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Acordei com a luz suave do pôr do sol invadindo o quarto, tingindo as paredes em tons quentes de laranja e rosa. A cena parecia pintada à mão, como se o universo quisesse nos presentear com um instante de paz. Me espreguicei devagar, sentando na cama e encarando Arthur, ainda adormecido ao meu lado.
Seu rosto calmo, os cabelos bagunçados, o peito subindo e descendo em um ritmo tranquilo... era difícil acreditar que, mesmo com tudo, ainda conseguíamos ter momentos assim.
Mesmo sendo uma viagem de trabalho, aquilo tinha gosto de fuga. E, por um instante, tudo o que existia era ele e eu.
Puxei o lençol até o peito e me levantei em silêncio, caminhando até o banheiro. Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre meus ombros, relaxando cada músculo do corpo. Meus olhos se fecharam instintivamente, até sentir as mãos conhecidas de Arthur na minha cintura e seus lábios tocarem meu ombro com delicadeza.
— Nosso jatinho sai às sete e meia — ele murmurou contra minha pele, a voz rouca e ainda levemente sonolenta.
Sorri sem abrir os olhos.
— Tudo bem… Mas podemos comer antes? Tô morrendo de fome.
— Já pedi comida — respondeu, deslizando as mãos pela minha barriga. — Vai chegar em vinte minutos.
Virei-me devagar para encará-lo, e ele me recebeu com aquele sorriso torto que sempre me desarmava. Nossos corpos ainda colavam com naturalidade, como se o mundo lá fora simplesmente não existisse.
— Então temos vinte minutos, senhor Montenegro — murmurei, erguendo a sobrancelha com diversão.
— É tempo suficiente. — ele respondeu, me puxando para mais perto.
...(...)...
Dentro do carro a caminho do aeroporto, o céu estava estrelado.Eu estava com a cabeça apoiada no ombro de Arthur enquanto assistíamos à tela do celular, sorrindo juntos.
— Mamãe! Papai! — gritou Benício, do outro lado da videochamada, com os olhinhos castanhos brilhando de empolgação.
— A gente pintou um dinossauro! — completou Gael, mostrando um papel cheio de tinta, como se fosse uma obra de arte digna de galeria.
Meus olhos se encheram de ternura. Era impossível olhar para aqueles dois e não sentir o peito transbordar.
— Que lindos, meus amores! Eu tô tão orgulhosa! — falei, mandando beijos estalados para a tela. — E vocês estão obedecendo a tia Ana?
— Tô! — disse Gael.
— Eu não muito — confessou Benício, rindo. — Mas é porque ela não deixou a gente comer chocolate antes do jantar.
Arthur soltou uma risada baixa e passou a mão pelos cabelos.
— Escuta aqui, campeão… a titia tá certa. Se vocês comerem chocolate antes do jantar, vão virar monstrinhos elétricos. E a mamãe e o papai vão voltar só daqui algumas horas.
— algumas horas? — os dois fizeram uma carinha triste ao mesmo tempo.
— É só mais umas duas horas, meus amores — disse, tentando não me emocionar. — Quando a gente chegar, vamos levar vocês no parquinho e tomar sorvete, que tal?
As duas carinhas imediatamente se iluminaram.
— Sorvete de morango? — perguntou Benício.
— E de chocolate — completou Gael.
Arthur assentiu com um sorriso cúmplice.
— Com cobertura, confetes e tudo que vocês tiverem direito.
A babá apareceu ao fundo avisando que era hora do banho, e depois de mais alguns beijos e "eu te amos", encerramos a chamada. O silêncio no carro foi preenchido apenas pela música suave que tocava no rádio e pelo som discreto da cidade do lado de fora.
Arthur entrelaçou os dedos nos meus.
— Eles estão crescendo tão rápido…
— É. E cada vez que a gente se afasta, parece que perco alguma coisa importante.
Ele beijou minha mão com carinho.
— Mas a gente tá fazendo o que precisa, Jade. Por eles. Por nós.
Assenti, encostando a cabeça no vidro. A saudade já apertava, mas eu sabia: estávamos tentando manter tudo em pé. E ainda havia amor. Tanto amor.
Assim que o carro parou diante do hangar, senti um aperto bom no peito. Estávamos prestes a voltar pra casa, ver os meninos, dormir na nossa cama. Mesmo que a viagem tivesse sido a trabalho, esses dias com o Arthur tinham sido como um respiro.
Peguei minha bolsa, pronta pra descer, quando ouvi o celular dele tocando. Ele atendeu no mesmo segundo e saiu do carro.
— Fala. — Foi tudo o que disse.
Observei pela janela. Seu corpo ficou tenso. A expressão suave que ele carregava no rosto até agora se desfez. Os olhos estavam sérios. Sombrios.
Desci com calma e fui até ele, já prevendo que algo estava errado.
— Arthur?
Ele desligou e virou-se pra mim devagar, com aquele olhar que sempre me alertava antes mesmo de qualquer explicação.
— Deu problema em um dos hotéis. Hóspedes influentes, confusão com segurança… pode vazar pra imprensa. Eu preciso ir pra lá agora.
Tentei sorrir, fingir que entendia, que tudo bem. Mas a verdade é que doeu. Não por causa do trabalho em si — eu sempre admirei o que ele construiu —, mas porque hoje, justamente hoje, nós tínhamos prometido chegar juntos. Ver o sorriso dos nossos filhos juntos.
— Mas... o voo... os meninos estão esperando a gente.
— Eu sei. — Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente incomodado. — Mas isso é grande, Jade. Se eu não resolver agora, pode afetar tudo.
Assenti com a cabeça. Forcei um sorriso. Tentei esconder, mas ele percebeu. Sempre percebe.
— Você tá chateada.
— Não tô. Só queria ir com você… como a gente combinou.
Arthur se aproximou e segurou meu rosto com as duas mãos. O toque dele sempre teve esse poder de me acalmar e me despedaçar ao mesmo tempo.
— Eu também queria. Prometo que volto amanhã. Eu te amo, Jade.
Fechei os olhos quando ele beijou minha testa. Era um beijo cheio de pressa e cuidado. Um beijo que sabia que estava deixando pra trás o que mais amava.
— Também te amo — sussurrei, com a garganta apertada.
Ele virou-se e deu ordens aos seguranças.
— Levem minha esposa pra casa com segurança. Quero mensagem quando ela pousar.
E então ele se foi, entrando em outro carro, indo salvar o império que construiu.
Fiquei ali, parada por alguns segundos, sentindo o vento da pista bater no rosto, enquanto os motores do jatinho já rugiam, prontos pra decolar.
Engoli o nó na garganta e entrei na aeronave.
Mais uma vez, sozinha.
O voo foi tranquilo, mas eu não consegui relaxar.
Enquanto a cidade de São Paulo surgia pela janela, toda iluminada, meu peito apertava. Era um vazio silencioso, do tipo que só quem ama alguém ausente entende. Eu sabia que ele tinha feito o que precisava, mas isso não fazia a ausência doer menos.
Assim que o jatinho pousou, os seguranças me acompanharam até o carro que nos esperava. Durante o trajeto, olhei pela janela, distraída. Já era tarde, e eu só queria chegar em casa, abraçar os meninos, sentir aquele cheirinho de shampoo infantil misturado com biscoito — que só quem é mãe entende.
Quando a porta do carro abriu em frente à nossa casa, ouvi antes mesmo de ver:
— Mamããããe!
Benício e Gael correram na minha direção como dois foguetes em miniatura. Deixei a bolsa cair no chão e me abaixei, abraçando os dois ao mesmo tempo, esmagando-os contra o peito.
— Meus amores… — beijei o topo da cabeça de cada um, sentindo os olhinhos curiosos me analisando.
— Cadê o papai? — perguntou Gael, com um biquinho quase irresistível.
— Ele precisou resolver uma coisa importante no trabalho, mas disse que ama vocês e que volta amanhã.
Eles assentiram com a inocência de quem ainda acredita que o mundo gira ao nosso redor. Pegaram nas minhas mãos e me puxaram pra dentro, falando todos ao mesmo tempo sobre o que tinham feito, o desenho que assistiram, a guerra de travesseiros que o tio Nico deixou.
E naquele momento, cercada pelos meus filhos, sentindo a bagunça deles tomar conta da casa… o vazio foi ficando menor.
Mas ainda estava ali.
Porque o lugar do Arthur era aqui. Com a gente.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Autora najuzinha
Eu sei q a autora colocou a foto dos personagens, mas eu assisti Rei Arthur sempre q ela menciona ele minha mente automaticamente imagina o ator do filme
2025-05-13
3
Autora najuzinha
Tenho medo do futuro dessa obra (que aliás é maravilhosa e bem construtiva) pq o casal está suave por enquanto mas tem tanto capítulos
2025-05-13
2
•♫•♬•Íris•♫•♬•
Esse nome jade lembra de uma amiga minha que teve uma neném recentemente,e colocou nome jade,aí imagino a mulher sensual neném /Facepalm/.
2025-05-12
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