Entre risos e confissões

O jantar na mansão dos Blake seguia animado, embora ainda houvesse no ar a sombra do que Elisa carregava em silêncio. A comida, impecável como sempre, parecia quase um detalhe diante das conversas animadas à mesa. Ema, com sua elegância natural, coordenava tudo com maestria, enquanto Ana Clara enchia o ambiente com sua energia e sinceridade sem filtros.

Para quebrar o clima emocional que ainda pairava após o reencontro, Andrew, o tio sempre espirituoso, resolveu fazer uma de suas observações típicas:

— A última vez que alguém veio se refugiar aqui foi o seu irmão, Mateus… — começou ele, apoiando o garfo no prato e levantando as sobrancelhas em tom de provocação. — Ele veio só pra ver as obras do centro de treinamentos, e saiu daqui levando a Luciana de brinde. Quem sabe, Elisa, quando você voltar para a Itália, também não estará mais sozinha?

Ana Clara, que já estava de olho no pai, ergueu as mãos em indignação teatral.

— Muito engraçado, pai! Pra Elisa, o senhor quer logo arranjar um romance… Mas pra mim, coloca aqueles armários humanos pra me seguir até na padaria!

Andrew fechou a cara, cruzando os braços com firmeza.

— Ela não é minha filha.

Ana Clara deu uma volta rápida na cadeira e o encarou com o sorriso mais atrevido que tinha.

— Pois eu acho que preciso conversar com o tio Mateus e o tio Enrico… Quem sabe eles pensam diferente do senhor.

Ema, que assistia à pequena encenação com um sorriso contido, balançou a cabeça com leveza e interveio com sua voz doce, porém firme:

— Filha… o dia que você encontrar um pretendente, nem que eu tenha que prender esses dois homens — seu pai e seu irmão —, você vai viver esse amor. E digo mais: eu sou ótima em formar casais! Já juntei Luciana e Mateus, e ainda teve Ayla e Celso. Dois casamentos, um currículo de respeito, não acha?

Todos riram, menos Andrew, que ainda fingia estar emburrado. Ana Clara ergueu o queixo, orgulhosa da mãe, e Elisa finalmente soltou um suspiro leve, um quase sorriso. Ainda tímido, ainda pequeno, mas sincero.

— Eu agradeço, tia — disse Elisa, pousando os talheres e olhando para Ema com carinho. — Mas meu coração ainda está em pedaços. Depois de tudo com o Luiggi… eu não estou pronta pra amar ninguém.

Ana Clara ergueu a mão no ar como quem cancela um feitiço.

— Ai, ai, ai! Aqui está oficialmente proibido falar esse nome!

— Ana Clara… — murmurou Elisa, mas a prima foi categórica.

— Primo ou não, sobrinho ou não, ele fez a escolha dele, e você precisa se libertar disso. Deixa o Luiggi refazer a vida com a noiva dele. Você ainda vai encontrar alguém tão bonito quanto ele. Ou até mais bonito!

Andrew, que até então fingia estar calado, voltou a se manifestar, estreitando os olhos para a filha:

— Bonito? Que homem bonito é esse que você está pensando?

Antes que Ana Clara pudesse responder, a voz da Ema  surgiu do outro lado da mesa, rindo:

— Nem começa, Andrew…

Elisa riu junto, com uma leveza que não sentia há semanas. Por um instante, tudo parecia menos pesado. Aquela troca de provocações, os olhares cúmplices, os sorrisos sinceros… ela conhecia aquilo. Era família. E mesmo longe da Sicília, mesmo com o coração em cacos, ela estava em casa.

— Eu juro que parece reunião de família — disse, enxugando discretamente uma lágrima do canto do olho, que não era de tristeza, mas de gratidão.

Ema tocou sua mão por cima da mesa e sorriu.

— Porque é. E você vai ver, minha menina… aqui é o lugar onde você vai recomeçar.

Elisa se recostou na poltrona da sala, sentindo aos poucos o ambiente acolhedor daquela casa amenizar o peso da sua dor. Mas mesmo cercada por carinho, sua mente não parava. Havia responsabilidades, pendências e decisões a tomar.

— Eu quero recomeçar, tia — disse com firmeza, encarando Ema com sinceridade. — Preciso procurar uma faculdade para dar continuidade ao curso de Administração. Não posso simplesmente parar. Também quero ajudar com a empresa. Preciso falar com os meus irmãos, pedir que me enviem recursos. Eu tinha algo na conta, mas o inventário ainda está em andamento. Vivia com o que o papai me mandava todo mês… agora é tudo tão incerto.

Ela desviou o olhar, a emoção apertando o peito.

— Não sei se vou manter a casa dos meus pais. Nem o que fazer com minha parte da herança.

Ema caminhou até ela e se ajoelhou à sua frente, segurando suas mãos.

— Não se preocupe com as despesas. Aqui você será tratada como mais uma de nossos filhos. Mas tem algo que precisa fazer agora. Você tem que ligar para os seus irmãos. Não foi certo sair sem se despedir, mesmo que sua dor tenha te feito agir por impulso.

Elisa abaixou a cabeça.

— Eu sei. Só que se eu olhasse para eles, eu não conseguiria ir embora… — murmurou.

Ema se levantou e disse com naturalidade:

— Então aproveita que já estão na linha. Andrew está com eles agora, discutindo os próximos passos sobre a caçada ao traficante de mulheres. Ele e André vão para a Itália amanhã. Mas eles precisam ouvir a sua voz.

Elisa ficou surpresa, os olhos se arregalando.

— Agora? Eles estão…?

Antes que pudesse completar a frase, Andrew entrou na sala, com o celular na mão.

— Estão esperando você — disse, oferecendo o aparelho.

Ela pegou com certa hesitação. Respirou fundo antes de levar o telefone ao ouvido.

— Alô?

Do outro lado, o silêncio foi breve, logo rompido pela voz de Mateus:

— Elisa? Graças a Deus!

E logo em seguida, a voz firme e emocionada de Enrico:

— Por que você saiu assim? Sem falar nada?

Ela engoliu em seco.

— Me desculpem. Eu só… eu precisava ir. Não consegui ficar. Ver o Luiggi com outra foi demais. E aquela casa, sem o papa e a mama… — sua voz falhou, e ela respirou fundo. — Estou nos Estados Unidos. Com a tia Ema e o tio Andrew. Só preciso de um tempo pra recomeçar.

Do outro lado, silêncio. Até que Andrew, ainda na linha, interveio com seu tom prático:

— Os dois ficaram aflitos, Elisa. Mas entenderam. Estão preocupados com você e querem que você saiba que tem o apoio deles, esteja onde estiver. E quanto a nós, partimos amanhã. Assim que resolvermos essa missão, vamos garantir que sua segurança e sua paz estejam intactas.

— Obrigada, tio… — murmurou, emocionada. — E me perdoem, Mateus, Enrico. Eu amo vocês. Só não sabia como dizer adeus.

— Não precisa pedir perdão — respondeu Enrico, com um suspiro. — A gente só quer que você esteja bem. Recomece aí, com calma. E nos mantenha informados.

Ela desligou com um nó na garganta, mas aliviada.

Ao devolver o telefone, Ema puxou-a para um abraço apertado. Andrew permaneceu calado, mas havia orgulho em seus olhos.

Elisa sorriu. Pela primeira vez, sentia que o recomeço era possível.

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Comments

Susana Amor

Susana Amor

ela vai encontrar seu verdadeiro amor 😍, tenho certeza 😍

2025-04-25

2

Claudia Gonçalves

Claudia Gonçalves

só não demora pra postar por favorzinho autora

2025-04-24

1

Dulce Gama

Dulce Gama

tomara que esse novo amor não demore muito pra aparecer está história está linda maravilhosa só que estou ficando nervosa 😞👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁🌟🌟🌟🌟🌟

2025-04-26

1

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