Herdeiros da Chama

O som do metal se chocando ecoava pelas muralhas de pedra viva do Clã Ignis. As chamas ao redor da arena dançavam como espectadores frenéticos, alimentadas pela fúria, suor e determinação dos combatentes. A prova final havia começado, e o fogo do passado ardia nos olhos de cada guerreiro ali presente.

Kael foi o primeiro a se mover. Como um raio incandescente, avançou contra um adversário que empunhava correntes flamejantes. As espadas gêmeas de Kael riscaram o ar, deixando rastros de calor visível. O inimigo tentou prender seus braços, mas Kael girou sobre si mesmo, desviando por pouco e cravando as lâminas cruzadas no ombro do oponente. A corrente caiu ao chão em brasa, derrotada junto de seu portador.

Do outro lado da arena, Lyra enfrentava dois guerreiros ao mesmo tempo. Um usava punhos de lava endurecida, o outro manipulava rajadas de fogo a distância. Ela girava sua lança de energia azul com precisão milimétrica, bloqueando golpes e lançando investidas rápidas. Com um salto calculado, cravou a lança no chão, liberando uma onda de choque elétrica que desequilibrou seus oponentes.

— Não subestimem minha vontade. — disse ela com firmeza, os cabelos esvoaçando sob o calor.

Kael, agora livre, correu para ajudá-la. Mas ela apenas ergueu a mão.

— Confia em mim. Termina o que começou.

Kael parou. Entendeu. Era a hora de cada um brilhar à sua maneira.

No centro da arena, um rugido rasgou o ar. O último guerreiro restante era o mais temido entre os jovens: Tharion, o braço direito do líder Velkhan. Ele havia escolhido participar para "garantir" que apenas os dignos saíssem dali vivos. Seu corpo era coberto por escamas negras, e suas mãos flamejavam como fornalhas.

— Vocês não são dignos. São só crianças brincando com fogo. — ele grunhiu, avançando sobre Kael.

O impacto do soco de Tharion lançou o jovem alguns metros para trás. Kael se ergueu com dificuldade, sangue escorrendo da boca.

— Você fala demais... — respondeu, girando suas espadas e cruzando-as em X sobre o peito. — ...hora de mostrar por que fui forjado nesse fogo.

As espadas brilharam. Um símbolo ancestral se acendeu em suas lâminas: a Marca da Chama Interior. Era o poder de seu sangue respondendo ao seu espírito. Kael investiu com ferocidade renovada, esquivando dos ataques e, com uma combinação brutal, perfurou a defesa de Tharion. A última estocada, nas costelas, o fez desabar com um grunhido de dor e surpresa.

Enquanto isso, Lyra finalizava os dois oponentes com movimentos suaves, como uma dança elétrica entre lanças e saltos. Com uma última rajada azul, ela os derrubou ao chão, inconscientes.

Silêncio.

O fogo ao redor diminuiu. Velkhan, que observava do alto, ergueu a tocha ancestral. Seus olhos fixaram os irmãos, agora ajoelhados, respirando com dificuldade, mas firmes.

— Kael Ignis. Lyra Ignis. Vocês se provaram. Não apenas pela força… mas pelo domínio sobre si mesmos. Pela lealdade. Pela união. — Sua voz ecoava pela arena.

A tocha acendeu ainda mais, e duas labaredas se desprenderam como serpentes vivas. Elas avançaram pelos céus e mergulharam nos corpos dos irmãos. Kael gritou, Lyra apertou os olhos. As chamas os envolveram e, por um instante, desapareceram dentro deles.

Quando tudo cessou, ambos estavam de pé. Seus olhos tinham um brilho diferente. Em seus braços, marcas vivas de fogo surgiram: runas ancestrais, como tatuagens em brasa, gravadas pela própria essência do clã.

— Vocês são agora os Portadores da Ignis. Herdeiros da Vontade Flamejante. — disse Velkhan.

O clã inteiro se ajoelhou. Até mesmo os derrotados. Ali, ninguém podia contestar. Eles eram os escolhidos.

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Dias depois, enquanto o sol despontava por entre as montanhas flamejantes, Kael e Lyra estavam de pé diante dos portões do clã. Cada um carregava consigo sua arma selada em compartimentos especiais forjados pelo mestre ferreiro. Suas vestes haviam sido trocadas: agora usavam trajes cerimoniais com o emblema do clã no peito, e uma longa capa vermelha que simbolizava a jornada.

Velkhan se aproximou, com um olhar severo, mas orgulhoso.

— Vocês representam mais do que o nosso clã. Representam o que o fogo é de verdade: destruição, sim… mas também renascimento. — Ele estendeu as mãos, entregando a cada um um pequeno cristal. — Isso os guiará até a Arena da Convergência. Lá, outros como vocês estarão esperando. Alguns lutarão com honra. Outros… nem tanto.

— Estamos prontos. — disse Kael, firme.

Lyra assentiu.

— Nos encontraremos de novo, quando a chama retornar.

Velkhan sorriu pela primeira vez.

— Ou quando ela consumir tudo.

Com um último olhar para seu lar, os irmãos partiram. O caminho à frente era incerto. Mas a chama dentro deles jamais os deixaria perder o rumo.

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