Era uma tarde de outono em Nova York, e o Central Park estava tingido de dourado e vermelho pelas folhas caídas. Carlos Rivera, na época um jovem advogado promissor, de 22 anos, que avia forma recentemente em uma das universidades mais prestigiadas do mundo, cuja o avô exigia muito, afinal era o neto mais velho e o seu provável sucesso, já que sua única filha era uma irresponsável, que decidiu seguir a carreira de modelo e após ficar viuva aos 24 anos decidiu viver uma vida de "liberdade" o deixando os três netos para ele e sua esposa Leonor cuidar, Carlos o mais velho, Enrique do meio 2 anos mais novo e a mais nova Angélica. Então a pressão estava toda em cima de Carlos. Não era seu costume parar, perder tempo — mas aquele dia foi diferente.
Ela estava ali, sentada em um banco de madeira, lendo um livro de direito. O vento bagunçava os cabelos castanhos de Camila, e seu sorriso, pequeno e distraído, parecia iluminar o espaço ao seu redor. Carlos, que até então só conhecia a vida como uma corrida para o topo, parou pela primeira vez.
O olhar deles se cruzou. Por um instante, o mundo ficou em silêncio.
— Você sabe que esse livro é horrível para quem está começando? — disse ele, num tom quase arrogante.
Camila ergueu os olhos, surpresa pela abordagem rude, mas respondeu com uma risada leve. Camila também recém formada em direito, se conheceram em uma audiência, cuja Carlos sai vencedor.
— Então talvez você possa me sugerir um melhor, senhor advogado apressado.
Carlos sorriu — um sorriso raro, verdadeiro. Sentou-se ao lado dela sem nem pensar. Pela primeira vez em muito tempo, ele não estava calculando vantagens, riscos, ou estratégias. Estava apenas... ali.
As conversas começaram. Longas tardes de discussão, jantares improvisados, olhares cúmplices em meio à multidão. Camila era diferente de tudo que ele conhecia: doce, espirituosa, mas ao mesmo tempo determinada. Ela fazia Carlos rir, fazia-o esquecer, mesmo que por breves momentos, a frieza que começava a se entranhar nele.
Se apaixonaram rápido, intensamente, como um incêndio que ninguém tenta apagar.
1 ano depois casaram-se no auge do sucesso de Carlos, em uma cerimônia íntima para poucos — apenas os mais próximos. Inclusive seu irmão mais novo, Enrique, a quem Carlos mais confiava.
Tudo parecia perfeito. Até que deixou de ser.
2 anos depois ....
Era noite, e a cobertura estava vazia e escura, exceto pela luz fraca que vinha da cozinha. Carlos chegou mais cedo de uma reunião, passos silenciosos sobre o piso de mármore. Foi o riso abafado que chamou sua atenção. Um sussurro, seguido por um beijo.
Ele se aproximou devagar, o sangue começando a ferver, a respiração tornando-se pesada.
Ali, encostados na bancada, estavam Camila e Enrique, abraçados de uma forma que não deixava dúvidas.
Por um segundo, Carlos congelou. O mundo, antes tão rígido sob seus pés, desmoronou em silêncio.
— Interessante encontrar vocês assim... — sua voz saiu baixa, mortal.
Camila e Enrique se separaram bruscamente, o terror estampado nos rostos.
— Carlos... não é o que você está pensando... — Camila começou, mas sua voz falhou.
— Não é? — Ele riu, seco, sombrio. — Então me explique, Camila. Me explique o que meu próprio irmão faz com a minha esposa na minha casa.
Enrique tentou intervir, mas Carlos apontou para ele com um gesto feroz.
— Cale a boca. Você não existe mais pra mim.
Camila, com lágrimas nos olhos, deu um passo à frente.
— Carlos, eu... eu me sentia sozinha! Você mudou! Você virou essa máquina fria, esse homem que eu mal reconheço! Eu... eu encontrei nele o que você deixou morrer!
As palavras dela cortaram como lâminas. Mas Carlos não deixou transparecer.
— Não tente jogar a culpa em mim — disse, sua voz tão fria quanto aço. — Você escolheu. Você. E agora vive com isso.
O silêncio entre eles era pesado, quase insuportável.
Camila olhou para Enrique, que a segurou pela mão. Um gesto desesperado, infantil. Carlos observou sem expressão.
— Vamos embora — disse Enrique, com a voz trêmula.
Carlos não respondeu. Apenas virou de costas, indo até a janela, olhando para a cidade abaixo, como se já tivesse enterrado os dois em sua memória.
Camila parou na porta por um instante, esperando... talvez por um pedido, uma reação, qualquer sinal de que ele ainda a queria ali.
Nada veio.
Então, sem olhar para trás, ela se foi. Com seu irmão. Com o traidor.
A porta bateu às suas costas. E Carlos, sozinho no escuro da cobertura, sorriu — um sorriso frio, vazio.
A partir daquela noite, algo dentro dele morreu para sempre.
---
6 messes depois....
O dia estava abafado, pesado, como se o próprio ar estivesse anunciando que algo terrível estava prestes a acontecer.
Carlos Rivera estava em sua sala de reuniões, no topo da torre que abrigava a Rivera & Associates, quando recebeu a ligação. Era um número desconhecido. Ele quase ignorou — quase — mas algo em seu instinto, aquela velha sensação de alerta que jamais o traíra, o fez atender.
— Senhor Rivera? — a voz do outro lado era tensa, nervosa.
— Sou do Hospital Geral de Manhattan. Precisamos que venha imediatamente. É sobre... — o homem hesitou, escolhendo as palavras —, sobre Camila Rivera e Enrique Rivera.
O coração de Carlos não acelerou. Não tremeu. Ele apenas sentiu um peso estranho no peito, como uma pedra submersa.
— Estou a caminho — disse, antes de desligar.
Não perguntou o que havia acontecido. No fundo, ele já sabia.
A viagem até o hospital foi feita em completo silêncio. O motorista, percebendo a tensão do patrão, não ousou dirigir uma palavra. Do lado de fora, a cidade continuava seu ritmo frenético, indiferente ao desastre que se desenrolava.
Quando Carlos entrou no hospital, foi recebido por uma enfermeira de rosto pálido e olhos baixos.
— Senhor Rivera... — ela começou, mas Carlos a cortou com um gesto.
— Onde estão?
Ela o conduziu até uma sala fria e pequena, longe do burburinho dos corredores. Lá dentro, um médico o esperava. Um olhar bastou para que Carlos soubesse.
— Houve um acidente, senhor. — A voz do médico era neutra, profissional. — Um capotamento na rodovia 87. O carro saiu da pista em alta velocidade... os dois morreram na hora.
Carlos permaneceu imóvel, como uma estátua de mármore. Nenhum músculo de seu rosto traiu o que sentia — se é que sentia algo. Camila, sua esposa. Enrique, seu irmão mais novo. Os dois juntos... amantes, traidores. Agora, mortos.
O médico hesitou, como se esperasse alguma reação — um grito, um colapso, uma explosão de fúria. Mas Carlos apenas olhou para ele, com aquele mesmo olhar vazio que costumava usar para intimidar concorrentes e rivais.
— Há algo mais? — perguntou, a voz baixa e firme.
— Apenas... pertences pessoais — disse o médico, estendendo um pequeno saco plástico transparente. Dentro dele, uma aliança de casamento amassada e um relógio quebrado.
Carlos pegou o saco, olhou para os objetos por um segundo interminável... e então guardou-os no bolso do paletó. Sem lágrimas. Sem palavras.
Ele saiu do hospital com a mesma calma com que havia entrado. Do lado de fora, a chuva começava a cair, grossa e fria, lavando as calçadas da cidade. Carlos ergueu o rosto para o céu cinzento e por um breve, breve instante, fechou os olhos.
Não por tristeza. Não por dor. Mas porque, de algum jeito, aquela tragédia — aquele fim sujo e brutal — parecia o fechamento perfeito para a história que ele havia se recusado a aceitar.
Camila e Enrique haviam feito suas escolhas. Agora, a consequência final havia sido selada. E Carlos Rivera, o homem frio, solitário e temido, finalmente se libertava da última corrente invisível que ainda o ligava ao passado.
Quando abriu os olhos novamente, eles estavam mais frios do que nunca.
Ele voltou para o carro, deu ordens secas ao motorista e seguiu para a empresa.
A vida continuava. Para ele, sempre continuaria. Sem amor. Sem perdão. Sem arrependimento.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Bell_Fernandez
Meu escape favorito.
2025-04-27
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