O sábado chegou com um treino em dupla. Marco organizou os pares, e Lucas sentiu o estômago revirar quando foi colocado contra um dos alunos mais antigos, Leandro.
Leandro era forte. Experiente. Lucas sabia que seria massacrado.
Mas o inesperado aconteceu.
Lucas começou a aplicar o que aprendeu. Movimentos simples, mas com foco. Defesas bem executadas. Um contra-ataque certeiro no estômago fez Leandro recuar.
Ao final da luta, ambos estavam ofegantes. Leandro estendeu a mão.
— Boa, cara. Você tem fibra.
Lucas quase não acreditou.
E naquela noite, enquanto caminhava para casa, o mundo parecia um pouco mais leve. A cidade, menos cinzenta. E dentro dele, algo crescia: a certeza de que estava, finalmente, no caminho certo.
No espelho do banheiro, Lucas observava as marcas espalhadas pelo corpo. Róseas, roxas, escuras. Algumas recentes, outras já desbotando.
Mas ao contrário do passado, não sentia vergonha. Aquilo era parte do processo.
Na escola, Ramon voltou a provocar. Puxou sua mochila, derrubou seus cadernos.
Dessa vez, Lucas não reagiu com raiva. Apenas olhou nos olhos do agressor e disse:
— Eu não sou mais o mesmo.
Ramon riu, confuso. Mas a ausência de medo no olhar de Lucas deixou uma sombra de dúvida. Pela primeira vez, Lucas percebeu que a verdadeira força não precisava ser exibida — ela se manifestava na postura, no silêncio, na convicção.
Naquela noite, no jantar, o pai de Lucas observou as mãos calejadas do filho.
— Por que continua indo lá?
Lucas não hesitou.
— Porque estou me encontrando.
O pai não respondeu. Apenas assentiu levemente, com o canto dos lábios tremendo, quase imperceptível
Marco reuniu os alunos ao final de um treino intenso.
— Vai acontecer um torneio amador na cidade vizinha. Categorias de base, regras controladas. Quero que alguns de vocês participem — anunciou.
O coração de Lucas disparou.
Adam sorriu, confiante. Sofia ajeitou o cabelo, sem mostrar reação. Lucas respirou fundo. Parte dele queria se esconder. Outra… queria se testar.
— Lucas, quero que você vá — disse Marco.
Ele congelou.
— Eu? Mas... ainda sou novo nisso.
— Justamente por isso. Não é sobre ganhar. É sobre aprender a enfrentar. A si mesmo.
Nos dias que se seguiram, a rotina ficou mais intensa. Treinos duplos, sessões extras com Sofia. Cada golpe parecia carregar a ansiedade da estreia. Mas também alimentava a vontade de ir até o fim.
Sofia o ajudava a respirar entre os rounds. A controlar o medo. A confiar.
— No tatame, você estará sozinho. Mas todo o resto vai com você — disse ela, tocando levemente o peito dele com dois dedos.
Lucas assentiu. Não sabia se venceria. Mas sabia que precisava tentar.
O dia do torneio chegou com o céu acinzentado.
Lucas viajou no ônibus da equipe, o kimono dobrado no colo. As mãos suavam. Marco, sentado ao lado, mantinha a calma.
— Você não está aqui pra provar nada pra ninguém. Só pra você mesmo.
O ginásio era barulhento. Faixas coloridas, torcidas gritando, lutadores se aquecendo. Lucas quase voltou para trás — mas então viu Sofia sorrindo à distância. Era o que bastava.
Foi chamado. Subiu no tatame. O adversário parecia mais experiente, mas não maior.
O combate começou.
Lucas manteve a guarda, como treinado. Esquivou, acertou um chute leve. Levou um soco no estômago, caiu. A dor foi real — mas a vontade de continuar, ainda maior.
Levantou-se.
Lutou até o fim. Perdeu por pontos. Saiu ofegante, cambaleando, mas com a cabeça erguida.
Marco o esperava do lado de fora do tatame.
— Parabéns — disse, sem rodeios.
— Mas eu perdi…
— Você entrou. Ficou de pé. Lutou até o fim. Isso é vencer.
Lucas sorriu, com os olhos marejados. Pela primeira vez, sentia orgulho de si mesmo.
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Atualizado até capítulo 53
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