O Fardo da Escolha

A noite se impôs sobre o território do Clã Ignis como um véu de silêncio carregado. A fortaleza, construída nas encostas de um vulcão adormecido, tremeluzia sob a dança incessante das chamas e da lava que corria abaixo dos alicerces. O calor era constante, mas naquela noite o que fazia suar os guerreiros não era o fogo – era o medo.

Um grande círculo fora formado no pátio principal. Rochas negras delimitavam o espaço sagrado onde as decisões mais importantes do clã eram tomadas. Os jovens que haviam passado pelas fases iniciais da seleção estavam ali, calados. Alguns fitavam o chão, outros observavam o céu vermelho-alaranjado, tentando se distrair da tensão que os consumia por dentro.

Velkhan, o líder supremo do Clã Ignis, surgiu com passos firmes. Sua armadura era feita de escamas negras com veios de magma, e sua presença parecia curvar o ar ao redor. Nas mãos, ele carregava a tocha ancestral – um artefato que havia sido passado de geração em geração. Sua chama era especial: alimentada não por óleo, mas por sangue e promessas.

Ele parou no centro do círculo. As chamas da tocha reagiram à sua presença, intensificando-se, como se soubessem que mais uma decisão marcaria o destino do clã.

— Vocês cresceram ouvindo histórias sobre os heróis de Ignis. Sobre os escolhidos que carregaram a chama além das fronteiras e selaram alianças, guerras e vitórias. Mas o que ninguém diz… é o peso que essa escolha traz. — Sua voz soava como um trovão abafado.

Os olhos de todos se voltaram para ele. Havia respeito… e temor.

— Somente dois receberão a marca. Serão os representantes do nosso sangue no Torneio da Convergência. O restante… vocês são a base. O calor invisível que mantém o fogo vivo. — disse Velkhan, girando lentamente a tocha no ar.

Aos poucos, brasas flutuantes se desprendiam da chama e giravam em torno dos jovens como espíritos observadores. Algumas tocavam a pele de um ou outro guerreiro, causando pequenos calafrios, como se já sondassem seus destinos.

Kael olhava tudo com olhos cerrados. Ele não temia a luta — estava pronto. Mas o que o preocupava era Lyra. Ela permanecia imóvel, mas seu semblante denunciava a tempestade interna. Ele se aproximou.

— Está pronta para isso? — sussurrou, quase sem encostar nela.

Lyra não respondeu de imediato. Fixava as brasas que flutuavam ao redor como se fossem estrelas cadentes anunciando desgraça.

— Não sei se quero essa marca, Kael. Porque toda vez que nos dizem que é uma honra… alguém não volta.

— Então voltamos nós. Juntos. Como sempre.

O silêncio foi quebrado quando Velkhan ergueu a tocha para o céu. As brasas subiram e, como se obedecessem a um comando antigo, explodiram em pequenos círculos flamejantes.

— Comecem. — disse ele, em tom fúnebre.

O chão estremeceu. As pedras ao redor do círculo se acenderam com runas antigas. A arena estava selada. Os guerreiros restantes — seis ao todo — se entreolharam. Estavam prontos para lutar entre si. Todos sabiam que apenas dois sairiam marcados. Os outros, talvez não saíssem de todo.

Kael girou sua espada envolta em calor, o metal vibrando com a antecipação. Lyra segurou firme sua lança de energia azul, seus olhos finalmente decididos.

A primeira batalha iria começar.

E o clã inteiro assistiria.

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Comments

Yue Sid

Yue Sid

Detalhes que encantam.

2025-05-09

1

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