O Lixo Vai Para o Fogo

A sala de Ruan Cooper estava mergulhada em silêncio. O tipo de silêncio espesso, incômodo, que só vem depois da violência.

O corpo da mulher ainda estava lá. Jogado perto do sofá, os cabelos loiros grudados de sangue, um dos saltos quebrado. A respiração cessara minutos atrás, mas a morte não parecia ser a parte mais pesada daquela cena.

Era o que vinha depois. Sempre o depois.

Ruan apertava o próprio maxilar enquanto tragava o último gole de uísque. A arma em sua mão ainda quente do disparo. As veias saltadas no pescoço.

Batidas na porta.

Ele não respondeu. Apenas destravou com um bip no painel.

Dois homens entraram — vestindo preto, luvas já calçadas. Treinados para não fazer perguntas.

— Ela morreu? — perguntou o mais velho, com um olhar clínico.

— Morreu — respondeu o outro.

Ruan soltou um suspiro como quem se livra de um aborrecimento.

— Quinze minutos. Esse é o tempo que vocês têm pra apagar tudo.

— Já temos um carro esperando nos fundos. Vamos descartar o corpo fora do perímetro.

— Sem nomes, sem digitais, sem vídeos — disse Ruan, virando-se para a janela.

— Sim, senhor.

O mais novo hesitou por um segundo.

— Senhor… a funcionária. A secretária. A… Sarah. Ela esteve aqui. Antes.

Ruan ergueu uma sobrancelha.

— E?

— Ela pode ter visto algo.

Ruan riu. Um som amargo, sem humor algum.

— Sarah? Aquela bonequinha frágil? Ela não tem coragem nem de pedir aumento. Se viu algo, vai engolir e sorrir como sempre.

— Mas e se ela falar?

O CEO virou-se devagar. Caminhou até o homem. Parou perto o suficiente para que o outro sentisse o cheiro de álcool, perfume caro e pólvora.

— Se ela falar… ela vira lixo. E você sabe onde o lixo vai.

— …pro fogo — murmurou o homem, engolindo seco.

— Isso mesmo.

Ruan deu um tapinha no ombro dele e voltou à poltrona.

— Agora limpem essa merda.

---

O corpo foi levado. O sangue limpo com produtos industriais. As drogas recolhidas. Os documentos assinados — os que interessavam — foram passados por scanner e eliminados com fogo.

Em pouco mais de doze minutos, a cena de crime virou apenas mais uma sala luxuosa, cheirando a álcool e desespero.

Ruan sentou-se outra vez. Mais um copo. Mais silêncio.

O celular vibrou.

Ele reconheceu o número.

"Filho da puta", murmurou.

Atendeu.

— Você tem muita cara de pau, Elijah.

Do outro lado da linha, a voz de Elijah Parker surgiu carregada de cinismo e desprezo.

— E você, cada vez mais previsível. Matou mais uma, Ruan? Era só raiva… ou estava se sentindo pequeno de novo?

Ruan cerrou os dentes.

— Vai à merda.

— Ah, essa boca suja… Deve ter aprendido com seu pai, não é? Ele também gritava quando sabia que estava perdendo.

Silêncio.

Ruan respirou fundo. Apertou os olhos. A mandíbula trincava.

— Você acha que ganhou, é isso?

— Eu nem comecei a jogar. Mas você sim, Ruan. Você joga com sangue, e o mundo está assistindo. Câmeras quebram. Papéis somem. Mas sangue… gruda.

Ruan se levantou de novo. Atirou o copo contra a parede. Estilhaços por toda parte.

— Um dia… eu ainda vou te matar.

A risada do outro lado foi baixa. Cruel.

— Pode tentar. Mas até lá, continue sendo meu brinquedo favorito.

— Vai se foder, Parker.

— Já disse… você fala demais.

A ligação caiu.

Ruan ficou olhando para o nada por um tempo. Depois se aproximou do espelho preso à lateral do armário e encarou o reflexo.

O homem ali tinha olhos vazios. Olheiras fundas. A respiração pesada. Sangue seco na manga da camisa.

Por um momento, pensou em Sarah.

Tão inofensiva. Tão obediente. Tão conveniente.

Mas… havia algo nela. Um brilho estranho no fundo dos olhos. Algo que ele não conseguia nomear. E isso o irritava.

— Não me dê motivos, boneca — murmurou. — Ou eu arranco suas asas também.

---

Longe dali, no apartamento minúsculo e impecável onde Sarah vivia, a xícara de chá tremia entre seus dedos.

O documento sobre a mesa. O rosto da mulher ferida ainda fresco na memória. E um pensamento martelando como um prego.

Ele matou ela.

Ruan Cooper matou uma mulher na própria sala. Por nada. Por impulso. Porque podia.

Sarah engoliu seco.

Não era mais só um jogo de sobrevivência.

Agora… era guerra.

E guerra, ela sabia bem, se vence com sangue frio.

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