Elisa chegou do parque com os cabelos levemente desgrenhados pelo vento e um sorriso cansado nos lábios, ainda sentindo o perfume da grama e ouvindo na memória a voz animada da pequena Amy. Tomou um banho rápido, prendeu os cabelos ainda úmidos em um coque simples e pegou seus documentos. Era hora de mais um passo.
Foi até a faculdade com o coração acelerado. Conseguiu fazer a matrícula com facilidade e, ao sair, sentia-se mais leve. Estudaria das nove da manhã às duas da tarde, e depois seguiria para a empresa do tio Andrew. Ele havia insistido que ela estaria ajudando de verdade, não apenas como uma sobrinha perdida, mas como uma mulher com potencial e história para contribuir. E isso a motivava. Queria se encher de atividades, preencher os espaços vazios que a dor deixara, ocupar os silêncios com movimento.
De certa forma, Elisa sabia que a pequena Amy também ajudaria nesse processo. Sempre gostara de crianças. Antes, quando vivia com os pais, ajudava nas empresas da família e também dedicava tempo à ONG que levava o nome de sua avó, Ana Clara Castellazzo. Toda semana, aos sábados, passava horas com as crianças, ao lado de sua prima Laís e da cunhada Maria Eduarda. Agora, em Nova York, ela seguiria esse mesmo caminho: estudaria, trabalharia e também ajudaria na filial da ONG da família. Uma rotina quase idêntica — mas com um cenário diferente, um idioma diferente, e um tipo de saudade diferente.
Aqui, as lembranças vinham suaves, como brisa. Não havia o calor do lar, o toque das mãos dos pais sempre entrelaçadas, os olhares cúmplices. Não tinha o ciúmes exagerado do senhor Fabrício Ferrari, sempre dizendo que ela deveria virar freira — mesmo ela tendo certeza de que ele sabia do pequeno envolvimento com Luiggi. Um namoro ingênuo, de beijos escondidos e promessas não ditas.
Agora tudo estava acabado. E ela, enfim, enfrentava a realidade. Tinha que lidar com tudo sozinha. Mas Elisa era uma Castellazzo Ferrari, e sabia: ela daria um jeito.
Guardaria a dor como quem guarda uma herança — uma lembrança de amor e erro, de orgulho e perda. Sabia que havia errado com Luiggi. Acusou-o injustamente, não lhe deu chance de se explicar. Foi fria no hospital, e ainda mais cruel no enterro. Não permitiu que ele sequer tocasse sua mão. E agora, só agora, depois que ele sumiu de sua vida, ela compreendia: aquele gesto mudo foi o ponto final. Não dito, mas definitivo.
Naquela manhã cinzenta de adeus, quando ela disse com o olhar que não queria mais nada, o fim se selou.
E mesmo que a presença de Luiggi ainda pairasse entre as lembranças, Elisa agora estava em um país diferente, com uma família que a acolhia como filha. Queria recomeçar. Queria ser um novo orgulho para a memória de seus pais. Não pelo sobrenome que carregava, mas pela mulher que ela ainda podia se tornar.
O sol já começava a se esconder no horizonte quando Elisa chegou ao shopping. As luzes dos letreiros se acendiam uma a uma, como se o lugar ganhasse vida própria à medida que a noite se aproximava. E como sempre, sua inseparável amiga — e também prima — Ana Clara já a aguardava em frente à livraria, impaciente, balançando levemente a sacola que trazia na mão.
Elisa apressou o passo, sorrindo ao vê-la, e a cumprimentou com um abraço rápido e apertado.
— Desculpa a demora, prima — disse Elisa, ofegante. — O trânsito estava um caos.
— Relaxa, eu aproveitei pra ver umas vitrines — respondeu Ana Clara, sorrindo de canto.
Nesse instante, o celular de Elisa vibrou. Ela pediu licença e se afastou um pouco, atendendo.
— Oi, Mateus... — disse, ao reconhecer o número. Era seu irmão Mateus, com a voz carregada de preocupação do outro lado da linha.
— Está tudo bem com você? — ele perguntou. — Sinto muito por tudo que o Luiggi tem causado... isso tudo não era pra acontecer assim.
Elisa respirou fundo, apoiando-se na mureta de vidro do corredor do shopping, observando o movimento abaixo.
— Mateus... o Luiggi não tem culpa de nada, tá bom? — respondeu com firmeza. — eu tô bem. O que dói de verdade é a falta dos nossos pais. Isso sim... não tem dia que não machuque.
Do outro lado, o silêncio de Mateus foi pesado por alguns segundos.
— Eu entendo... — ele murmurou. — E você, como tá lidando com tudo?
— Eu já fiz a matrícula na faculdade — disse Elisa, tentando dar um tom mais leve. — Hoje vim comprar os materiais. Tenho planos, Mateus, Quero focar no futuro, fazer algo que eles se orgulhariam...
Ela falava com entusiasmo, mas então seu olhar foi puxado para um ponto específico à frente. Do outro lado do corredor, Ana Clara ainda observava as vitrines, distraída. E a poucos passos dela, um homem loiro, de estatura mediana, roupas escuras, andava muito próximo. Próximo demais.
Elisa estreitou os olhos, desconfiada. O homem parecia olhar para Ana Clara, mas em dado momento, virou o rosto em direção a ela.
Foi rápido — seus olhares se cruzaram. Elisa sentiu um calafrio percorrer a espinha.
— Mateus... — sussurrou. — Tem um homem estranho aqui. Loiro... ele tá perto da Ana Clara.
Ela discretamente virou a câmera do celular para mostrar a imagem.
— Você viu isso? — perguntou, voltando o rosto para o irmão.
— Sim — respondeu ele, com a voz já alerta. — Eu vi. Vou descobrir quem é esse homem.
— Ana! — chamou Elisa, com firmeza. A prima se virou e foi até ela.
— Que foi? Você tá branca, garota...
Elisa olhou novamente, mas o homem já não estava lá. Havia sumido como uma sombra, evaporado entre os corpos no corredor.
— Ele desapareceu... — disse, quase para si mesma.
Ana Clara arqueou as sobrancelhas.
— Vocês dois estão ficando loucos? Que homem?
— A tia Ema não te treinou pra saber quando estão te seguindo? — rebateu Elisa, ainda tensa.
Ana Clara revirou os olhos, como se aquilo fosse uma conversa repetida.
— Já falei mil vezes, Elisa... eu não quero me envolver com essa história de máfia. Eu quero fazer moda, não andar com arma. Deixo isso pro André.
— Mesmo sua mãe insistindo em te treinar?
— Sim! Ela insiste, mas eu não quero. E o André já disse que tô perdendo a chance de aprender a me defender. Mas eu não quero essa vida!
Do outro lado da linha, Mateus voltou à conversa:
— Mesmo sem trabalhar com a máfia, o perigo segue a gente só pelo sangue que corre nas nossas veias. Vou ligar pro tio Andrew e reforçar sua segurança.
— Não, Mateus! — protestou Ana Clara. — Eu já ando com quatro, cinco seguranças. Ele vai colocar cinquenta!
— E se colocar cem, não importa — respondeu Mateus, firme. — O que importa é você estar segura.
Elisa suspirou e olhou para Ana Clara.
— Eu treinei com a Luciana, minha cunhada. Aprendi muita coisa com a Ema também. Sabe o que acho? Que quem tá perdendo a oportunidade aqui é você.
Ana Clara cruzou os braços.
— Para, Elisa. Você tá me assustando já...
Elisa pousou a mão no ombro da prima e olhou nos olhos dela.
— É sério. Você precisa ficar com os olhos abertos. Aquele homem parecia ser perigoso
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Danielle Maria
autora volta aqui posta mas mas mas mas mas mas mas mas mas mas mas mas mas mas mas
2025-04-25
2
Sônia Ribeiro
Interessante 👀 estou gostando e já ansiosa para mais capítulos.🥰
2025-04-25
1
Susana Amor
aí meu Deus quem será 🤔++++++
2025-04-25
1