Era um sábado de sol forte, e a cidade parecia mais tranquila do que o habitual. As ruas estavam menos movimentadas, e o comércio parecia mais calmo. Clara estava de folga, algo que ela não sabia como lidar. Ela se acostumara tanto com o ritmo constante do bistrô, com a rotina das semanas que passavam rapidamente, que ficar em casa sem nada para fazer a fazia se sentir desconectada do mundo.
Ela pensou em ir até o mercado, talvez comprar algo para testar uma nova receita, mas não estava inspirada. Então, sem ter muito o que fazer, decidiu sair para caminhar. A cidade tinha um charme peculiar aos sábados, quando as pessoas estavam mais relaxadas e o barulho habitual da semana se dissipava.
Ela se perdeu nos próprios pensamentos, caminhando sem pressa pelas ruas tranquilas. A sensação de liberdade era algo raro para ela, e ela não sabia bem como lidar com isso. Ainda estava pensando sobre o encontro da última quarta-feira, sobre o olhar de Miguel e a maneira como ele a fazia sentir algo, mesmo sem dizer muito.
E foi então que ela o viu. Miguel estava parado do outro lado da rua, aparentemente à espera de algo ou alguém, com a expressão séria de sempre. Ele parecia um pouco fora de lugar, talvez porque nunca o tivesse visto tão longe do bistrô. Clara hesitou por um momento, pensando se deveria se aproximar ou não. Eles nunca haviam conversado fora daquele ambiente, e ela não sabia o que dizer.
Mas, antes que pudesse tomar uma decisão, Miguel a viu. Ele fez um leve gesto com a cabeça, reconhecendo-a, e começou a atravessar a rua com aquele passo calmo e tranquilo que ela já conhecia.
— Clara? — ele perguntou, a voz suave, mas com um toque de surpresa. — Não sabia que você estava por aqui.
Clara sorriu, meio sem jeito, tentando esconder a surpresa de vê-lo fora do bistrô.
— Eu... estava só passeando. — Ela deu de ombros, sem saber como explicar sua presença ali. — Estava de folga hoje.
Miguel fez uma leve careta, como se refletisse por um momento. Ele parecia um pouco mais relaxado fora do ambiente habitual, sem o peso da seriedade que ela associava ao bistrô.
— Folga, hein? — ele comentou, com uma ponta de humor na voz. — Isso deve ser bom.
Clara apenas concordou, sem saber muito o que falar depois disso. O silêncio se arrastou por um momento, mas foi quebrado quando Miguel falou de novo.
— Eu ia dar uma volta, aliás. — Ele indicou a praça ao longe, como se convidasse ela a caminhar com ele. — Não está tão quente hoje, acho que é um bom dia para estar fora de casa.
Clara hesitou por um momento. Ela não costumava sair com alguém que conhecia tão pouco, mas havia algo no jeito dele que a fazia se sentir à vontade. Algo gentil, sem pressa. Sem pressões. E ela não sabia, mas a curiosidade estava começando a crescer dentro dela.
— Talvez eu vá também, então. — Ela disse, com um sorriso tímido. — Só por um tempo, nada muito longo.
Eles caminharam juntos, sem pressa, apenas aproveitando o ar fresco da cidade. A conversa foi leve no começo, como se ambos estivessem testando os limites do que poderiam falar. Clara não sabia muito sobre Miguel, mas ele parecia genuíno, mais do que o homem que a observava silenciosamente todas as quartas-feiras.
Miguel falava sobre suas atividades diárias, algumas coisas triviais, e Clara notava que ele tinha um jeito mais relaxado agora, sem a rigidez que ela via no bistrô. Ele parecia mais... normal, por assim dizer. Um homem simples, com um estilo de vida simples, que não fazia questão de impressionar.
Eles passaram pela praça, onde algumas famílias aproveitavam o dia de descanso, e a conversa foi ficando mais confortável. Clara começou a falar um pouco mais sobre si mesma, sobre o que a fazia feliz, e sobre o sonho de ser uma grande cozinheira. Ela falou sobre as dificuldades que encontrava, as frustrações de ver seu trabalho invisível para muitos, enquanto os outros apenas desfrutavam da comida que ela preparava.
Miguel ouviu atentamente, e ela percebeu que ele não estava apenas ouvindo por educação. Ele estava interessado, fazendo perguntas, parecendo genuinamente curioso.
— Eu entendo isso. — Miguel disse, com um sorriso tranquilo. — É fácil esquecer o trabalho de quem está por trás das coisas que consumimos. Acho que muita gente não percebe o esforço que envolve preparar algo bem-feito.
Clara sorriu de volta, sentindo uma leve sensação de reconhecimento. Ela não costumava falar tanto sobre seus sentimentos com outras pessoas, mas havia algo na maneira como ele a escutava que a fazia se sentir confortável.
Quando chegaram ao final da praça, Clara olhou para o relógio. Ela sabia que o dia estava passando rapidamente, e já começava a se perguntar se ela deveria voltar para casa. Miguel, como se percebesse seus pensamentos, virou-se para ela com um leve sorriso.
— Então, o que acha de irmos pegar algo para beber? — ele sugeriu. — Algo refrescante para terminar o dia.
Clara pensou por um momento. Ela não queria encerrar a conversa tão cedo. Além disso, já estava começando a se sentir à vontade com ele, mais do que imaginava.
— Pode ser. — Ela aceitou, sorrindo. — Mas depois eu preciso ir. Não sei se posso ficar muito mais tempo.
Miguel apenas assentiu, e eles seguiram para um pequeno café no canto da praça. O local tinha uma atmosfera tranquila, e era o tipo de lugar onde as pessoas pareciam querer relaxar por horas, sem pressa.
Enquanto tomavam suas bebidas, a conversa continuou. E foi então que Clara percebeu algo. Algo que ela não tinha percebido até aquele momento. Miguel estava, na verdade, muito mais interessante do que ela pensava. Ele não era apenas o homem sério e reservado que vinha todas as quartas-feiras ao bistrô. Ele tinha uma profundidade, uma história, e ela queria saber mais.
Quando o sol começou a se pôr, Clara se levantou, sentindo que já era hora de voltar para casa.
— Acho que vou indo agora... — ela disse, com um sorriso gentil. — Não sei se vou conseguir ficar mais tempo hoje.
Miguel a olhou, como se refletisse por um momento. Então, com um sorriso sutil, ele falou:
— Que pena... Mas, quem sabe, posso começar a vir mais vezes. No bistrô, claro.
Clara o olhou, surpresa. Ela não esperava ouvir aquilo.
— Talvez seja uma boa ideia — disse ela, com um sorriso tímido. — Vai ser bom te ver por lá novamente.
Eles se despediram com um aceno, e Clara se afastou, com o coração um pouco mais leve do que quando havia saído de casa. Ela sabia que aquele dia seria uma lembrança boa — um pequeno passo para algo mais. Algo que ela não sabia o que era ainda, mas estava começando a gostar da ideia.
Quando se afastou, ainda podia sentir a presença de Miguel ao seu lado, mesmo que ele já estivesse longe. A sensação de que algo estava começando a mudar, de que talvez aquele encontro fosse apenas o início de algo mais profundo, mais real.
E talvez, só talvez, ela estava começando a perceber o que esse "algo mais" poderia ser.
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Atualizado até capítulo 34
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