Capítulo – Quando as Horas Mudam de Ritmo
Isabela fez treze anos no começo do outono. Já não usava mais as tiaras coloridas de antes e começava a se importar com o jeito que as roupas caíam no corpo. Ganhou um celular simples de presente e passou a ouvir músicas com fones de ouvido, cantarolando refrões que falavam de amor como se já entendesse tudo.
Pietra, com seus dez anos recém-feitos, ainda gostava de pular na cama, desenhar nas bordas dos cadernos e inventar histórias com as canetas coloridas que Isabela lhe dava.
— Você tá diferente — comentou Pietra um dia, enquanto esperavam a pizza chegar.
— Crescendo, talvez — respondeu Isabela, com um meio sorriso.
Pietra achava estranho. Não ruim. Só estranho. Como se Isabela estivesse indo pra um lugar novo e deixando um pouco dela pra trás. E esse pouco era justo o que Pietra mais amava.
Na escola, Isabela agora sentava na fileira do fundo. Fazia piadas com os meninos, batia figurinhas, e mesmo sem perceber, parecia sempre mais distante. Pietra observava tudo com olhos atentos — e um aperto novo no peito, ainda sem nome.
Na volta pra casa, às vezes andavam de mãos dadas, mas outras vezes, Isabela parecia esquecer. Ou apenas não lembrar de oferecer. E Pietra… não tinha coragem de pedir.
Numa sexta-feira chuvosa, enquanto esperavam a mãe de Isabela buscá-las na escola, ficaram sentadas no banco debaixo da marquise. O barulho da chuva fazia o mundo parecer menor. Mais íntimo.
— Você vai esquecer de mim quando entrar no nono ano? — perguntou Pietra, encarando os cadarços do próprio tênis.
Isabela franziu o cenho.
— Por que eu faria isso?
— Sei lá. Você tem outras amigas agora. Fala de outras coisas. Eu ainda quero brincar de casinha às vezes…
Isabela pensou por um instante, depois puxou a mão de Pietra e entrelaçou os dedos.
— Eu só tô aprendendo coisas novas. Mas não esqueço das antigas. E você é a melhor parte das antigas.
Pietra mordeu o lábio pra não chorar. Aquela resposta tinha gosto de alívio e de medo misturado. Como se amar alguém fosse também aprender a não saber de tudo.
— Você ainda escreveria num caderno de segredos comigo? — ela perguntou baixinho.
— Eu nunca parei.
E ali, entre a chuva, o barulho do carro chegando e o silêncio cheio de sentimento, Pietra percebeu que as pessoas crescem em ritmos diferentes. Mas quem se ama de verdade… encontra um jeito de caminhar junto.
Mesmo quando o passo não é o mesmo pietra estava triste mas tambem estava feliz porque sua amiga estava ali.
noutro dia
quando Pietra notou. Primeiro foram as risadinhas nos corredores. Depois, os bilhetes dobrados passados na ponta dos dedos. E por fim, a frase que fez tudo se encaixar como uma peça fora do lugar:
— O Henrique é engraçado, né? — comentou Isabela, com um brilho diferente no olhar.
Pietra travou no meio do lanche.
— Ah… é — disse, fingindo dar mais atenção ao biscoito do que à dor que começava a surgir.
A partir dali, os sinais só aumentaram. Isabela falava dele no intervalo. Ria das piadas dele na aula de ciências. E, um dia, Pietra viu com os próprios olhos: um bilhetinho nas mãos de Isabela, com uma letra torta de menino e um coração desenhado no final.
Isabela estava gostando de um garoto.
Pietra não sabia o que sentir. Era ciúmes? Tristeza? Raiva? Um aperto tão fundo que nem parecia dela?
Naquela noite, deitou cedo, abraçada no travesseiro. Pensou em tudo. Nos segredos escrivinhados no caderno de glitter, nos filmes assistidos debaixo do edredom, nos dois selinhos — e agora, no Henrique.
No dia seguinte, na aula de artes, Isabela parecia aérea. Desenhava corações distraída, cantarolando baixinho. Pietra, sentada ao lado, rabiscava sombras com lápis preto.
— Tá tudo bem? — Isabela perguntou.
Pietra hesitou. Olhou pra amiga. Pensou em mentir. Mas não conseguiu.
— Não sei. Acho que não.
Isabela franziu o cenho.
— É por causa do Henrique?
Silêncio.
— Você não gosta dele? — insistiu ela, com cuidado.
— Não é isso — respondeu Pietra. — É que... eu achava que você nunca fosse se afastar de mim.
O mundo ficou mudo por um segundo. Isabela abaixou os olhos. Ficou ali, mexendo na pulseira do braço, até finalmente dizer:
— Eu nwo vou me afastar de você porque vc é mnh amiga mas estou gostando do henrique fortemente
Pietra sentiu como se tivesse levado um tombo por dentro. Um silêncio apertado tomou conta do corpo.
— Tudo bem — ela mentiu.
Mas não estava.
Na saída, caminhou sozinha até o portão. O vento bagunçava os cabelos e o coração também.
Porque, às vezes, a gente ama alguém que está aprendendo a amar de um jeito diferente. E isso dói. Mesmo que ninguém tenha culpa.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Maria Andrade
tadinha dela tá com ciúmes
2025-05-06
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