Na manhã seguinte, o céu estava limpo, como se o universo lhe oferecesse um novo começo. Lucas estava parado diante da fachada de uma academia modesta, com a pintura um pouco desgastada, mas um nome que soava como promessa: Força Vital MMA.
O som dos golpes de luva contra saco de pancada, o suor escorrendo dos rostos concentrados e o cheiro de esforço tomaram Lucas de surpresa. Ele não sabia o que esperar, mas sentia no fundo do peito que precisava estar ali.
Foi Marco quem o recebeu — um homem de trinta e poucos anos, barba cerrada, voz grave, olhar experiente. Ao ver Lucas parado na porta, perguntou:
— Primeira vez?
Lucas apenas assentiu.
— Vem. Hoje é só observação. Amanhã você põe as luvas.
No fundo da sala, um grupo treinava chutes e socos com precisão. Mas o que mais chamou a atenção de Lucas foi um rapaz alto, atlético, que parecia dominar o espaço com uma presença quase arrogante. Seu nome era Adam.
Quando seus olhares se cruzaram, Adam soltou um meio sorriso de desdém. Lucas sentiu o mesmo frio na espinha que sentia na escola.
— Vai ser interessante — Adam comentou, jogando a toalha no ombro e saindo do tatame.
A primeira noite foi silenciosa. Lucas não comentou com ninguém sobre a academia. Mas, pela primeira vez em muito tempo, dormiu com um fio .
O segundo dia veio com dores. Cada músculo do corpo de Lucas parecia reclamar. Mas ele voltou.
As primeiras aulas foram humilhantes. Seus golpes não tinham força, seus chutes eram desequilibrados e sua respiração logo se tornava ofegante. Marco, com paciência, corrigia seus movimentos, mas era evidente: Lucas tinha um longo caminho pela frente.
Os outros alunos não escondiam o desdém. Alguns cochichavam, outros riam quando ele errava um movimento básico. Mas havia uma exceção: Sofia.
Ela era ágil, precisa e tinha olhos que transmitiam força e compaixão. Depois de um treino particularmente difícil, ela se aproximou e ofereceu uma garrafinha de água.
— Todo começo é assim. Ninguém nasce sabendo lutar.
Lucas agradeceu, tímido. Aquele gesto simples teve um efeito profundo.
Mas Adam não deixou passar.
— Ei, Sofia. Vai perder tempo com esse fracote?
Sofia o ignorou. Lucas, envergonhado, abaixou os olhos. Mas algo nele começou a mudar. Uma pequena chama acendeu.
Ele decidiu que não seria sempre o último. Não seria sempre o fraco.
As semanas se passaram, e Lucas começou a perceber mudanças sutis. Seus movimentos se tornaram mais firmes. Sua respiração, mais controlada. Mas os treinos ainda eram duros, e sua mente, mais ainda.
Em casa, os pais continuavam indiferentes. O pai dizia que ele perdia tempo com “essas coisas de luta”. A mãe apenas suspirava, como se já tivesse desistido de esperar algo dele.
Num treino em particular, Lucas errou uma sequência de socos e caiu. Adam, rindo, aproximou-se:
— Vai desistir agora?
Lucas se levantou. Olhou nos olhos dele.
— Não.
E pela primeira vez, disse isso com convicção.
Marco o observava de longe. Mais tarde, o chamou para conversar.
— Lutar é mais do que bater ou apanhar, Lucas. É sobre ouvir a voz que está dentro de você. Aquela que diz: “continue”.
Essas palavras ficaram ecoando em sua mente por dias.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 53
Comments