– A Babá e Seus Sonhos
Rafaela sentou-se no sofá da sala elegante, ainda um pouco encantada com o espaço. O apartamento de Lucas era amplo, moderno, com grandes janelas de vidro que deixavam a luz entrar generosa. Mas, apesar da sofisticação, havia uma bagunça carinhosa espalhada — brinquedos, almofadas no chão, desenhos infantis colados na geladeira. Uma mistura de lar e infância.
Lucas trouxe duas xícaras de café e sentou-se à sua frente, com Benjamim empoleirado no colo, abraçado a um boneco de astronauta.
— Então, Rafaela... quero saber um pouco mais sobre você — ele disse, com um tom cordial, mas observador.
Ela sorriu, ajeitando uma mecha do cabelo que escapara do coque.
— Claro. Bom, tenho 26 anos, sou do interior da Toscana, filha de professora e padeiro. Cresci entre livros e farinha de trigo. Sou formada em pedagogia, mas a vida em cidade pequena nem sempre oferece muitas oportunidades. Vim para cá há dois anos, atrás de novos começos.
Ela olhou rapidamente para Benjamim, que a fitava com curiosidade.
— Sempre gostei de crianças. Acredito que são as únicas que conseguem nos ensinar sobre leveza e sinceridade, mesmo sem saber. Dei aulas, fui voluntária em abrigos e creches... Mas, nos últimos tempos, preciso de um emprego mais fixo. Minha mãe adoeceu, e meu pai se aposentou. Agora é a minha vez de cuidar deles.
Lucas assentiu, atento a cada palavra.
— Você tem sonhos?
Ela riu, com doçura.
— Muitos. Um deles é abrir uma escola infantil alternativa, onde cada criança seja respeitada em seu tempo. Mas sei que preciso caminhar muito ainda. E... bem, esse trabalho, com Benjamim, parece mais um presente do que um emprego.
Benjamim, como se entendesse, sorriu para ela.
— Você vai morar aqui?
— Se seu pai quiser, posso vir todos os dias, brincar com você, fazer panquecas e cuidar de você quando ele estiver ocupado com prédios e desenhos.
— Panquecas? — ele arregalou os olhos. — Eu gosto muito disso!
Lucas riu, balançando a cabeça.
— Acho que você já conquistou o mais exigente da casa.
Rafaela olhou em volta mais uma vez. A decoração sóbria, os quadros arquitetônicos, o cheiro amadeirado no ar... e, ao mesmo tempo, o canto infantil, os brinquedos, os risos.
Era um lar.
E ela sabia, no fundo, que aquele lugar guardava mais do que um emprego. Havia um novo capítulo começando. Para ela. Para aquele pequeno menino. E, quem sabe... para o pai dele também..
O som da campainha ecoou pela casa logo às oito da manhã. Benjamim correu até a porta com os passinhos apressados de criança animada, gritando:
— É a tia das panquecas!
Lucas, atrás dele, abriu a porta. Rafaela estava ali, com um sorriso no rosto, uma mochila no ombro e uma energia leve que contrastava com a correria do cotidiano.
— Bom dia, engenheiro chefe — ela brincou, rindo. — E bom dia, meu ajudante de panquecas.
Benjamim a puxou pela mão sem cerimônias, enquanto Lucas apenas observava, surpreso com a naturalidade com que ela já fazia parte da rotina da casa.
Na cozinha, Rafaela se movimentava com agilidade. Enquanto preparava panquecas em formato de ursinho, contava histórias de sua infância e fazia Benjamim rir alto. Lucas, da mesa, tentava revisar plantas e projetos, mas seus olhos sempre voltavam para a dupla ao fogão.
— Você não quer café? — ela perguntou, quando percebeu o olhar dele.
— Já estou tendo o melhor café da manhã só de ouvir vocês dois — ele respondeu, meio sem pensar.
Mais tarde, no parquinho do condomínio, Benjamim corria com um aviãozinho nas mãos, e Rafaela o observava atenta. Lucas, à sombra de uma árvore, falava ao telefone com um cliente, mas vez ou outra olhava para a cena. A risada do filho, que nos últimos tempos andava mais silencioso, preenchia o ar.
Quando voltaram para casa, Benjamim se jogou no sofá.
— Tia Rafaela... você pode voltar amanhã também?
— Só se o papai deixar — ela respondeu, encarando Lucas com um sorriso.
Ele se aproximou, bagunçando os cabelos do filho.
— Acho que a gente não pode mais ficar sem você por aqui — ele disse, olhando para Rafaela com uma sinceridade inesperada. — Você trouxe paz. E isso... é raro.
Ela sorriu, sem saber muito o que dizer. Mas sentiu que, naquele instante, os laços estavam se criando. Entre ela e o menino. E, talvez, algo sutil e inesperado também estivesse surgindo entre ela e o pai dele.
Fim do capítulo!
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Comments
Luiza Maria Dos Santos Silva
amei!!!! continue autora...,
2025-05-15
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