Espelhos Quebrados

O clima na Cooper Enterprise amanheceu como o céu: cinzento, abafado, e com o cheiro amargo de fumaça no ar.

A imprensa, bem paga, chamou de “incêndio acidental em um depósito privado”. Mas nos corredores da empresa, todos sabiam: algo grande e sujo tinha pegado fogo.

E Ruan Cooper estava prestes a explodir.

— VOCÊ TEM IDEIA DO PREJUÍZO, SUA INCOMPETENTE?! — ele rugiu, a mão batendo com força sobre a mesa de mogno. Os papéis voaram como pássaros assustados.

Sarah manteve a postura. Olhos baixos. Mãos cruzadas na frente do corpo como se estivesse em oração.

— Eu apenas transcrevi a ata da reunião, senhor. Foi o que o senhor assinou.

— ENTÃO VOCÊ É UMA PAPAGAIA AGORA?! — cuspiu. — SEU TRABALHO É ME ANTECIPAR, NÃO ME ENVERGONHAR!

— Sim, senhor. Desculpe, senhor.

— E ARRUME MINHA SALA! LAVE MINHA XÍCARA! FAÇA ALGUMA COISA QUE PRESTE, SUA MOLECA INÚTIL!

Ela se abaixou para pegar os papéis espalhados pelo chão, os dedos apertando as folhas com mais força do que o necessário. Um segurança observava da porta, imóvel. Os colegas fingiam não ver.

Sarah passou o dia correndo. Café. Cópias. Relatórios destruídos na sua frente. Gritos por qualquer detalhe. Sem almoço. Sem descanso.

Mas seu sorriso permaneceu. Suave. Treinado.

Às nove da noite, o prédio estava em silêncio. Ela já estava no elevador quando um detalhe a fez parar.

O contrato internacional. Ainda faltava revisar. E se o senhor Cooper percebesse na manhã seguinte?

Ela hesitou. Suspirou.

E voltou.

No andar executivo, o silêncio era denso. Cada passo seu ecoava entre as colunas de mármore. O ar parecia mais frio.

Quando se aproximou da sala de Ruan, algo a fez parar.

Cheiro de álcool. De cigarro. De sangue.

— Senhor Cooper...? — chamou, com a voz baixa e hesitante.

Nenhuma resposta.

Ela empurrou a porta.

Vidros estilhaçados. Uma garrafa de uísque no chão. A fumaça do charuto ainda dançando no ar.

E ali, caída ao lado do sofá, estava uma mulher. Loira. Rosto machucado. Um dos olhos roxo, a boca partida. A perna dobrada em um ângulo errado. O vestido de seda amassado e manchado. Ainda respirava. Mal.

Sarah congelou.

— Meu Deus...

Seus pés recuaram sozinhos. Um passo. Dois. As mãos tremiam. O coração batia no pescoço.

Havia sangue no tapete. Drogas na mesa. Um colar partido no chão. A bolsa da mulher aberta, documentos espalhados — incluindo o contrato que Sarah precisava.

Ela olhou ao redor. Nenhuma câmera. Nenhum som. Nenhum sinal de Ruan.

Seu corpo dizia para correr. Para gritar.

Mas então seus olhos caíram sobre o contrato. Metade assinado. Quase pronto.

Ela hesitou. Fechou os olhos. Inspirou fundo.

E entrou.

Com as mãos trêmulas, pegou o papel, evitando pisar no sangue. Seus dedos quase escorregaram. A mulher no chão gemeu, quase imperceptível.

Sarah recuou. Por um instante, seus olhos se encontraram com os da desconhecida.

Eles diziam socorro. E outra coisa.

Reconhecimento?

Era como se a mulher a visse. Realmente a visse.

E tivesse medo.

Sarah recuou com mais força. Saiu da sala tropeçando, o contrato contra o peito. Seu salto batia como tiros no mármore frio.

— Merda... merda... merda... — murmurava, arfando.

Desceu até o térreo. Ninguém a viu. Ninguém a parou.

Lá fora, o ar da noite parecia cortante. Gelado.

Ela seguiu pela calçada, apressada, com os olhos arregalados e os pensamentos em espiral. A imagem da mulher gravada na mente.

Um espelho rachado.

Talvez um aviso.

Ou uma lembrança do que ela poderia ser… se perdesse o controle antes da hora.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!