Distância Que Queima

Alina chegou à casa que dividia com Mássimo já tarde da noite. O ambiente estava silencioso, como quase sempre ultimamente. Mássimo estava na sala, com o notebook sobre as pernas, digitando concentrado. Não levantou os olhos quando ela entrou, apenas murmurou:

— Foi visitar seus pais?

— Fui sim — respondeu ela, com um tom calmo, mas decidido. Sentou-se de frente para ele, observando o rosto sério, tenso, como se ele estivesse distante mesmo tão perto.

Ele continuou focado na tela. Alina respirou fundo, sentindo o coração acelerar com o peso do que iria dizer.

— Precisamos conversar — declarou, com firmeza.

Mássimo fechou o notebook com um leve estalo e a olhou diretamente, atento.

— Eu decidi voltar para a casa dos meus pais — continuou. — Nosso relacionamento está esfriando, estamos caindo na rotina, Mássimo.

Ele franziu o cenho.

— Do que você está falando, Alina? Você está terminando comigo?

— Não é um término, é um distanciamento. Estamos 24 horas por dia juntos, mas já não é mais a mesma coisa. Quanto tempo faz que não viajamos juntos? Que não temos um encontro quente? Estamos vivendo como robôs programados para repetir tudo, dia após dia. Relacionamento não é isso. Precisamos reacender a chama. E sinceramente, se eu continuar aqui, isso não vai acontecer. Se eu voltar para a casa dos meus pais, talvez a saudade reacenda o desejo, a vontade de estarmos juntos. E o fogo vai voltar. Um relacionamento frio não dá...

Mássimo passou as mãos pelo rosto, visivelmente abalado.

— Eu amo você, Alina. E me perdoe. Eu, como homem, deveria ter percebido que você não estava confortável... deveria ter te tratado melhor. Estamos juntos há quatro anos. Já deveria ter dado o próximo passo, já deveríamos estar casados. Ao invés disso, preferi te chamar para morar comigo. Isso não está certo. Eu errei.

Ela se inclinou um pouco à frente, com os olhos marejados.

— E vamos continuar errando se seguirmos assim. Casar agora não mudaria nada, só o status. O relacionamento seguiria igual. Acho melhor fazer minhas malas e voltar hoje mesmo...

Ele a puxou para um abraço. Ela retribuiu. O beijo dele agora era salgado, banhado por lágrimas. Alina colou a testa na dele, tentando controlar a emoção.

— Não é o fim, meu amor. É apenas um distanciamento. Logo vamos voltar a ser o que éramos antes. Você vai ver...

Mas para Mássimo, aquilo era praticamente um término. Ele havia feito tantos planos. Aquela casa, que parecia um lar, agora lhe parecia um espaço vazio. Viu, na mente, as imagens dos filhos que imaginava correndo ali — e tudo isso se esfarelava diante dele.

Sem dizer mais nada, ele se afastou e foi até a varanda. Não queria vê-la partir.

Assim que a porta se fechou atrás de Alina, ele desabou no meio da sala, silencioso, tentando conter a dor que explodia por dentro.

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Alina chegou à Mansão Ivanov no meio da madrugada. A mãe, Irina, a recebeu com um abraço apertado, caloroso.

— Sentimos tanto a sua falta, minha filha... — murmurou, acariciando os cabelos da filha. — Como foi?

— Difícil... Ele está sofrendo, mas eu achei melhor assim.

— E você fez o certo — disse a mãe. — Não fique com alguém por compaixão ou pena. Se não está bem, precisa se afastar. Quem ama, entende. E se ele também amar, vai lutar por você do jeito certo.

Alina dormiu em paz, mas nem mesmo o conforto do antigo quarto impediu os sonhos inquietos. Um par de olhos verdes invadiu seus pensamentos com força absurda. A forma como a observaram durante a reunião mais cedo... intensa, perigosa, devoradora. Ela acordou suada, o coração acelerado. Precisou tomar um banho gelado para se recompor.

Pela manhã, Irina percebeu o olhar distante da filha durante o café.

— Dormiu mal por causa do Mássimo?

— Ah... acho que é só questão de me readaptar. Casa nova, rotina nova de novo...

Ao chegar na empresa, não encontrou Mássimo no escritório. O lugar parecia mais silencioso do que de costume. Precisou assumir tudo sozinha e se segurar para não ir até o apartamento dele. Mas não podia ceder. Não podia voltar só por compaixão. Ela queria mais que isso. Precisava de verdade, de desejo, de amor pulsando.

Sem alternativas, bateu à porta do escritório de Maxim, irmão de Mássimo.

— Algum problema, Alina? — ele perguntou, levantando os olhos do relatório que lia.

— Maxim, eu decidi voltar pra casa dos meus pais. Meu relacionamento com o Mássimo não está como antes...

— Sinto muito. Vocês... terminaram?

— Não foi um fim. Foi uma mudança. Um afastamento. Estávamos caindo na rotina. Mas estou preocupada. Ele não veio hoje, e tenho medo de que ele faça alguma bobagem... Só que também não quero ir visitá-lo e acabar voltando por piedade. Não seria justo nem comigo, nem com ele.

— E nem deve fazer isso. Você só deve voltar se acreditar que é o certo. Não se sinta obrigada a nada que não te traga paz. Vou passar lá depois e ver como ele está, tá bem?

Ela assentiu, aliviada.

Retornou à sua sala tentando manter o foco. Foi quando o telefone tocou. A secretária transferiu a ligação, e uma voz grave ecoou do outro lado da linha.

— Senhorita Ivanov?

Alina congelou. Era ele.

— Apesar de já termos assinado o contrato, há algumas cláusulas que me deixaram em dúvida — disse Viktor, com uma calma que beirava a provocação. — Gostaria de marcar uma reunião para que a senhorita pudesse me explicar pessoalmente...

Ela respirou fundo. Aquela voz... mexia com ela de um jeito irracional. Um calor subiu por seu corpo e ela precisou morder um lápis, inconscientemente apertando as coxas uma contra a outra.

— Sim, claro... posso ir ao fim do dia.

— Estarei ansioso pela sua chegada.

A ligação caiu, mas as palavras dele ecoaram como uma profecia. Alina apoiou as mãos na mesa e encarou o próprio reflexo na tela desligada do computador.

Será que ela conseguiria sobreviver a essa reunião?

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