Lorenzo e Eduardo- a voz lilás

Eduardo

Estava com o celular encostado no queixo quando o nome “Desconhecido” apareceu na tela. Não era comum ligações naquele horário. Ainda mais de um número assim. Atendi do mesmo jeito, por impulso. O cheiro de café requentado enchia o apartamento.

— Alô?

— Senhor Eduardo? Aqui é Fernanda, da agência Lilás & Moda. Recebemos o portfólio que enviaram ontem. E... gostamos muito do que vimos.

Sorri com o canto da boca. Meu peito inflou como se tivesse vencido uma corrida que só eu sabia que estava correndo.

— Isso é ótimo de ouvir — respondi, controlando o entusiasmo. — Estamos disponíveis.

— Perfeito. Queremos marcar uma reunião ainda hoje, às quatro da tarde. É um contrato de cinco meses. O pagamento será adiantado. E vocês podem trazer o próprio equipamento, se preferirem.

Cinco meses. Cinco meses perto dela.

— Estaremos lá. Obrigado, Fernanda.

Ela desligou. Não citou nomes além do meu. E ainda assim, eu soube. Só pelo nome da agência. Lilás. Lilás & Moda. Como esquecer?

Joyce.

Olhei para o corredor e ouvi passos. Ele vinha vindo, distraído, pegando o módulo da câmera que sempre deixava por ali. O sorriso se armou sozinho no meu rosto.

Hoje é o dia, meu irmão. Hoje você reencontra ela... mesmo que ainda não saiba disso.

Lorenzo

— O que foi? — perguntei, ajeitando a alça da mochila no ombro.

Eduardo me encarava como quem segurava um segredo do tamanho do mundo.

— Conseguimos — disse ele, quase sem respirar. — Lilás & Moda. Eles amaram nosso portfólio. Querem fechar com a gente. Cinco meses. Começando hoje. Quatro da tarde.

Levei um segundo pra entender. Outro segundo pra acreditar. Depois disso, a euforia veio quente.

— Cinco meses? De contrato? Aqui mesmo no Jardim?

— Aqui mesmo. Eles têm estúdio próprio, mas querem nossa pegada autoral. E a gente leva o equipamento que quiser.

Nem hesitei. Fui direto pro canto onde guardo as lentes. Se é pra começar grande, quero começar com as minhas lentes. As que conhecem minhas mãos. As que entendem a minha luz.

Enquanto encaixava as peças na maleta, ouvi Eduardo rindo baixo.

— O que foi agora?

— Só tô feliz, cara. Vai ser bom. A gente tava precisando disso.

Eu não respondi. Mas sorri também. Era bom demais mesmo. Como se, finalmente, o mundo tivesse lembrado da gente.

Nos arrumamos. Paletó simples, gravata sem nó apertado. A formalidade necessária pra parecer que sabíamos o que estávamos fazendo. E saímos.

Eduardo

O carro ia silencioso, cortando o Jardim como uma flecha em linha reta. Do lado de fora, tudo parecia igual. Mas eu sabia que, ao virar aquela esquina, nada mais seria o mesmo.

Ele não sabia.

Ele não fazia ideia de quem estava prestes a reencontrar.

Mas eu sabia.

E torcia, do fundo do peito, pra que ela estivesse pronta pra vê-lo.

E que ele... ainda estivesse pronto pra vê-la.

Lorenzo

O prédio era moderno. Vidros limpos refletindo o céu nublado. Um letreiro elegante anunciava: Lilás & Moda.

Havia algo naquele nome que me inquietava. Mas não dei voz à dúvida.

A recepcionista nem olhou muito. Só acenou com a cabeça quando dissemos que éramos os fotógrafos do portfólio de ontem. Eduardo agradeceu com naturalidade.

Como se já soubesse o caminho.

Atravessamos os corredores. O cheiro de lavanda era sutil, mas estava lá, como uma lembrança antiga querendo despertar. O som dos nossos passos contra o piso encerado. As portas de vidro fosco, os quadros de editoriais nas paredes.

— Aqui — disse Eduardo, parando diante de uma porta branca com maçaneta prateada. — É onde tudo começa.

Ele bateu uma vez. Depois, respirou fundo.

Eduardo

Talvez o reencontro não fosse agora. Talvez fosse só o primeiro passo. Mas eu fiz o que pude.

Trouxe ele até aqui.

E agora... era com o destino.

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