Novos Céus, Velhas Feridas

O jatinho particular da LME cruzava os céus da Sicília como uma flecha silenciosa, deixando para trás não apenas uma terra marcada por memórias, mas também o coração despedaçado de Elisa Castellazzo Ferrari. Ela estava sentada à janela, os olhos fechados, tentando encontrar algum tipo de alívio no som constante dos motores. Cada quilômetro a afastava do lugar onde viu o amor da sua vida, Luiggi, se ajoelhar diante de outra mulher. Aquela cena era a última estocada de uma dor que já vinha crescendo desde a morte dos pais.

Elisa não se despediu de ninguém. Apenas Carla, sua sobrinha e confidente, viu quando ela saiu da casa de Mateus, com a mala de rodinhas e o olhar firme — embora seus olhos escondessem um vendaval. No caminho até o jatinho, Carla não fez perguntas. Sabia que a dor não cabia em palavras. Antes de embarcar, Elisa olhou uma última vez para o céu da Sicília e sussurrou para si mesma:

— Eu deixo aqui tudo. A lembrança dos meus pais… e o amor que me destruiu.

Horas depois, o jatinho pousava suavemente em solo americano. Elisa abriu os olhos com a sensação de que acordava de um sonho doloroso — ou de um pesadelo. Lá, aguardando-a como uma fortaleza viva, estava Ema Castellazzo Blake, a mulher que sempre foi mais do que uma tia. Elegante, imponente, e com a ternura escondida sob a força que a vida exigiu dela. Ao seu lado, com as mãos nos bolsos e um leve sorriso nos lábios, Andrew Blake observava com calma. Homens de preto cercavam o local, atentos, mas o olhar do casal era puro acolhimento.

Assim que desceu, Elisa foi imediatamente envolvida por Ema num abraço longo, silencioso e necessário. As lágrimas brotaram antes que pudesse resistir.

— Eu entendo, minha menina… — murmurou Ema, afagando os cabelos da sobrinha com carinho. — Talvez não toda a dor… mas parte dela, sim.

Andrew se aproximou e a abraçou com firmeza.

— Essa casa vai ficar ainda mais bonita agora que temos mais uma mulher linda por aqui — disse com seu bom humor afiado. — Você está em casa, Elisa.

O carro os levou até a mansão dos Blake. Elisa manteve os olhos na janela, como se absorver a paisagem fosse mais fácil do que encarar a própria tristeza. A cidade americana se abria à sua frente como uma promessa — mas ela ainda não conseguia acreditar nela.

Assim que a porta da mansão se abriu, passos apressados ecoaram pelo saguão. Ana Clara surgiu correndo, os cabelos castanhos esvoaçantes, os olhos brilhando ao ver a prima.

— Finalmente! Agora eu tenho uma amiga de verdade! — disse, abraçando Elisa com força. — Meu pai e o André não me deixam sair sem quatro ou cinco armários me seguindo!

Elisa soltou um risinho fraco, quase sem força, mas sincero.

— Sei como é… meu pai era igualzinho.

Ema se aproximou com passos suaves, os olhos já marejados. Passou um braço ao redor de Elisa e falou com a voz embargada:

— Nenhum desses homens da nossa família se comparava ao meu pai, Mateo Castellazzo… ele era feito de outra fibra. Confiava em mim como poucos. Dizia que eu era a minha própria segurança, que eu valia mais sozinha do que quatro ou cinco soldados armados.

Fez uma pausa, olhando nos olhos da sobrinha, e a puxou para mais perto.

— Eu sei exatamente o que você está sentindo, meu amor. Quando perdi seus pais… meu mundo também desabou. Acordei no dia seguinte à minha festa de aniversário e recebi a notícia… Foi como se uma faca tivesse atravessado meu peito. Desde então, nunca mais tive uma comemoração que não viesse com dor.

Elisa segurou as mãos da tia, sentindo o peso da dor compartilhada.

Ema enxugou os olhos e disse com firmeza:

— A dor não vai desaparecer, Elisa. Ela vai continuar aí, mas vai mudar. Você vai aprender a carregar. Vai aprender a viver apesar dela. E agora… agora sou eu que vou cuidar de você. Sua mãe foi como uma segunda mãe pra mim. Quando entrei nessa família, os meus irmãos já estavam crescidos. Mas Isabela… ela me acolheu como filha. E ajudou a mama me criar.

Acariciou o rosto de Elisa e sorriu com ternura.

— E agora, chegou a minha hora de te acolher. De ser o que você mais precisa: uma mãe, no meio desse caos.

Elisa chorou de novo, mas não apenas por dor. Chorou porque, mesmo ferida, ela ainda tinha onde se apoiar. E naquele instante, mesmo que por um breve momento, ela acreditou: talvez… talvez fosse mesmo possível recomeçar.

Mais populares

Comments

claudia da silva

claudia da silva

Sinto dó dela pela perda dos pais, mas pela perda do amor não. Ela fez tudo pra isso.

2025-04-30

0

claudia da silva

claudia da silva

Até pq Elisa nunca amou o Luigi.

2025-04-30

0

Dulce Gama

Dulce Gama

tadinha estou com dó dessa garota que o grande amor de sua vida vai correr atrás tomara que ela dê uma guinada na vida dela e encontre um novo amor 🌟🌟🌟🌟🌟🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹❤️❤️❤️❤️❤️👍👍👍👍👍

2025-04-26

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!