Capítulo 9 – Segredos de Sangue
O dia amanheceu cinzento, com nuvens baixas cobrindo o céu como um véu de luto.
Elisa sentou-se à mesa da cozinha, o medalhão repousando no centro, como uma peça de xadrez esperando seu movimento.
Gabriel apareceu na soleira da porta, os olhos marcados pelas noites mal dormidas e pelo peso das revelações que guardava.
— Precisamos conversar — disse ele, a voz grave.
Ela apenas assentiu.
Ele se aproximou e puxou uma cadeira.
— A nossa família, os Moretti, não é apenas uma linhagem antiga. Somos... herdeiros de um pacto ancestral. — Fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. — Um pacto selado há séculos para proteger algo muito mais sombrio do que ouro ou terras.
Elisa franziu o cenho.
— O que eles estavam protegendo?
Gabriel olhou para o medalhão, como se ele próprio fosse um lembrete doloroso.
— Uma entidade. Um espírito antigo, aprisionado sob esta terra.
Nossos antepassados fizeram um acordo: em troca de prosperidade e proteção, manteriam a entidade adormecida... através de rituais, sacrifícios e, sobretudo, com a sucessão do juramento de sangue.
Elisa sentiu a garganta secar.
— Sacrifícios?
Gabriel assentiu, sombrio.
— Nem sempre foram vidas humanas. Mas quando os sinais de fraqueza surgiam — mortes inexplicáveis, colheitas arruinadas, doenças — era exigido algo mais... algo vivo.
E sempre recaía sobre o herdeiro proteger o segredo, mesmo que isso custasse tudo.
Ela se levantou de súbito, o medo transformando-se em raiva.
— E eu? Por que não fui avisada? Por que me deixar voltar aqui sem saber de nada?
Gabriel se levantou também, a dor evidente em seu rosto.
— Porque Helena achava que poderia quebrar o ciclo. Ela tentou proteger você.
Escondeu o anel, afastou a família, desfez os rituais.
Mas o preço pela ruptura do pacto foi alto. E agora... a dívida recaiu sobre você.
O silêncio entre eles era denso, quase palpável.
Do lado de fora, o vento uivava como uma advertência.
Elisa sabia que não podia mais fugir.
O sangue Moretti corria em suas veias.
E com ele, as sombras que agora reclamavam o que lhes era devido.
Ela encarou Gabriel, os olhos duros de decisão.
— Me diga o que preciso fazer.
E assim, os laços de sangue e segredo se apertaram ainda mais ao redor dela.
Capítulo 10 – O Ritual Esquecido
As primeiras gotas de chuva tamborilavam no telhado quando Gabriel puxou uma caixa pesada de madeira do fundo do armário da cozinha.
Elisa observava em silêncio, os sentidos alertas, enquanto ele limpava a poeira da tampa e abria o fecho antigo.
Dentro, havia cadernos de couro envelhecido, velas pretas, um punhal prateado e uma pequena estátua esculpida em pedra escura — a representação grotesca de uma criatura que Elisa mal conseguia encarar sem sentir um calafrio.
— Esses objetos pertenciam ao círculo original dos Moretti — explicou Gabriel, com a voz abafada. — Tudo o que eles usaram para manter o espírito selado.
Ele entregou a ela um dos cadernos.
As páginas frágeis estavam cobertas de símbolos arcanos, misturados a palavras em latim e antigos dialetos que Elisa mal conseguia compreender.
Porém, em meio à confusão de termos e instruções, uma frase se repetia, sempre destacada em tinta vermelha:
"Ad pactum ruptum, ritus oblitus est. Revocatio."
(Quando o pacto é rompido, o ritual esquecido deve ser lembrado.)
Elisa olhou para Gabriel, o coração batendo descompassado.
— Há uma chance — disse ele, baixando a voz — de reverter parte da maldição.
Mas para isso... teremos que realizar o Ritual Esquecido.
E não será sem riscos.
Ela virou a página e encontrou um esboço do ritual: precisariam dos objetos antigos, do anel, do medalhão — e de um sacrifício simbólico.
— "Um fio de sangue, um juramento renovado, uma escolha feita sob o olhar da noite." — Elisa leu em voz alta, os olhos arregalados.
Gabriel assentiu.
— Precisamos fazer isso antes da próxima lua cheia. Se não conseguirmos... a entidade despertará completamente.
E não haverá nada que possa contê-la.
O trovão ribombou tão forte que a casa inteira pareceu estremecer.
Elisa fechou o caderno com firmeza.
— Então, vamos nos preparar.
Se este é o preço para libertar minha família, estou pronta.
No fundo da casa, algo rangeu — como se as próprias paredes ouvissem sua decisão.
O tempo estava se esgotando.
E as sombras sabiam disso.
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Atualizado até capítulo 54
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