Os olhos de Enzo ardiam, não por lágrimas — ele havia deixado de chorar anos atrás — mas por um sentimento que nem o tempo ou o sangue conseguiam calar: traição. Não pela emboscada. Mas pelas palavras.
"Não significou nada."
Aquelas quatro palavras ecoavam na cabeça dele como tiros no escuro.
No porão úmido da mansão Moretti, Enzo se sentava à mesa de guerra. Mapas, registros de movimentações, rotas de tráfico... e um único nome circulado em vermelho: Viktor Salazar.
Ele não podia mais hesitar. Seus aliados exigiam uma resposta. A máfia italiana sangrava. Seus homens estavam divididos. E ele… ele já não sabia se ainda era o mesmo.
“Vamos destruir tudo o que ele construiu,” disse a um de seus tenentes. “Base por base. Rota por rota. Se ele quer guerra... vai ter.”
Mas, por dentro, a verdade era outra: ele ainda queria que Viktor explicasse. Que o tocasse como antes. Que dissesse que tudo aquilo foi por proteção… ou por amor.
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Enquanto isso, em um esconderijo nos arredores de Marselha, Viktor observava de longe os movimentos de Enzo.
Ele ouvia os relatórios. Sabia que Enzo estava vindo para destruí-lo. E mesmo assim, não dava ordens de retaliação.
“Por que está permitindo isso?” perguntou seu braço direito, Elena, com raiva. “Ele está desmantelando tudo. Você vai deixar?”
“Sim,” disse Viktor. “Eu vou deixar. Porque se eu atirar de volta... ele vai me matar de verdade. E eu prefiro perder tudo... do que enterrar o único homem que eu já amei.”
Na calada da noite, Viktor mandava alertas anônimos para as bases que seriam atacadas por Enzo, evacuando seus homens antes das ofensivas. Nenhum sangue era derramado. Mas Enzo achava que sim.
Era um jogo silencioso de destruição contida. Enzo tentando machucar. Viktor se deixando ferir — mas protegendo quem o atacava.
Até que um dia, um informante de Enzo revelou algo inesperado:
— “Senhor, temos algo estranho. Nenhuma das bases destruídas tinha resistência. Nenhum homem ferido. É quase como se... ele estivesse nos deixando vencer.”
A mão de Enzo tremeu com o copo de uísque. O coração disparou. Lá no fundo, uma esperança insuportável começou a crescer.
“Ele... ainda me ama?”
O copo de uísque caiu no chão e se espatifou em mil pedaços, mas Enzo nem piscou.
A revelação era como um veneno doce: Viktor estava deixando ele vencer. Estava se deixando perder. Protegendo-o.
Mesmo agora.
Mesmo depois de tudo.
Enzo fechou os olhos com força, como se pudesse expulsar aquele nome da alma. Mas Viktor estava entranhado demais. Na carne. Nos ossos. No passado.
E aquilo doía.
Muito mais do que qualquer bala.
Levantou-se da cadeira num rompante de fúria. Seus punhos acertaram a mesa, espalhando mapas e papéis. Os guardas à porta tremeram, mas sabiam: o Lobo de Palermo não queria ser contido — queria ser temido.
— “Chega.” — murmurou com ódio. — “Ele quer brincar de mártir? De amante arrependido? Então vai aprender o que é ser amado por um monstro.”
Foi até o cofre e puxou um velho isqueiro de prata. Gravado nele, discretamente, estava a letra V, dada por Viktor na única noite em que dormiram em paz.
Olhou para o objeto por alguns segundos. Seus olhos estavam marejados, mas ele sorriu — um sorriso doentio, cheio de dor e raiva.
— “Você me fez fraco, Viktor.” — sua voz era um sussurro cruel. — “E agora, eu vou me curar de você... queimando tudo que me lembra você.”
Jogou o isqueiro no chão e o esmagou com a bota.
Naquela noite, Enzo ordenou algo que nunca tinha feito: que matassem os homens de Viktor, mesmo os desarmados. Nenhuma compaixão. Nenhum aviso.
Queria sangue. Queria dor. Queria se libertar do que sentia.
Mas o que ele ainda não sabia... era que Viktor já tinha descoberto isso.
E, mesmo assim, ainda viria ao seu encontro — não para lutar.
Mas para morrer, se fosse preciso.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Gabi Barbosa
o amor é o melhor e o pior veneno na vida de alguém
2025-06-10
2
Gabi Barbosa
ama sempre amou só falou aquilo para le proteger
2025-06-10
1
Gabi Barbosa
então fale isso pra ele por que é o que ele quer ouvir
2025-06-10
1