Na volta para casa, Lucas olhava pela janela do ônibus.
As ruas passavam rápidas, mas algo dentro dele permanecia imóvel. Como se o mundo agora tivesse outra textura. Como se ele estivesse mais sólido por dentro.
Recebeu mensagens de colegas da academia. Até de Adam — que, de forma seca, apenas escreveu:
> "Boa luta. Melhor do que eu esperava."
Lucas não soube se era elogio ou provocação. Mas não importava.
Chegou em casa e encontrou a mãe na cozinha. Estava cansada, como sempre. Mas quando ele contou do torneio, ela parou.
— Você está bem?
— Sim. Perdi. Mas aprendi.
Ela assentiu, acariciando seu cabelo.
Mais tarde, antes de dormir, Lucas saiu no quintal e observou o céu.
Respirou fundo. O corpo doía. Mas o coração, pela primeira vez, pulsava com firmeza.
Como flores nascendo no meio do asfalto.
Na segunda-feira seguinte ao torneio, Lucas chegou à academia com passos firmes. Alguns cumprimentaram com um aceno de cabeça — algo simples, mas que, semanas atrás, pareceria impensável.
Sofia o esperava perto dos tatames, segurando duas garrafinhas de água.
— Eu disse que você conseguiria.
— Ainda estou tentando acreditar que tudo aquilo aconteceu — respondeu ele, sorrindo de lado.
— Agora é só o começo.
Mas nem todos pareciam satisfeitos com a ascensão de Lucas. Adam o olhou de longe, com o rosto impassível, mas os punhos cerrados traíam algo mais profundo.
— Ele só ganhou aplausos por perder com dignidade — disse Adam a outro colega, tentando esconder a insegurança que começava a brotar dentro dele.
Mais tarde, durante o treino, Marco reuniu todos.
— O torneio mostrou quem vocês são quando estão sob pressão. Agora quero ver quem vocês se tornam com o tempo. Treinar quando se está motivado é fácil. O verdadeiro lutador aparece quando a vontade some.
Lucas ouviu aquilo como se fosse direcionado a ele. Não queria ser apenas “o garoto que tentou”. Queria evoluir.
Não por fama. Mas por si mesmo.
Em casa, Lucas vasculhava uma caixa antiga no armário. Encontrou uma foto dele criança, com um sorriso tímido e um curativo no rosto.
Lembrou-se do dia em que apanhou no parquinho. Nenhum adulto interveio. Desde então, o medo ficou guardado no peito — como uma sombra.
Mais tarde, durante uma conversa com Sofia no parque após o treino, ele contou sobre isso.
— Acho que minha jornada começou muito antes da academia.
— Todos carregamos marcas que ninguém vê — respondeu ela, olhando para o lago.
— E as suas? — ele perguntou, curioso.
Sofia hesitou por um momento.
— Meu pai era lutador. Sofreu uma lesão grave e nunca mais voltou a competir. Sempre me incentivou a lutar, mas... tinha medo de que eu me machucasse também. Às vezes, parece que luto mais pelas cicatrizes dele do que pelas minhas.
Lucas segurou sua mão com cuidado.
— Talvez a gente possa aprender a lutar por nós mesmos agora.
Ela sorriu. Pela primeira vez, um sorriso que parecia alívio.
Na escola, os professores começaram a perceber que Lucas estava mais atento. As notas melhoraram discretamente. Mas o que chamou atenção foi sua postura. Ele já não se curvava. Andava com o queixo erguido.
Mesmo assim, o ambiente era hostil. Ramon continuava tentando provocá-lo. Desta vez, empurrou Lucas no corredor, fazendo seu caderno cair.
Lucas apenas olhou. Não revidou.
— Já se acha um guerreiro agora, é? — zombou Ramon.
Lucas recolheu o caderno com calma. Depois, encarou o agressor.
— Eu não preciso mais provar nada pra você.
Ramon hesitou. A ausência de medo parecia um muro que ele não conseguia atravessar.
Na academia, Marco percebeu algo no olhar de Lucas.
— Você está mudando. Mas não se esqueça: humildade sempre. O mundo vai tentar te testar. Não reaja com orgulho. Reaja com verdade.
Lucas assentiu. Essas palavras ficaram gravadas.
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Atualizado até capítulo 53
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