4 Primeira noite como casada

Com um suspiro profundo, olhei para Henrique e Eduardo, e percebi que minha vida, a partir dali, tomaria um rumo que jamais poderia imaginar.

A mensagem chegou enquanto eu ajeitava os guardanapos sobre a mesa.

“Não volto pra casa hoje. Vou Dormir fora.”

Foi tudo o que ele escreveu. Nenhuma explicação. Nenhum sinal de consideração.

Desligo o celular com um suspiro contido. Não havia dor só um vazio calmo, como o silêncio depois de uma tempestade que nunca me atingiu de verdade. Eduardo não voltaria naquela noite. E, ao contrário do que qualquer esposa recém-casada sentiria, o que me invadiu foi alívio. Alívio por não ter que dividir uma cama com um homem que me era quase um estranho. Alívio por não precisar fingir que aquele casamento fazia sentido.

Minha primeira noite como mulher casada… e ainda assim, eu me sentia intocada. Porque eu era. E no fundo, talvez ainda esperasse que a minha primeira vez fosse com alguém que me enxergasse de verdade.

Ouvi passos vindos do corredor e voltei à realidade. Henrique.

Quando ele entrou, meu corpo se retesou por um instante. Eu não esperava que ele viesse jantar comigo. Mas ali estava ele, tão diferente do que eu costumava ver nos jantares sociais da minha família. Era um homem de presença, mas sem arrogância. A barba bem feita, o cabelo penteado para trás ainda úmido do banho… e aquele perfume. Meu Deus, aquele perfume. Não era forte, mas tinha algo nele que me fez fechar os olhos por um segundo era quente, profundo, quase familiar.

Ele me lançou um sorriso leve e puxou a cadeira diante de mim, sentando-se com naturalidade. Seus olhos tão intensos — me observaram por um momento que me pareceu longo demais.

Henrique - Tudo bem, Juliana?

Hesitei. Pensei em mentir. Em dizer que sim, que estava tudo bem, como tantas vezes fiz com meus pais, com Eduardo, com o mundo. Mas ali, diante de Henrique, não me pareceu necessário fingir.

Juliana - Eduardo… disse que não volta pra casa hoje. Vai dormir fora.

Eu esperava algum sinal de choque. Ou uma defesa, talvez. Mas ele apenas assentiu, como se não fosse novidade. Seus olhos não mudaram de tom, nem seu semblante se fechou. Pelo contrário.

Henrique- Imagino que isso deva lhe causar algum incômodo — disse, com uma calma que quase me desmontou.

Juliana - Pra ser sincera… me sinto aliviada. Eu mal conheço seu filho. Casar com ele já foi difícil. Dormir com ele teria sido ainda mais.

Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. Como se, só por dizer aquilo em voz alta, uma parte do peso já tivesse caído dos meus ombros. Henrique não respondeu de imediato. Apenas me olhou, sério, como se estivesse analisando algo em mim — mas sem me invadir.

Henrique - Você não devia ter passado por isso — ele disse, por fim, e sua voz veio mais baixa, quase grave.

Henrique - E eu sinto muito que tenha sido colocada nessa posição.

Foi aí que senti meus olhos se encherem. Mas não deixei as lágrimas caírem. Apenas respirei fundo, desviando o olhar para o prato ainda vazio.

Ninguém nunca tinha dito isso pra mim.

Ninguém nunca pediu desculpas por me jogarem nesse casamento.

Jantamos em silêncio depois disso, mas não foi um silêncio desconfortável. Henrique me serviu o vinho, perguntou o que eu gostaria de comer, e em cada pequeno gesto havia uma gentileza que me desarmava. Ele não tentava me agradar — ele apenas… era assim. Naturalmente atencioso. Naturalmente homem.

Enquanto o observava, percebi que ele carregava um tipo de elegância que não se aprende. Era o tipo de homem que sabia a hora de falar, e talvez mais importante ainda: sabia escutar.

E ali, àquela mesa grande e silenciosa, percebi que pela primeira vez em muito tempo, eu não me sentia sozinha.

E isso me assustou mais do que eu estava disposta a admitir.

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