o preço da proteção

O escritório de Viktor Salazar, antes luxuoso, agora era uma trincheira. Papéis empilhados, telefones tocando sem parar, vozes gritando ordens confusas. Mas ele mantinha o olhar fixo na garrafa de rum quase vazia à sua frente.

Não dormia há dias. Não comia direito. Seus aliados o pressionavam. Suas bases desmoronavam. O império que levou dez anos para construir se desfazia diante dele. E tudo porque ele havia deixado seu coração vencer a razão.

Por causa de Enzo.

Elena entrou, com o rosto tenso e os olhos vermelhos.

— “Ele matou doze dos nossos homens ontem. Sem aviso. Sem honra.”

Viktor fechou os olhos.

— “Eu sei.”

— “Você ainda vai proteger ele depois disso?”

O silêncio dele foi resposta o suficiente.

Elena se aproximou, jogando um envelope sobre a mesa.

— “Enzo não vai parar. E você sabe que ele não te ama mais.”

Viktor pegou o envelope. Era uma lista de locais sob risco iminente de ataque. Ele os conhecia bem. Foram planejados com Enzo anos atrás, em tempos em que o mundo ainda era mais sonho que sangue.

Ele guardou o papel no bolso. Levantou-se. Penteou os cabelos. Pôs o terno. Olhou-se no espelho.

Parecia forte.

Mas por dentro, estava em ruínas.

Antes de sair, deixou seu celular sobre a mesa, com uma única mensagem não enviada:

> "Se eu desaparecer, é porque ainda te amo."

Mas ele não enviou.

Cortaria o contato.

Sumiria.

Salvaria Enzo — mesmo que fosse dele mesmo.

---

Enquanto isso, no sul da Sicília, Enzo traçava o último ataque.

No fundo da cripta antiga onde enterrava traidores, ele observava uma fotografia antiga: ele e Viktor rindo em Barcelona, mãos dadas, disfarçados sob óculos escuros. Uma ilusão.

Ele pegou a foto. Queimou lentamente com um isqueiro novo.

— “Chega de lembranças.”

Pegou um punhal. A lâmina tinha o nome de Viktor gravado — um presente de anos atrás.

Agora, seria a arma que o mataria.

— “Você escolheu me deixar, Viktor...” — Enzo murmurou, os olhos sem brilho. — “Agora, eu te dou um motivo pra ir embora de verdade."

O céu sobre Marselha estava acinzentado. Um presságio.

Viktor Salazar caminhava apressado pelo galpão, cercado por planilhas, malas de dinheiro e homens armados. Tentava colocar ordem no que restava do seu império. Uma entrega na Hungria atrasada, um acerto de contas em Bogotá, uma reunião marcada com os russos.

Tudo precisava funcionar sem ele.

Porque em breve, ele não estaria mais ali.

— “Acelera os contatos com o cartel de Bucareste,” ordenou a um capanga. “Se conseguirmos garantir essa rota, podemos manter a base espanhola viva por mais alguns meses.”

Mas no meio da frase... ele parou.

Uma pontada aguda no peito o fez cambalear. Sua mão apertou o braço da cadeira. Seus olhos se fecharam por um instante, como se o mundo rodasse.

E então, veio a tosse.

Seca. Rápida. Violenta.

Vermelha.

Ele cuspiu sangue nas costas da mão.

Por um segundo, o mundo ficou em silêncio. Só havia o som da própria respiração falha.

— “Senhor?” — um dos homens se aproximou. — “Está tudo bem?”

Viktor se afastou, rápido, enxugando a boca com o punho.

— “Foi só um cigarro mal apagado. Saia.”

Mas assim que ficou sozinho, cambaleou até o banheiro, trancou a porta e caiu de joelhos no azulejo frio.

A tontura voltou. O suor escorria. O sangue escorria pelo canto da boca. E o medo, esse sim, queimava por dentro.

— “Não agora...” — murmurou para si. — “Não antes de resolver isso. Não antes de vê-lo uma última vez...”

Porque, apesar de tudo, mesmo depois do ódio, da dor, da distância — ainda havia algo dentro dele que sussurrava:

"Você precisa vê-lo de novo."

Mas o relógio estava correndo.

E Viktor, pela primeira vez na vida… não sabia se teria tempo.

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