu não quero me ferrar por causa de alguém que só me usou. — assinto devagar.

— É a decisão certa. Mas é uma decisão difícil, ainda mais pra quem tem só dezenove anos.

— E você? — ele pergunta, mais baixo. — O que você acha de mim agora? — levanto os olhos, e olho para ele de forma mais suave.

— Sabe que mentir pra polícia pode te trazer problemas, não sabe?

— Sei… estudo direito, mas espero que pegue leve comigo, estou te entregando alguém relevante para sua investigação.

— Mesmo assim…

— Que seja, faça o que tem que ser feito! Se for para pagar, eu irei pagar.

— 2 a 4 anos de reclusão e multa. — digo.

— Eu sei!

— Eu acho que você tá crescendo. À força, mas tá. — solto do nada e ele me olha surpreso. — Perguntou o que acho de você… é isso que acho. — ele sorri de leve, sem graça.

— Você ainda é meio intimidadora, sabia?

— Meio? — pergunto levantando uma sobrancelha e ele sorri de lado.

— Muito… — ele diz e é minha vez de sorrir.

— Vou ver o que posso fazer por você Miguel.

— Se eu tiver que vir aqui mais vezes... — ele começou, meio hesitante, — ...você vai continuar me atendendo? — cruzo os braços e olho para ele o mais séria que consigo.

— Talvez. Mas se for só pra me ver, melhor pensar duas vezes. Eu não sou exatamente a companhia mais leve. — digo de uma vez, pois não sou de meias palavras.

Já percebi que esse moleque se joga para mim, mas eu quero distância de problemas, mesmo que esse problema, tenha mais de 1,90 de altura, olhos lindos e lábios convidativos.

Ele me encara com um brilho brincalhão no olhar e eu estreito meus olhos para ele.

— Eu gosto de gente difícil. — arqueio uma sobrancelha, contendo o sorriso.

— Eu posso imaginar que sim… — digo me referindo a sua ex.

— Vou precisar de um advogado?

— Não moleque, vou dar meu jeito. — ele sorri de lado.

— Obrigado.

— Fez bem em me contar… Miguel. — digo e ele olha para o meu sobrenome em minha camiseta.

— Alencar? — ele pergunta.

— Sim.

— Dos advogados? — sorrio.

— Sim, dos advogados, embora minha parte da família não faça parte do Direito. Eu até faço, tive que me formar em direito e exercer por um tempo, já que queria ser delegada.

— Ah! Caio Alencar é o que seu?

— Primo de não sei qual grau, acho que segundo.

— Entendi, minhas irmãs mais velhas que são gêmeas namoram os gêmeos do Caio.

— As loiras… sei.

Alguém bate na porta e eu mando entrar.

— Mika? Desculpa por atrapalhar, o comandante quer te ver. — Clarisse diz.

— Bom, já vou indo, obrigado pela atenção delegada. — Miguel diz.

— Por nada moleque. — ele sorri de lado, me olha mais uma vez e sai da minha sala.

— Lindinho demais. — Clarisse diz quando Miguel sai.

— Novinho… e problemático. — digo.

— Um novinho desse, sentava.

— Cala essa boca sua louca! O comandante tá aí. E além de tudo você é casada, deixa o Samuel te ouvir falando isso. — digo e nós sorrimos.

— Sou muito bem casada, mas também não sou cega.

— Tá bom.

— Vou indo. — ela diz.

É hora de trabalhar e deixar o novinho para lá.

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Comments

Vivi Mary

Vivi Mary

Pensei que a Mika fosse uma das sobrinhas do Caio

2025-05-11

3

Leandra Carla De Oliveira

Leandra Carla De Oliveira

Autora mulher vc voltou, fico feliz com seu retorno, agora um Adams e uma Alencar por mais que seja prima e fogo na certa. E idade e só número ansiosa para o hot desse casal.

2025-05-11

2

Charlotte Peson

Charlotte Peson

Nossa senhora dos leite ninho isso vai virar um belo leite condensado !!! Branco e grosso kkkk🫢🫢🫢🫢

2025-05-11

5

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