Capítulo 04

.

A voz do gerente do hotel ainda ecoava nos meus ouvidos enquanto eu atravessava os corredores em passos firmes. Meus punhos estavam cerrados, o maxilar travado. O que aconteceu era inadmissível. Eu confiava em cada homem que vesti com o símbolo da minha empresa — e ainda assim, deixaram aquilo acontecer.

— Onde eles estão? — perguntei assim que encontrei um dos líderes da segurança na entrada do salão de eventos.

— Na sala de monitoramento, senhor. — respondeu com a cabeça baixa, evitando meu olhar.

Empurrei a porta com força. Três seguranças estavam ali, todos tensos, como se já soubessem o que os aguardava.

— Alguém vai me explicar como, em um dos meus hotéis, com um sistema de segurança que eu mesmo exigi que fosse de ponta, um grupo conseguiu entrar com câmeras escondidas e se infiltrar como convidados VVIP? — cuspi as palavras.

Silêncio.

— Estamos apurando, senhor. Aparentemente, alguém da equipe terceirizada da recepção...

— “Aparentemente” não me serve. — interrompi, o tom mais baixo, mas cheio de veneno. — Vocês não têm ideia do quanto isso pode nos custar. Imagem, reputação… e principalmente, segurança. Havia filhos de hóspedes importantes ali, influenciadores. Minha esposa poderia estar lá.

— Ela não estava, senhor. — um deles tentou suavizar.

— Isso não muda nada. A possibilidade já deveria bastar para vocês estarem em alerta total. — aproximei-me de um deles, o que mais tremia. — Se eu não puder confiar em vocês, me digam agora. Porque eu desmonto esse time inteiro hoje mesmo.

Engoli seco, tentando me acalmar. Jade… Me veio à mente o jeito como ela tentou esconder a frustração no aeroporto. Eu conhecia cada expressão daquela mulher. E por mais que ela tenha tentado sorrir, eu vi nos olhos dela o incômodo, a decepção. Eu não podia culpá-la.

Mas eu precisava estar ali.

Pelo nosso império. Pelo nosso nome. Pelo futuro dos nossos filhos.

— Quero os relatórios completos até amanhã. Imagens, listas, identificação dos infiltrados. E liguem para o jurídico. Se essa história vazar, alguém vai pagar caro. — disparei antes de sair da sala.

No corredor, respirei fundo. Tirei o celular do bolso. Uma notificação de foto: Jade com os meninos. Os dois dormindo no colo dela no sofá.

Minha casa.

Meu lar.

E eu ali, no meio do caos.

Passei a mão pelo cabelo, já impaciente. A noite tinha caído sobre Angra e, ao contrário do que eu havia planejado, não estava em casa com minha esposa e filhos — estava enfiado em uma crise de reputação que poderia comprometer todo o legado Montenegro.

— Senhor, temos identificação de dois dos infiltrados. Falsos convidados de um grupo rival interessado em expor falhas em redes hoteleiras de luxo. — informou Felipe, meu chefe de segurança, entrando na sala com os papéis em mãos.

— Eles gravaram algo? — perguntei, já imaginando os sites de fofoca e portais de negócios explorando cada segundo de qualquer gravação.

— Sim. Imagens das áreas de circulação restrita. Já estamos tentando derrubar das redes, mas…

— Mas vai vazar. Sempre vaza. — completei, sentindo o peso nas costas crescer.

Felipe assentiu, incômodo.

— Estou rastreando os dispositivos. Eles ainda estão em Angra. Queremos que a polícia interfira diretamente ou…

— Não. Ainda não. Isso pode piorar. Primeiro, contenham. Depois, silenciem. E quando tivermos certeza de que não há mais vazamentos, então envolvemos a polícia com a versão que for mais conveniente.

Felipe hesitou por um segundo, mas apenas assentiu.

— Pode deixar comigo.

Assinei o relatório de contenção com uma caneta firme.

— Senhor, temos uma situação. Um dos hóspedes importantes, o embaixador francês, quer falar com o senhor sobre o ocorrido. Está ameaçando processar.

Levantei a cabeça. Meus olhos endureceram.

— Então vamos resolver isso agora. E Felipe… — olhei nos olhos dele — se mais uma câmera clandestina aparecer dentro de um dos meus hotéis, você vai buscar emprego em outro continente. Entendido?

Ele apenas assentiu, engolindo em seco.

A guerra estava declarada — e eu não perderia.

O embaixador francês estava mais indignado do que eu esperava — e olha que já lidei com muitos egos inflados nesse ramo.

— É inadmissível! — ele exclamou com um sotaque carregado, jogando sobre a mesa uma foto impressa de um corredor de serviço com fios expostos. — Isso estava atrás da minha suíte presidencial. Um escândalo, senhor Montenegro!

Segurei a vontade de revirar os olhos. A foto era real, mas tirada em um dos momentos de manutenção. Aquele acesso era fechado, jamais acessível por hóspedes. Mas os infiltrados sabiam exatamente onde mirar.

— Embaixador, entendo sua frustração. Mas peço que o senhor perceba o óbvio: alguém com más intenções esteve aqui e forjou a situação. A segurança do nosso hotel já identificou os responsáveis e estamos tomando as devidas providências legais e técnicas. — disse, com a calma que só anos de negociações me deram. — O senhor é um dos nossos hóspedes mais valiosos, e estamos oferecendo uma compensação completa pela estadia e acesso exclusivo à nova unidade de Angra, como pedido formal de desculpas.

Ele me analisou por um segundo, ponderando.

— Angra… e com acesso ao heliponto?

— Claro.

— Hmph. Muito bem.

Quando ele saiu, com a arrogância satisfeita, afundei na cadeira, massageando as têmporas.

Já passava das meia noite. Peguei o celular.

Mensagem não lida de Jade (há 45 min): “Vou deitar. Tenta descansar, tá? Boa noite, meu amor.”

Meus dedos pairaram sobre o teclado, mas eu sabia que nenhuma mensagem apagaria o vazio da ausência que ela estava sentindo. Nem o peso que eu carregava por isso.

Eu prometi a ela que conseguiria equilibrar tudo — o império, a família, o amor. Mas às vezes… tudo parecia um castelo de cartas prestes a cair.

Guardei o telefone, levantei da cadeira e fui até a varanda da suíte executiva. A noite estava quente, abafada, sem vento. O mar ali na frente parecia imóvel, como se observasse tudo em silêncio.

E eu pensei em Jade.

E na certeza de que, quando tudo isso passasse, eu precisaria provar — mais uma vez — que ela ainda era minha prioridade.

Mesmo que o mundo inteiro tentasse me tirar dela.

Mais populares

Comments

Kah

Kah

Arthur, tô ligada na correria dos seus negócios e no sufoco que você tá passando. Mas não esquece de dar um jeito de agradar a patroa, viu?

2025-05-12

3

Yasmim Borges

Yasmim Borges

como ele consegue ser tão fofo e tão fdp ao mesmo tempo 😔KAKAKAK

2025-05-07

3

Phillip Shakespeare

Phillip Shakespeare

um soco na cara resolver quero dizer diálogo tudo se resolve no diálogo

(Diálogo= um bastão escrito diálogo)

2025-05-12

3

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!