Capítulo 7 Vozes na Escuridão
A madrugada envolvia a Casa Moretti como um véu pesado.
Cada rangido da madeira, cada sussurro do vento contra as janelas, parecia amplificado na mente de Elisa.
Ela não conseguiu dormir.
O anel queimava em seu dedo como se tivesse vida própria, uma pulsação invisível que a mantinha acordada, presa entre o medo e a curiosidade.
Sentada na poltrona da sala, com a carta de Helena repousando no colo, ela lutava para colocar seus pensamentos em ordem.
Foi então que ouviu.
No começo, pensou ser o vento...
Mas a voz era clara, baixa, como um sussurro diretamente em seu ouvido.
— Elisa...
Ela se levantou de um salto, os olhos varrendo a sala vazia.
O relógio, o velho quadro de família, o tapete desbotado... nada parecia fora do lugar. E ainda assim, o chamado se repetiu.
— Venha...
O som vinha do andar de cima.
Contra toda lógica e instinto, Elisa subiu a escadaria, o corrimão gelado sob sua mão suada.
No corredor, uma porta semiaberta deixava escapar uma luz fraca e tremeluzente.
Ela empurrou devagar.
Era o antigo escritório de Helena.
Livros antigos, documentos espalhados, um pequeno lampião aceso — mas ninguém à vista.
Sobre a mesa, um diário de capa de couro preto repousava, como se a esperasse.
Quando tocou o diário, um arrepio percorreu sua espinha.
As primeiras páginas estavam vazias.
Mas conforme ela folheava, as palavras começavam a surgir, como se fossem escritas diante de seus olhos.
"O pacto foi selado com sangue.
A herdeira deve escolher.
Se falhar, as sombras reclamarão o que lhes é devido."
A última linha tremia diante dela como uma ameaça.
No corredor atrás de Elisa, uma sombra se moveu.
E desta vez, a voz não foi um sussurro, mas um grito abafado:
— Corra!
Ela largou o diário e correu sem olhar para trás, o coração batendo como um tambor de guerra.
A Casa Moretti estava viva.
E os segredos que guardava não pretendiam deixá-la escapar tão facilmente.
Capítulo 8 O Primeiro Sinal
Elisa atravessou a casa correndo, o som de seus passos ecoando como tambores de guerra no silêncio da madrugada.
Quando finalmente alcançou a porta da frente, encontrou-a trancada.
O trinco, que até então se movia facilmente, agora parecia selado por uma força invisível.
Ela lutou com a maçaneta, empurrando, puxando — em vão.
Então, no canto da visão, algo chamou sua atenção.
Gravado no espelho antigo da entrada, em letras que pareciam ter sido desenhadas por dedos invisíveis, havia uma única palavra:
"Escolha."
Seu peito arfava em desespero.
Elisa sabia, instintivamente, que o que quer que estivesse preso naquela casa não pretendia deixá-la ir até que tomasse uma decisão.
De repente, a lâmpada sobre sua cabeça estourou, lançando a sala em trevas.
No breve clarão da explosão, ela viu — refletida no espelho — uma figura feminina de cabelos longos e negros, de vestido antigo, parada atrás dela.
Mas quando virou-se, a sala estava vazia.
Com o coração disparado, Elisa recuou até encontrar uma parede onde pudesse apoiar-se.
Fechou os olhos por um instante, tentando recuperar o controle.
Não é real. Está tudo na minha cabeça. É o medo... só o medo.
Ao abrir os olhos, porém, viu algo caído a seus pés: um medalhão dourado, idêntico ao da foto no relicário — o que Helena usava sempre ao redor do pescoço.
Ela se abaixou para pegá-lo e, no mesmo instante, uma dor aguda perfurou seu peito.
Imagens invadiram sua mente:
Uma cerimônia à luz de velas.
Pessoas encapuzadas sussurrando em torno de um círculo.
Gabriel, ainda garoto, jurando algo que ela não conseguia compreender.
E a voz de Helena, ecoando firme no meio do caos:
— Proteja-a. A qualquer custo.
O chão pareceu inclinar-se sob seus pés.
Elisa cambaleou, agarrando-se à parede para não cair.
O medalhão brilhou em sua mão, quente, pulsante.
O primeiro sinal havia sido dado.
E agora, a verdadeira luta começaria.
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Atualizado até capítulo 54
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